São Bernardo (e a região como um todo) não perdeu apenas famílias de moradores ricos e de classe média alta. Também entre residentes da classe média-média o resultado deste século medido pela Consultoria IPC do pesquisador Marcos Pazzini é comprometedor.
Em termos regionais, ficamos paralisados quando se mede a proporção de moradias de classe média-média em relação ao total de residências. Já a média nacional neste século que começou no ano 2000 avançou 45,41% em números relativos.
O resultado geral dessa equação é que estamos caminhando celeremente para ser exatamente o Brasil num futuro não muito distante. Querem pior notícia do que essa, quando se sabe que o País verde e amarelo não é nenhum exemplo de prosperidade consolidada?
Distância diminuída
Em 1999, base desses estudos que são uma tradição de publicações sob a direção deste jornalista, havia no Brasil 11,34 de classe média-média para cada 100 moradias. No Grande ABC então bafejado pela sorte de ter sediado e ainda sediar grandes montadoras de veículos, a proporção era quase o dobro: 20,04% das moradias acolhiam moradores da classe média-média.
Vinte anos depois, de 2000 a 2019, a Consultoria IPC esquadrinhou junto a várias fontes oficiais da União que a classe média-média do Grande ABC permaneceu praticamente inalterada, com 20,32% do total de moradias. Ou seja: uma diferença de apenas 0,8 ponto percentual sobre os 20,04% de 1999.
A média nacional, que considera os mais de cinco mil municípios, saltou para 16,49% das moradias. Um avanço de 45,41% em 20 anos. Se em 1999 a diferença a favor da região era de 8,70 pontos percentuais de participação da classe média no poder de consumo da população, nesta temporada é de apenas 3,83 pontos percentuais. Nessa toada, em 2023 a média nacional terá empatado tecnicamente com a média regional.
Duas perdas relativas
Dos sete municípios do Grande ABC, apenas São Bernardo e Santo André acusaram perda de participação relativa no período de duas décadas. São Bernardo contava com 21,33% de moradores da classe média-média em 1999 e caiu para 20,74% em 2019. Uma perda de 2,77%. Santo André perdeu um pouco mais, 5,25%, porque contava com 21,60% de classe média-média e caiu para 20,45%.
Os demais municípios avançaram timidamente, menos Rio Grande da Serra. São Caetano passou de 20,66% para 23,45% no universo de classe média-média quando comparado com o total de moradias. Crescimento de 13,50%. Diadema avançou de 16,67% para 19,19%, com crescimento de 15,12%. Mauá cresceu 4,50%, já que tinha participação de 18,65% e chegou a 19,49%. Ribeirão Pires registrou crescimento de 10,23%, porque contava com 18,66% em 1999 e passou para 20,57% em 2019. Rio Grande da Serra de menos de 10 mil moradias, ou apenas 1% do total da região, cresceu 49,69% ao avançar de 11,37% para 17,02%. Nada que signifique outra coisa que nada para o Grande ABC como um todo.
Juntos, os sete municípios do Grande ABC registraram, portanto, crescimento de 0,8 ponto percentual na participação relativa da classe média-média ante o total de moradias. Em termos absolutos, surgiram 68.693 novas moradias dessa classe social, com crescimento de 55,35% no período de 20 anos. O Grande ABC contava com 124.097 famílias de classe média-média em 1999 e passou para 192.790 em 2019.
Congelamento do estrato
São números absolutos que não impediram a estagnação relativa porque nesse mesmo período o total de moradias na região cresceu 53,23%. Eram 619.205 em 1999 e passou para 948.800 na ponta extrema da pesquisa. Ou seja: do total de 329.595 novas moradias na região em 20 anos, apenas 68.693 corresponderam à ocupação da classe média-média – ou 20,84% do total. Um resultado praticamente igual ao da participação relativa geral da classe média-média.
São Bernardo, o caso mais grave de queda de poder de consumo da região nos últimos 20 anos, ganhou 15.220 moradias de classe média-média no período. Mas perdeu 2,77% em termos relativos porque o resultado não acompanhou o crescimento de moradores da cidade.
Desde o ano 2000, São Bernardo conta com adicional de 94.696 moradias – algo como uma São Caetano e meia de novos residentes no período. Eram 189.086 em 1999 e passou para 283.781 neste ano. Como criou apenas 15.220 moradias de classe média-média, a participação relativa avançou apenas 8,05% em relação ao estoque adicional.
Quando se combinam esses números com os dados já metabolizados de crescimento das moradias de pobres e miseráveis, a conclusão é automática: o avanço demográfico da Capital Econômica do Grande ABC é recheadíssimo de complicações porque os estratos de classe rica, média alta e média-média são cada vez menos importantes.
Menores proporções
Para se ter ideia do quanto o desenvolvimento econômico de São Bernardo foi impactado neste novo século, o balanço do universo de classe média-média reforça os resultados anteriores já analisados neste espaço. O saldo em números absolutos de 15.220 moradias no período significou 41,41% de crescimento em 20 anos (eram 36.747 famílias de classe média-média em 1999 enquanto em 2019 chegou ao total de 51.967), enquanto no conjunto do Brasil o avanço foi mais de quatro vezes superior, atingindo 163,20%. O balanço do Brasil no período é de 3.764.136 milhões moradias de classe média-média em 1999 ante 9.907.334 milhões em 2019.
Ainda temos muito a escrever sobre o comportamento do poder de consumo do Grande ABC como um todo e dos municípios da região, em particular. Trata-se de uma análise de valor além da conta porque ajuda a explicar as múltiplas razões que levaram a economia da região a desabar neste século em vários indicadores que rotineiramente expomos.
A ideia de que aonde o PIB vai o Potencial de Consumo vai atrás vale sobremodo quando se lançam estudos cujo tempo de maturação é mais alongado.
A movimentação do poder de consumo, que é a reserva que os moradores dispõem em determinado endereço, nem sempre encontra paralelismo do PIB em período semelhante. Mas quando se lançam olhares e atenção além do horizonte próximo, tudo se explica.
O enfraquecimento de riqueza amealhada pelos moradores do Grande ABC neste século, que chegou a 25% da média nacional, não tem nada de irracional. É lógica econômica pura.
E São Bernardo é o carro-chefe da derrocada. Insiste-se em acreditar que a Doença Holandesa da indústria automobilística, uma vitrine de marketing que impressiona incautos, seria mais solucionadora do que complicadora de problemas.
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