Indaiatuba é uma das localidades que melhor representa as novas fronteiras econômicas desbravadas no Estado de São Paulo nos últimos anos. Na contramão da Região Metropolitana paulistana que sofre com a evasão industrial, a cidade da Região Metropolitana de Campinas é alvo de enxurrada de investimentos: cerca de 200 indústrias de pequeno, médio e grande porte se instalaram desde 1997. O exemplo mais reluzente dessa leva é a Toyota, sede de plataforma de exportação para a América Latina. Mas seria injusto atribuir a explosão industrial somente à chegada da maior montadora do Japão e que figura entre as cinco principais do mundo. Indaiatuba desenvolveu parque industrial diversificado, em contraponto a cidades e regiões de economia monotemática.
É a chegada de empresas dos mais variados setores que está por trás do crescimento do produto industrial. O Valor Adicionado de Indaiatuba cresceu acima da inflação 46,37% entre 1994 e 2000. O salto se refere à principal medida de riqueza industrial. A performance conduziu Indaiatuba ao 39º lugar no ranking dos municípios paulistas em geração de VA, responsável por 0,43% da riqueza industrial do Estado em 2000. Em 1994, a cidade ocupava a 40º posição, com 0,37% do VA produzido na unidade mais rica da Federação.
À boa performance no ranking de Valor Adicionado somam-se números favoráveis na conta de empregos na indústria de transformação. De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho, Indaiatuba contabiliza saldo positivo de 2.314 empregos industriais com carteira assinada entre maio de 1998 e maio de 2002. O termo saldo positivo cabe com perfeição porque a quantidade de vagas industriais criadas suplantou o número de postos de trabalho fechados no período de quatro anos.
Só para comparar com um município de industrialização mais antiga, São Bernardo acumula saldo negativo de 13.065 postos de trabalho industriais com carteira assinada entre maio de 1998 e maio de 2002, enquanto no Valor Adicionado registrou queda de 25,07%, descontada a inflação, entre 1994 e 2000.
Além de indústrias de dimensões generosas nas margens da rodovia Santos Dumont e de pequenas e médias concentradas em três distritos específicos, a evolução de Indaiatuba também se dá pelo ângulo demográfico. De 100 mil habitantes em 1994, atingiu 146 mil em 2000, segundo o IBGE, e já deve estar com perto de 160 mil. Os números podem ser constatados na prática: basta observar a multiplicação de casas em novos loteamentos pelo território de 297 quilômetros quadrados, área quase 20 vezes superior à de São Caetano, que tem cerca de 20 mil habitantes a menos.
"A área edificada em estabelecimentos residenciais, comerciais e industriais quase duplicou entre 1993 e maio de 2002" -- afirma o secretário de Planejamento Sérgio Andriotti de Campos. Para surpresa de quem inevitavelmente associa surto demográfico com precarização da qualidade de vida, Indaiatuba não tem sequer um núcleo de favela.
Transferência -- A pergunta é inevitável diante de realidade tão distinta a apenas 90 quilômetros da Capital paulista: o que Indaiatuba e outras regiões prósperas do Interior têm que os tradicionais centros urbanos não têm? A pertinência da questão deve-se não apenas ao fato de multinacionais como a Toyota escolherem municípios afastados dos grandes centros para inaugurar megaprojetos, mas sobretudo porque parcela expressiva das 200 indústrias que aportaram em Indaiatuba nos últimos anos responde a estratégia de realocação. "Boa parte das empresas veio da Grande São Paulo" -- afirma o prefeito Reinaldo Nogueira. "Nossos concorrentes diretos na atração de empresas são municípios próximos como Jaguariúna" -- comenta o executivo público, referindo-se à outra cidade da região de Campinas que também cresceu vertiginosamente a bordo de investimentos industriais.
A melhor forma de chegar à resposta sobre o que Indaiatuba tem de melhor é conversar com os protagonistas das mudanças que estão redesenhando o mapa geoeconômico do Estado, como o engenheiro de alimentos José Henrique Moreira Rodrigues, presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo, regional de Indaiatuba, e diretor da Adorella, fabricante de macarrão para sopas, com 90 funcionários.
Depois de trabalhar por 21 anos na Capital como executivo da Nestlé, Henrique acertou as contas para realizar o sonho de criar o próprio negócio junto com a mulher Eliane Stary, engenheira química que trabalhou 17 anos na mesma companhia. Ao optarem por Indaiatuba, levaram em conta tanto vantagens para o negócio como benefícios relacionados à qualidade de vida -- se é que é possível dissociar os dois aspectos. "Aproveitamos a mudança na carreira profissional para dar uma guinada em nossas vidas" -- resume.
Henrique Moreira cita a posição geográfica como uma das principais vantagens: Indaiatuba fica a 20 quilômetros de Campinas, 50 de Sorocaba, Piracicaba e Jundiaí e a apenas 12 de Viracopos, o principal aeroporto de cargas do País. Tudo interligado por boas rodovias administradas pela iniciativa privada. "Além disso, o acesso às rodovias é praticamente imediato, enquanto na Grande São Paulo perdem-se horas para atravessar a Capital durante o rush" -- lembra o dirigente do Ciesp. Ele ainda destaca que os custos relacionados à folha de pagamentos e ao preço dos terrenos também são mais baixos. "Os salários acompanham a linha do custo de vida, que nas grandes cidades atingiu níveis muito altos" -- diz.
As vantagens relacionadas ao bem-estar e à qualidade de vida são igualmente relevantes. "A vinda para Indaiatuba depois de mais de duas décadas de trabalho em São Paulo marcou a primeira vez em que me senti parte de um contexto. Aqui passei a me sentir alguém" -- conta. O senso de identidade a que se refere é resultado de estilo de vida mais tranquilo em ambiente mais equilibrado.
