Economia

Mobilidade social
cai; aposta em Lula

DA REDAÇÃO - 05/05/2003

Duas afinidades aproximam os incluídos e excluídos sociais do Grande ABC: eles acreditam forte ou moderadamente na recuperação econômica da região durante o governo do presidente Lula da Silva e sofreram, nos últimos 10 anos, grandes estragos no processo de mobilidade social. Essa mistura de esperança e desespero é o principal resultado da enquete que a newsletter Capital Social Online e a Editora Livre Mercado realizaram em dois ambientes completamente distintos: os incluídos participaram do lançamento do livro Meias Verdades, do jornalista Daniel Lima, na pré-inauguração do Quality Suites, em Santo André; e os excluídos foram entrevistados uma semana depois nos centros de trabalho e renda da CUT e da Força Sindical, em Santo André. 

A enquete com 287 dos 580 incluídos sociais que compareceram ao Quality Suites, dia 1º de abril, foi operacionalizada por 15 estudantes de Turismo e Hotelaria da UniABC, chefiados pelos professores Márcia Valéria Monteiro e Marcos Júlio. Já os 218 desempregados foram abordados por profissionais da Editora Livre Mercado. 

Para o jornalista Daniel Lima, coordenador dos estudos, somente os triunfalistas regionais ficaram surpresos com os resultados detalhados por Capital Social Online durante várias edições. “Há expectativa exagerada de que Lula da Silva possa resolver nossos problemas econômicos, da mesma forma que há evidente quebra da mobilidade social numa região outrora invejável” — afirma. 

Entre os incluídos sociais, 83% dos entrevistados afirmaram que acreditam muito ou moderadamente nos efeitos da administração Lula da Silva no Grande ABC. Já entre os excluídos sociais o índice foi levemente inferior, de 79,2%. 

A confiança que liga o governo Lula e o Grande ABC é expectativa personalizada que não tem a mesma correspondência no enunciado que trata genericamente o futuro econômico da região, especialmente entre os excluídos: para 60,6% deles, as melhores respostas são “com muita preocupação” e “com muita desconfiança”. Já entre os incluídos, 33,8% se enquadram nessas respostas. 

A quebra da mobilidade social no Grande ABC detectada pela enquete se manifesta de forma mais contundente entre os 218 desempregados entrevistados nas centrais sindicais: para apenas 8% deles “melhorou consideravelmente” a vida econômico-financeira nos últimos 10 anos. Para 92%, a situação se manteve inalterada, piorou razoavelmente ou piorou sensivelmente. Entre os 287 incluídos entrevistados, 34,5% afirmaram que a situação econômico-financeira “melhorou consideravelmente” no mesmo período, contra 64,5% que optaram pelas respostas de manutenção, piora relativa ou piora acentuada. 


Mais exclusão — Outro enunciado da enquete procurou devassar a realidade social do Grande ABC. Tanto para os incluídos como para os excluídos está configurada a constatação de que a exclusão social aumentou. Apenas 7% dos incluídos e 7,3% dos excluídos consideram que “a exclusão social atinge apenas uma minoria que, com o tempo, será devidamente atendida”. Para 93% dos incluídos e 92,7% dos excluídos, estão mais presentes no dia-a-dia os enunciados “a exclusão social aumenta, mas nada a ponto de impedir que políticas públicas municipais e regionais resolvam”, “a exclusão social agrava-se e podemos chegar a um nível incontrolável” e “a exclusão social já se consolidou de forma tão dramática que agora o melhor mesmo é rezar”.

A diferença entre incluídos e excluídos na avaliação do quadro social é diferente quando se observam respostas mais desalentadoras, de agravamento e descontrole da situação. Entre os incluídos, 34,4% optaram por respostas mais céticas, enquanto que para os excluídos desempregados o índice alcançou 57,7%. Para Malu Marcoccia, editora-chefe de LivreMercado, os resultados estão sintonizados com a histórica linha editorial da publicação. “Quem disse ou ainda tem a coragem de dizer o contrário precisa colocar os pés no chão” — afirma a jornalista.


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