Economia

Tombo de 34%
desde 94

DANIEL LIMA - 05/10/2002

Estudo inédito da Editora Livre Mercado e da newsletter Capital Social chegou ao tamanho das perdas de produção de riqueza do Grande ABC durante o Plano Real, entre junho de 1994 e dezembro do ano passado: os sete municípios locais perderam em conjunto 34% de Valor Adicionado, indicador econômico que baliza fortemente a distribuição de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e que pode ser definido como espécie de PIB (Produto Interno Bruto). No ano em que foi implantado o Plano Real, o Grande ABC gerou R$ 37,552 bilhões de Valor Adicionado, contra apenas R$ 25,087 bilhões no ano passado. Os valores de 1994 foram atualizados pelo IGP-M do período, de 134,34%. 

O resultado confirma o histórico editorial de LivreMercado de alerta sobre o gradual e sistemático desfalque econômico associado à exclusão social. Movido à indústria automotiva, setor mais competitivo do mundo, o Grande ABC sofreu as consequências da desmedida abertura econômica e também da sobrevalorização cambial que marcou o real durante mais de quatro anos. Também ajuda a explicar a queda da região a descentralização produtiva do setor automotivo, com implantação de novas fábricas em diferentes Estados brasileiros. 

A queda significa que para cada R$ 100 que eram gerados na economia regional -- sobretudo a reboque de veículos, já que o setor representa 70% PIB local --, apenas R$ 66 continuam sendo produzidos em forma de transformação de produtos. O conceito de Valor Adicionado é resumidamente a transformação de matéria-prima em produto acabado. A diferença da transformação de insumos em produtos, incluindo salários e serviços industriais, é a essência de Valor Adicionado.   

Todos os municípios da região foram atingidos pela perda de produção de riqueza no período do Plano Real encerrado -- para efeito de estudos -- em dezembro do ano passado. Os R$ 12,465 bilhões de diferença negativa e que são semelhantes ao Valor Adicionado acumulado por São José dos Campos no ano passado estão distribuídos da seguinte forma: São Bernardo caiu de R$ 17,167 bilhões em 1994 para R$ 10,722 bilhões, São Caetano de R$ 5,003 bilhões para R$ 2,620 bilhões, Mauá de R$ 5,122 bilhões para R$ 3,552 bilhões, Diadema de R$ 3,979 bilhões para R$ 3,637 bilhões, Santo André de R$ 5,401 bilhões para R$ 4,173 bilhões, Ribeirão Pires de R$ 809 milhões para R$ 346 milhões e Rio Grande da Serra, de R$ 71 milhões para R$ 37 milhões. 


Só região perde -- A agudeza do declínio de geração de riqueza é específica do Grande ABC no território paulista, exatamente porque está vulnerável demais ao depender de apenas uma matriz econômica. Um grupo dos principais municípios do Estado manteve performance diferente no mesmo período. Barueri, Campinas, Guarulhos, Osasco, Paulínia, São José dos Campos e São Paulo, que estão entre os 10 maiores endereços econômicos paulistas, conseguiram crescer 9,6% descontada a inflação. Desse grupo, apenas Guarulhos e Campinas acusaram leve declínio: Barueri passou de R$ 5,110 bilhões em 1994 para R$ 7,379 bilhões em 2001, Campinas de R$ 8,956 bilhões para R$ 7,379 bilhões, Guarulhos de R$ 12,944 bilhões para R$ 11,212 bilhões, Osasco de R$ 3,508 bilhões para R$ 3,917 bilhões, Paulínia de R$ 6,238 bilhões para R$ 12,465 bilhões, São José dos Campos de R$ 9,982 bilhões para R$ 13,667 bilhões e São Paulo, de R$ 67,187 bilhões para R$ 70,066 bilhões. 

O volume do Valor Adicionado condiciona em 76% a distribuição dos recursos do ICMS que o governo estadual remete aos 645 municípios paulistas. Por isso no período de 1994 a 2001 o Grande ABC apresentou queda de 22,4% no chamado Índice de Participação dos Municípios desse que é o imposto que mais pesa no orçamento das cidades. A diferença entre a quebra do VA registrada pelo Grande ABC (34%) e a baixa do Índice de Participação no ICMS dos sete municípios (22,4%) está nos demais fatores ponderados de distribuição. Os principais são o peso da população, de 16%, e das receitas próprias, de 5%.


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