"Em São Paulo perdia no mínimo 40 minutos para me deslocar do trabalho para casa, apesar da distância entre o escritório na Avenida Luís Carlos Berrini e o bairro do Campo Belo ser de apenas dois quilômetros. Aqui levo cinco minutos, sem congestionamentos" -- compara o empreendedor, que também cita o ar puro, maior contato com a natureza e a baixa criminalidade como aspectos fundamentais. Sobretudo para o filho de oito anos. "Se não tivéssemos vindo para Indaiatuba, nosso filho viveria trancado no apartamento" -- comenta.
É claro que São Paulo tem encantos inigualáveis. Indaiatuba não oferece, por exemplo, a diversidade gastronômica e cultural da Capital. "Mas isso não faz muita diferença. Indaiatuba tem boas churrascarias e pizzarias e, além do mais, vamos a Campinas quando queremos algo diferente de uma metrópole" -- observa Henrique. Campinas, aliás, foi a primeira opção que veio à cabeça quando resolveu montar a Adorella. "Desisti ao perceber que a cidade sofria dos mesmos problemas de violência, congestionamento e custos elevados que queríamos deixar para trás em São Paulo" -- comenta.
Para quem imagina que Indaiatuba é distante e inacessível, com base em dificuldades anteriores ao desenvolvimento das rodovias que aproximaram o Interior da Capital, o dirigente do Ciesp responde com frase cheia de contentamento. "Todos não sabem o que estão perdendo. Não volto para São Paulo de jeito nenhum" -- desabafa.
A mesma busca por qualidade de vida levou os irmãos Maurício e Marco Antonio Colitti a transferir de São Paulo para Indaiatuba a Acoplas, fabricante de produtos plásticos e utilidades domésticas. "Em São Paulo a gente se acostuma a viver mal" -- destaca Marco Antônio. "Não quero voltar nem a passeio" -- ressalta Maurício Colitti, já ambientado na nova cidade.
Além de realocar a empresa e mudar de endereço com a família, os irmãos investiram em negócio alternativo: criaram o condomínio industrial Industriale, conjunto de cinco galpões de 1,5 mil metros quadrados cada servido de segurança 24 horas e centro administrativo comum dotado de restaurante, ambulatório, videoconferência, sala de tevê e lanchonete. Os espaços estão disponíveis apenas para locação. "Uma multinacional do setor logístico está interessada em ficar com dois galpões para aproveitar a proximidade com o aeroporto de Viracopos" -- comenta Maurício Colitti.
Os cinco galpões já concluídos correspondem à metade do projeto Industriale, que prevê a construção de mais cinco até o final deste ano, no terreno de 28 mil metros quadrados. A intenção dos irmãos é clara: querem pegar carona no crescimento industrial de Indaiatuba, aproveitando a demanda de empresas que desejam se instalar com rapidez em estrutura de alto padrão.
Benefícios fiscais -- Além da posição logística, dos custos mais baixos e da qualidade de vida, Indaiatuba oferece benefícios fiscais. O Poder Público acena com isenção de IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) por 10 anos, além de anistiar ISS (Imposto sobre Serviços) para construção. "Os benefícios fiscais seguem a linha dos oferecidos pela maior parte das cidades do Interior. Não é nada demais" -- considera o prefeito Reinaldo Nogueira. "Não doamos terreno, até porque o custo da área é irrelevante na perspectiva empresarial de longo prazo. Mais valem as vantagens permanentes, que temos de sobra" -- acredita o executivo público.
Prova de que o prefeito tem razão é o fato de a cidade ter atraído duas centenas de indústrias sem dispor de projetos mirabolantes ou estratégia agressiva de marketing. A Assessoria de Desenvolvimento Econômico é modesta e não tem poder deliberativo. Sua função restringe-se a fornecer informações aos interessados em investir na cidade. Em compensação, o prefeito centraliza as decisões e atende pessoalmente a todos.
O desenvolvimento puxado pela indústria gera múltiplos reflexos na economia. "Não é mais preciso se deslocar até Campinas para comprar, como no passado, porque a chegada de grandes redes como Lojas 100 e Magazine Luiza e o surgimento de estabelecimentos menores permitem que se encontre tudo aqui" -- relata o presidente da Associação Comercial, Agrícola e Industrial de Indaiatuba, Jair Alfredo Sigrist, dono de uma loja de presentes há mais de 20 anos no Centro da cidade.
O setor hoteleiro que já era bem servido ganhou recentemente o Hotel Ibis. O empreendimento da grife francesa Accor é a mais nova iniciativa dos irmãos Sérgio e Fábio De Nadai, que resolveram diversificar negócios -- setorial e geograficamente -- depois de consolidar empresa de refeições coletivas sediada em Santo André.
De acordo com dados do secretário de Finanças, Valfrido Miguel Carotti, a arrecadação da Prefeitura vai superar R$ 118 milhões neste ano contra R$ 79,8 milhões em 1997, valor atualizado pelo INPC do IBGE. A receita com ICMS atingirá R$ 33 milhões ante R$ 28,2 milhões em 1997, em valor corrigido, e a previsão de arrecadação de IPTU é de R$ 18,9 milhões, contra R$ 14,6 milhões atualizados de 1997. "O IPTU cresceu com a regularização das edificações" -- ressalta o secretário de Planejamento, Sérgio Andriotti.
A ampliação dos recursos proporciona capacidade de investimento em bens públicos como a estação de tratamento de esgoto, cujas obras devem ser concluídas até o fim de 2003. "Em breve trataremos 100% do esgoto gerado na cidade" -- promete o prefeito Reinaldo Nogueira.
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