O paradoxo entre a desindustrialização e o crescimento do setor de serviços no Grande ABC registra mais uma cena protagonizada por duas tradicionais empresas da região. A Transportes Grecco, fundada há 36 anos em Mauá, já está com tudo pronto para transferir a sede para um dos galpões desativados da TRW, também na cidade. O movimento é sintomático porque referenda a realidade de esvaziamento produtivo da região e ao mesmo tempo aponta para a incessante busca das empresas por competitividade e produtividade. Enquanto a Grecco precisa de ampliação para enfrentar concorrentes que se multiplicam por todos os lados, a TRW passou por reengenharia que enxugou mais da metade da área produtiva para reposicionar seu espaço na seara global da indústria automotiva.
A mudança de endereço da Grecco vai marcar a transição da transportadora -- especializada em cargas de vidros -- para serviços de logística integrada. Nas novas instalações, a empresa terá o espaço aumentado em cerca de 700% para acomodar os novos setores de armazenamento, gerenciamento de estoque e distribuição urbana de produtos. "Precisamos acompanhar as necessidades operacionais do cliente, para que ele possa estar focado apenas no seu negócio" -- expõe o diretor Paulo Roberto de Sousa.
A Transportes Grecco quer utilizar os novos serviços para potencializar o atendimento a clientes tradicionais e ampliar a carteira. A empresa escolheu a dedo o novo endereço, já que a proximidade com clientela cativa traz importante diferencial na redução de custos. Além do espaço físico, o antigo galpão da TRW está situado a meio caminho entre o Pólo Petroquímico de Capuava e o Pólo de Sertãozinho, duas áreas industriais da região envolvidas em projetos de expansão e nas quais a Grecco atende tanto produtores de matéria-prima quanto transformadores de resinas termoplásticas. Entre os principais clientes estão Santa Marina, Polibrasil, Unipar Química e Sun Garden.
A decisão da Grecco de abrir o arco dos negócios deixa ainda explícita a necessidade de encarar de frente as transformações setoriais da última década. "Sem a ampliação fica difícil enfrentar a concorrência, principalmente das gigantes internacionais" -- admite Paulo Roberto de Sousa. O mercado brasileiro tornou-se atrativo para as multinacionais de logística principalmente depois que a descentralização das plantas das montadores e de outras grandes empresas estabeleceu a necessidade de entrega de componentes em tempo real. A TNT, líder de logística na Europa, multiplicou por mais de sete vezes o faturamento anual desde que se instalou no Brasil há cinco anos para atender o setor automotivo. Embalada pelo crescimento, a TNT já espicha o olho para outros segmentos como os de eletroeletrônicos e de bens de consumo.
Estoque reduzido -- Curiosamente, o galpão da TRW que passa a ser ocupado pela Grecco até o final do ano reflete uma das principais atribuições das empresas de logística. Os 10 mil metros quadrados de área construída estão vagos desde o início do ano, quando a TRW decidiu trabalhar com estoques reduzidos. A mudança fez parte da reengenharia de processo resultante da fusão da TRW com a Lucas Verity (ex-proprietária da Freios Varga de Limeira) e que manteve em Mauá a forjaria e a produção de direção, suspensão e cintos de segurança. A TRW garante que o enxugamento da área produtiva não provocou demissões. A história, no entanto, subsidia as transformações. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André, a empresa já teve três mil funcionários apenas na unidade de Mauá no final dos anos 80. Hoje o grupo emprega 1,6 mil funcionários nas nove unidades espalhadas pelo Brasil.
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