O Grande ABC ainda não conseguiu estancar a perda de empregos industriais com carteira assinada, espécie de sinalizador da estabilização da atividade que mais fortemente influencia a economia regional. Balanço dos últimos 12 meses entre abril do ano passado e abril deste ano, com dados oficiais do Ministério do Trabalho, aponta perda de 3.426 postos industriais na região, o que equivale a mais de uma fábrica da Bridgestone/Firestone de Santo André.
A contabilidade transforma em vermelho o que excepcionalmente vinha sendo tingido de azul, já que nos 24 meses anteriores, entre abril de 1999 e abril de 2001, o Ministério do Trabalho registrou saldo positivo de 3.014 empregos industriais. O comportamento se justifica porque no período de abril de 1999 a abril de 2001 a indústria de transformação, como outras atividades econômicas, foi favorecida pela desvalorização do real frente ao dólar e o PIB (Produto Interno Bruto, soma de produtos e serviços) conseguiu sair da quase estagnação em 1999 (0,81%) para crescimento (4,36%) no ano 2000.
A queda do emprego industrial entre abril do ano passado e abril deste ano frustrou a expectativa de que o Grande ABC pudesse recuperar sistemicamente postos de trabalho no novo milênio, depois de acusar perda líquida de 100 mil carteiras assinadas entre 1990 e 2000 só na indústria de transformação. Dependente em larga escala dos setores automotivo e químico-petroquímico, a indústria do Grande ABC não consegue desvencilhar-se do fantasma da reestruturação tecnológica e também da evasão em direção, principalmente, ao Interior paulista.
Os abalos macroeconômicos provocados pelo atentado terrorista de 11 de setembro nos Estados Unidos, a crise de energia elétrica e a turbulência na Argentina afetaram a economia brasileira e acrescentaram mais problemas aos tipicamente regionais, sacudidos com as limitações de produção de matéria-prima do Pólo Petroquímico de Capuava e com a redução de vendas no mercado automobilístico. No ano passado o PIB nacional cresceu apenas 1,51%, mesmo assim fortemente influenciado pelo agronegócio.
Um balanço dos últimos 36 meses, sempre de abril a abril, mostra que o figurino do emprego no Grande ABC obedece modelito dietético em matéria de massa salarial. No período, o saldo negativo de 412 empregos industriais formais foi largamente compensado apenas em quantidade pela contratação de 33.435 trabalhadores nos setores de comércio e serviços. Como se sabe, os postos de trabalho do terciário de pouco valor agregado que caracteriza o Grande ABC oferecem remuneração muito inferior à média do setor industrial. Também por força da macroeconomia, o ritmo de novos empregos formais no terciário caiu entre abril do ano passado e abril deste ano, com saldo positivo de 8.547, contra média de 13,6 mil postos de trabalho criados entre abril de 1999 a abril de 2001.
Estoque negativo -- Para que o Grande ABC possa pelo menos equilibrar o jogo em relação à População Economicamente Ativa que anualmente ingressa no mercado de trabalho, seriam necessárias 31 mil novas vagas por ano. Isso significa que, se o saldo positivo de empregos criados nos últimos 36 meses vencidos em abril alcançou 35 mil postos, há diferença negativa de 57,1 mil empregos.
Não é difícil, por isso, entender por que só na Central de Trabalho e Renda, agência não-governamental de seleção e colocação profissional com sede em Santo André, há 260 mil pessoas cadastradas à espera de vaga na indústria, no comércio ou no setor de serviços. Afinal, aos 57,1 mil novos trabalhadores que integram suplementarmente o potencial de força de trabalho nos 36 meses completados em abril último, juntam-se os que ingressaram anteriormente, durante os anos 90, e os milhares de desempregados do setor industrial. É por isso que mais e mais o emprego informal e os pequenos negócios proliferam na região.
Proporcionalmente à população, São Caetano é o Município do Grande ABC que mais gerou empregos nos três anos encerrados em abril último. Foram saldos de 44 vagas no setor industrial, 805 no comercial e 8.132 em serviços. Com a incorporação de outras atividades, como construção civil, serviços de utilidade pública, administração pública, entre várias, São Caetano totaliza saldo positivo de 9.144 vagas. Em números absolutos só perde para São Bernardo, que contabiliza saldo de 3.395 empregos formais no setor de comércio e 7.502 no de serviços, embora tenha perdido 3.115 na indústria. Contando-se todos os setores, são Bernardo soma 10.428 novas vagas.
Santo André teve comportamento estável em emprego formal no período, porque registrou 607 novos postos industriais, 2.702 no comércio e 3.899 em serviços. Agregando outras atividades, totalizou saldo de 7.713. Mauá, que vem reagindo no setor industrial com a chegada de novas empresas, registrou em três anos 615 empregos industriais com carteira assinada, 1.780 da área comercial e 2.720 em serviços. Diadema igualmente registrou crescimento de emprego: 1.564 na indústria, 1.906 no comércio e 2.488 em serviços. O saldo de Ribeirão Pires também foi positivo: teve perda de 127 empregos industriais, mas ganhou 14 empregos comerciais e 276 nos serviços entre abril de 1999 e abril de 2002.
Metodologia -- Os dados do Ministério do Trabalho e Emprego diferenciam-se largamente da PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego) realizada pela Fundação Seade (Sistema Estadual de Análises de Dados), Dieese (Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas) e Consórcio Intermunicipal do Grande ABC. Enquanto o MTE considera apenas o mercado formal de trabalho, a PED rastreia o universo de ocupados por meio de amostragem média em 650 domicílios por mês. O conceito de amostragem da PED é de ocupação remunerada nos sete dias anteriores à entrevista, exceto em situação de excepcionalidade.
Tanta disparidade de metodologia só poderia mesmo resultar em diferenças significativas. Basta a comparação do setor industrial do Grande ABC: enquanto os empregos formais, contabilizados pelo Ministério do Trabalho, registraram perda de 3.014 postos entre abril do ano passado e abril deste ano, a PED contou 20 mil. Outra comparação: pelo MTE, os empregos formais de comércio e serviços foram reforçados com 33.435 trabalhadores entre abril de 1999 e abril de 2002, enquanto que em período mais breve, de abril do ano passado a abril deste ano, a PED anotou 23 mil novos empregos.
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