Esqueça muita coisa sobre o que você tenha lido nos principais jornais e revistas do País, assistido nas grandes emissoras ou escutado de algum representante do Poder Público sobre as potencialidades turísticas do Grande ABC. Apesar de a região promover debates e eventos específicos para o setor, nada de concreto foi feito. O 1º Seminário Sobre Desenvolvimento do Turismo no Grande ABC é a mais nova tentativa de empresários regionais colocarem em prática um pouco da retórica apregoada por entidades e autoridades municipais e estaduais.
Parece que o primeiro passo foi dado pelos mais interessados no assunto ao admitirem que a falta de estrutura é bem maior do que se imagina para alavancar o setor na região. Participantes do evento na sede do Sehal (Sindicato das Empresas de Hospedagem e Alimentação do Grande ABC) chegaram à conclusão de que a vontade de atrair a atenção do Poder Público e de investidores ainda não saiu do papel. "Até agora foi muito teórico e nada prático" -- afirmou o diretor do Sehal, David Gomes de Souza.
Com isso, representantes de universidades, hotéis, restaurantes e entidades ligadas ao turismo formaram grupo de trabalho encarregado de tentar abrir os olhos de administradores públicos sobre o assunto. Com exceção de Ribeirão Pires, que conquistou o status de estância turística em 1998, as demais cidades da região não têm conselhos municipais de turismo. "Precisamos criar um plano regional integrado. A idéia é que o Grande ABC seja unido e não ocorram apenas ações dispersas" -- almeja David Gomes de Souza. Ribeirão Pires já conta com Plano de Desenvolvimento do Turismo, programa elaborado pelo Comtur (Conselho Municipal de Turismo) em parceria com o Sebrae. Em busca de estar explorando plenamente o potencial turístico num prazo de 15 anos, o Município desenvolve workshops e eventos de conscientização nos bairros e programas de qualificação e excelência no atendimento turístico.
Não faltam números para mostrar que a movimentação do setor no Grande ABC ainda está na estaca zero. Dados divulgados pelo Sehal indicam que quase 300 novos formandos em turismo em universidades da região estarão à caça de trabalho no final deste ano. "O mercado ainda não suporta tanto profissional. Por isso, os alunos vão procurar emprego em cidades do Interior e perdemos nossos especialistas em turismo" -- lamenta o diretor do Sehal.
As contradições também são evidentes em espaços que poderiam ser grandes chamarizes de turistas. Um dos exemplos clássicos é a Represa Billings. Com volume de água que ultrapassa 1,3 milhão de metros cúbicos e responsável pelo abastecimento de 6,5% da Região Metropolitana de São Paulo, o reservatório tem capacidade para desenvolver o turismo de lazer e náutico em potencial. Mas a represa sofre com o contraponto da ocupação desordenada, desmatamento, destruição das nascentes e recebimento de esgotos sem tratamento. "Infelizmente a população ainda não tem a cultura do turismo, como acontece em outras regiões do País. Esse é um grande obstáculo a ser superado" -- comenta David Gomes de Souza. Inúmeros equipamentos públicos poderiam ajudar a empurrar o setor, mas estão pouco conservados ou com planos limitados de recursos, como é o caso da Nova Vera Cruz, Cidade da Criança, Parque do Pedroso e Vila de Paranapiacaba, Riacho Grande e Eldorado.
Estado -- Se na própria região são encontradas dificuldades, o que dizer do apoio do governo estadual, que também precisa dar atenção a outros 647 municípios, dos quais 62 estâncias turísticas? Um exemplo simples mostra o tamanho do problema. Apesar de poucos, o Grande ABC não conta com nenhum evento no calendário turístico oficial do Estado, considerado fundamental para divulgar a região.
"O Município precisa comprovar que o evento ocorreu pela terceira vez consecutiva" -- explicou a coordenadora de turismo da Secretaria de Ciências, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo do Estado, Sônia Maria Belardinucci. A única verba anual liberada pelo Estado é proveniente do Dade (Departamento de Apoio ao Desenvolvimento das Estâncias). Isso significa que apenas Ribeirão Pires tem algum suporte financeiro para as empreitadas.
Enquanto o Grande ABC projeta iniciativas para alavancar o setor, outros municípios próximos tornam o turismo de negócios uma realidade. Guarulhos vai receber o complexo de eventos Fiera Milano. Localizado próximo ao Aeroporto de Cumbica, a primeira fase promete ficar pronta em dois anos e terá capacidade para realizar até 12 feiras e exposições simultâneas. Já o Parque Anhembi, na Capital, além de reformado passará a contar com o Holiday Inn, hotel anexo que está sendo lançado pela Âlcantara Machado para ocupar esqueleto que ficou 30 anos inutilizado.
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