O Grande ABC continua na bacia das almas e aguarda a decisão sobre o início das obras do trecho sul do Rodoanel, um traçado de 53,7 quilômetros que liga o trecho oeste já concluído, no Embu, à Avenida Papa João XXIII, em Mauá, passando por São Bernardo e Santo André. As iniciativas regionais ainda são tímidas, como a adotada pela Agência de Desenvolvimento Econômico ao aprovar posição favorável ao cronograma de obras, que devem começar entre o segundo semestre de 2003 e início de 2004. A proposta da Agência de marchar ao lado do projeto foi apresentada em dezembro último pelo secretário de Desenvolvimento Econômico de Mauá, Paulo Eugênio Pereira Júnior. O secretário está preocupado com as pressões contrárias ao projeto feitas por ambientalistas e representantes do Ministério Público. Paralelamente, os sete prefeitos da região enviaram carta ao governador do Estado, Geraldo Alckmin, manifestando apoio para que o cronograma de obras seja cumprido à risca, o que significa entrega do trecho sul em 2006.
“O debate ambiental não pode suplantar o econômico e o social. Todos os cuidados ambientais vêm sendo discutidos desde 1997. O traçado já foi mudado várias vezes e o impacto é o menor possível. Não podemos perder esse debate” — afirmou Paulo Eugênio, que defende a posição da newsletter Capital Social Online de que a Agência Regional discuta a ocupação ordenada do entorno da obra. Na reunião em que se decidiu pelo posicionamento favorável à execução do cronograma do Rodoanel, o engenheiro Renato Maués, especialista em transportes e assessor da Prefeitura de São Bernardo no Consórcio Intermunicipal de Prefeitos, expôs as implicações logísticas do Rodoanel e do Ferroanel, a ligação ferroviária da Grande São Paulo. Encaminhamentos práticos foram deixados para futuras reuniões.
Dúvidas — “Ainda não temos elaboração a respeito. Mas devemos participar, junto com o Consórcio de Prefeitos, de estudos que envolvem a região. A Agência é favorável à preservação do meio ambiente, mas também que a obra seja realizada o quanto antes. Acredito que exista um meio termo para que não ocorram atrasos” — afirma o secretário executivo da Agência de Desenvolvimento, José Carlos Paim. Apesar das esperanças de Paim, o diretor-geral da Agência e prefeito de Santo André, João Avamileno, ainda manifesta dúvidas sobre o Rodoanel. “O debate é urgente porque tem muita gente que ainda não está convencida. Até em Santo André o pessoal de gestão ambiental da Prefeitura tem dúvidas” — argumenta o prefeito.
As dúvidas alimentam posições que contrapõem o Rodoanel à preservação ambiental, principalmente da área de proteção dos mananciais da Represa Billings. “Tudo que era possível já foi feito. Foram realizados, por exemplo, ajustes incríveis no projeto na área do Parque do Pedroso” — defende Renato Maués. Além da falsa contraposição, já que a moderna engenharia sacrifica o menos possível o meio ambiente, a região é vítima da incompreensão sobre a importância da obra. Muitos atores sociais se esquecem de que economia competitiva exige vias de transporte eficazes, que um conceito não existe sem o outro.
Os debates sobre o impacto ambiental do Rodoanel foram interrompidos no final de 2002, quando promotores do Meio Ambiente dos municípios cortados pela obra de 180 quilômetros ao redor da Grande São Paulo se disseram dispostos a entrar com ação judicial para interromper o licenciamento dos trechos sul, leste e norte. No meio da polêmica, o governo adiou as audiências públicas para o começo de 2003. Serão dois debates no Grande ABC: um em 30 de janeiro, em São Bernardo, e outro em 4 de fevereiro, em Mauá. O secretário estadual dos Transportes, Luiz Carlos Davi, prevê que ao final das audiências será iniciado o processo de licitação com publicação do edital de concorrência. O coordenador de Gestão Ambiental do Rodoanel, Rubens Mazon, não é tão otimista e calcula que o projeto executivo da obra fique pronto em setembro de 2003, para só depois começar a licitação, que dura de quatro a seis meses.
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