Não é o plano desenvolvimentista de JK, de transformar 50 anos em cinco. Mas é quase. Se tudo correr como planeja a Prefeitura de São Bernardo, o sistema viário da cidade vai recuperar em cinco anos o que deixou de ser feito nos últimos 25. Dividida pela Via Anchieta primeiro, depois pela Rodovia dos Imigrantes e pelo anel metropolitano do trólebus, São Bernardo só viu crescer o ninho de problemas em que se transformou o transporte de passageiros e de cargas em seu território. Com as duas novas portas de entrada previstas no traçado sul do Rodoanel, o caos estará instalado.
É para não ser engolida de vez pelas inúmeras intersecções viárias que São Bernardo tenta recuperar o tempo perdido. A Prefeitura acaba de anunciar 25 intervenções para desafogar os principais corredores e criar rotas alternativas de escoamento -- inclusive uma inédita opção de saída para cargas perigosas -- ao custo total de US$ 275 milhões. A maior parte (US$ 165 milhões) virá do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) a juros de 3,5% ao ano. O restante é receita do Município. O pano de fundo é criar um anel periférico na cidade com ênfase para a agilidade do transporte urbano, mas com consequente e importante benefício ao transporte de carga. O viário de São Bernardo desafia a paciência dos moradores e sobretudo os custos empresariais: em horário de rush, leva-se pelo menos 45 minutos para transpor o corredor do trevo da Via Anchieta no Hipermercado Extra até a divisa com Santo André no sentido da Fundação do ABC, cruzando a esgotada Avenida Senador Vergueiro. "Com as vias expressas por baixo e as avenidas para trânsito local por cima, esse trajeto pode ser reduzido a 10 minutos" -- planeja o secretário de Administração, Paulo Guidetti.
O projeto cria malhas internas de modo a evitar que os motoristas cruzem a Anchieta e a Imigrantes para ir de um lado ao outro do Município ou só se utilizem dos corredores já saturados. As novas rotas vão levar mais tráfego para bairros residenciais como Jardim do Mar, Baeta, Assunção e Jordanópolis -- admite Paulo Guidetti --, mas esse seria o preço do disciplinamento e de um trânsito mais qualificado. "O crescimento demográfico de São Bernardo na última década foi de 1,5% ao ano nas áreas centrais já adensadas, de 3,4% na região do Bairro Assunção e de 4,1% no Alvarenga. Uma cidade com quase 750 mil habitantes precisa de ordenamento do tráfego" -- cita.
É o maior esforço de modernização viária da história do Município, interpreta o prefeito em exercício William Dib, ao considerar que não apenas se está recuperando 25 anos do passado como São Bernardo se prepara para os próximos 25 anos. O grande salto para a modernidade se dará em 2009, quando está prevista a conclusão total das 25 intervenções (veja quadro) se for cumprido o início do calendário das obras, em 2004. Partes de algumas obras já estão em andamento, como o prolongamento da Avenida Lauro Gomes do Carrefour até o Paço Municipal e da Avenida Tiradentes. Também já estão sendo planejadas as malhas viárias que levarão até as intersecções do Município com o Rodoanel, planejadas para o km 28 da Via Anchieta e o trevo da Estrada Galvão Bueno com Imigrantes.
Finanças recuperadas -- Não foi somente a engenharia de obras que multiplicou esforços em busca de correções de rotas críticas em São Bernardo. Também a Secretaria de Finanças se dedica há pelo menos cinco anos à engenharia dos números para que a cidade pudesse pleitear o empréstimo junto ao BID. Por serem recursos internacionais, precisam do aval da União (Ministério do Planejamento e Senado) como garantidora do financiamento, cuja carência é de cinco anos. Isso significa que começa a ser pago em 2009.
O secretário de Finanças, Eurico Leite, assegura que São Bernardo fez todas as lições de casa para respeitar os limites de gastos impostos pela nova LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal), recuperar receitas e chegar ao orçamento equilibrado que permitiu o novo endividamento. "Pelo orçamento de 2001, temos um limite de endividamento de R$ 1 bilhão. Ou seja, estamos comprometendo apenas um terço disso com a reformulação do viário da cidade" -- cita ele, que esteve em Washington no mês passado com Paulo Guidetti para tratar da formalização do pedido.
Além da capacidade financeira do tomador do empréstimo, o BID analisa o impacto ambiental e social dos projetos que endossa. Neste 13 de dezembro chega uma missão para avaliar aspectos técnicos como verificação da documentação ambiental das obras e da estrutura financeira do Município. As próximas etapas do organismo internacional prevêem missão de orientação (para consolidação e ajustes da documentação) e missão de análise, para ajustes finais e aprovação técnica. "A expectativa é de até meados de 2003 haja a aprovação da executiva do BID e celebração dos contratos, para iniciar as licitações e início das obras no final de 2003" -- relata Eurico Leite. Pela proposta, 35% do valor virão no primeiro ano, 35% no segundo, 15% no terceiro e o saldo entre o quarto e o quinto anos.
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