Considerada uma das transversais mais importantes da Oliveira Lima, a Rua Elisa Fláquer utiliza a estratégia eficaz da união para reverter perdas de até 40% do movimento contabilizadas especialmente nos últimos dois anos. Depois de amargar o ostracismo por ter se tornado espécie de apêndice operacional sem qualquer visibilidade da parte coberta do Calçadão, a rua finalmente foi alçada à condição de boulevard. As obras de fechamento parcial do trânsito e instalação de bancos e floreiras chegam com sabor de vitória para os 29 comerciantes que se juntaram à Prefeitura para ver atendida antiga reivindicação.
A Elisa Fláquer já foi um corredor de lojas de grife. Mas amarga, além das oscilações macroeconômicas e da fuga do consumidor abastado, o obscurantismo provocado pela fragmentação urbanística da cobertura do Calçadão. A cobertura encobriu a entrada principal da rua que, praticamente escondida, passou a ser utilizada como ponto de carga e descarga e deposição irregular de lixo e entulhos. "Sabemos que o boulevard não vai ser a tábua de salvação, mas nossa união pode levar a outras conquistas importantes" -- raciocina a proprietária da Lacqua di Fiori, Marisa Alves Perna.
Marisa e outros 28 lojistas desembolsaram R$ 30 cada para adquirir 10 bancos que serão distribuídos ao longo da Elisa Fláquer. A Prefeitura forneceu as cinco floreiras, que serão mantidas por funcionário de uma cooperativa contratado pelos próprios lojistas. "Seria bom que houvesse também investimento na fachada das lojas para melhorar ainda mais o visual" -- sugere Eliana Maza, da loja de roupas que leva o seu nome. Eliana chegou à Elisa Fláquer há quatro meses e aposta no binômio qualidade/preço justo para conquistar clientela mais sofisticada. Na Elisa Fláquer os custos de Eliana Maza chegam a ser até três vezes inferiores que no Shopping Aricanduva, onde também mantém unidade.
As obras do boulevard adicionam gotas de ânimo ao comércio da Elisa Fláquer. Nos últimos dois anos o abre e feche de portas registrou frequência preocupante e os mais antigos são unânimes em afirmar que nunca atravessaram momento tão crítico. Lucinda de Morais, da Lucy Presentes, há 17 anos na rua, pensa até em encerrar o negócio. A lista de reclamações é substanciosa e engloba desde falta de segurança até atos frequentes de vandalismo que dificultam a abertura das lojas até mais tarde e aos domingos. Estatística recente dá conta de que os assaltos na rua cresceram 30%. "A situação piorou muito no último ano" -- confirma Valter Roberto Pelachini, da Modena Jóias. "É uma pena trabalhar tanto e correr o risco de tudo acabar em nada" -- preocupa-se Zilda Rosa de Souza, da Planeta Papel.
O choro dos comerciantes é compreensível, principalmente para os que viveram a Elisa Fláquer de outros tempos. A comerciante Goreti Nieto está há 22 anos no local e tem história que se encaixa nas transformações socioeconômicas ocorridas em Santo André e no Grande ABC exatamente nas duas últimas décadas. Goreti chegou a ter três lojas na Elisa Fláquer e empregou 12 funcionários, entre os quais uma copeira. Hoje mantém uma única porta aberta, onde trabalha sozinha com o marido. Goreti é uma sobrevivente em meio ao turbilhão de estatísticas regionais desfavoráveis: no último ano, o Grande ABC amargou a desaparecimento de mais 3,4 mil empregos industriais, o equivalente a uma Bridgestone/Firestone como apurou estudo de LivreMercado, e em 11 anos perdeu 17,9% do poder de compra do Estado de São Paulo e 38,7% do Brasil, segundo pesquisa da Target. Se os dois índices forem insuficientes, basta lembrar que seis mil pequenos empreendimentos familiares foram varridos do mapa regional na última década, mapeou o Sincomércio.
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