O Grande ABC mantém o quarto lugar no ranking nacional do IPC (Índice de Potencial de Consumo) e aumentou a participação relativa de 2,09% para 2,17%, mas nem tudo são flores: sofrerá perda de US$ 500 milhões nesta temporada em relação ao ano passado, o que eleva para US$ 3,8 bilhões a queda relativa em 13 anos de estudos da Target Marketing e Pesquisas, empresa paulistana comandada pelo especialista Marcos Pazzini.
Publicado com exclusividade pela newsletter Capital Social Online em 29 de abril, o novo mapa do consumo nacional não traz maiores surpresas. Entre as 10 primeiras colocadas, apenas Porto Alegre trocou de posição com Brasília e Campinas ultrapassou Fortaleza. Na frente estão a líder São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
Segundo o IPC da Target, o Grande ABC vai consumir US$ 5,96 bilhões neste ano — ou R$ 19,9 bilhões — contra US$ 6,4 bilhões de 2002. A diferença para baixo, apesar do aumento da participação relativa em 0,08 ponto percentual, se deve à desvalorização do real frente ao dólar. No ano passado o potencial de consumo do País alcançava US$ 309 bilhões, contra US$ 274 bilhões previstos para este ano. Cada dólar valia em média R$ 2,55, contra estimados R$ 3,35 deste ano.
A soma dos sete municípios do Grande ABC assegura a quarta colocação no ranking nacional. Entretanto, se Curitiba, Porto Alegre e Brasília incorporassem os números da vizinhança metropolitana, o Grande ABC cairia para sétimo lugar.
De qualquer forma, o resultado é satisfatório para a região, que no ano passado perdeu o terceiro lugar para Belo Horizonte e poderia, pela tendência histórica de queda, ser ultrapassada já neste ano por Brasília e Porto Alegre. Mesmo assim, a diferença é escassa. O Grande ABC pode até mesmo voltar no ano que vem ao terceiro lugar como cair para o quinto.
O diretor-executivo da Target, Marcos Pazzini, considera o IPC ferramental mais apropriado para empresas trabalharem o planejamento de produtos e serviços: “Para apostar numa determinada região preciso, antes de tudo, conhecer o máximo de detalhes. Esse ranking pode ser detalhado em termos de classes econômicas, de acordo com o poder aquisitivo da população consumidora para o produto que será lançado” — explica.
Produzido com base em coquetel de informações de diferentes fontes, principalmente oficiais, o IPC da Target supera largamente estudos baseados exclusivamente no ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) difundido como bússola econômica. Com o IPC, é possível determinar o tamanho do mercado consumidor de cada cidade brasileira. Uma das vantagens do estudo é que se tem a medida efetiva do consumo de cada população, seja empregado no mercado formal, informal, subemprego, entre outros.
“Os valores arrecadados pelo ICMS refletem a economia oficial, englobando empresas e produtos que pagam impostos em dia, através da emissão de notas fiscais. Além disso, os valores arrecadados do ICMS podem trazer distorções em termos de análise de mercado quando um produto é fabricado em uma região e posteriormente comercializado em outra. A análise fica ainda complicada se na ponta do consumidor final o produto é comercializado sem nota fiscal”— explica Marcos Pazzini.
Dos sete municípios do Grande ABC, apenas São Bernardo e Santo André constam da relação dos 50 maiores do Brasil. Mas no ranking estadual, apenas Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra estão fora dos 50 maiores. A melhor colocação nacional é o 13º lugar de São Bernardo. Santo André aparece em 16º. Os paulistas continuam com 14 municípios entre os 50 endereços de maior potencial de consumo do País. Em 1991, início dos estudos da Target, eram 16 localidades.
Cresceu também neste ano a participação relativa do Grupo dos 10, formado pelo Grande ABC, São Paulo, Guarulhos e Osasco, que responde por 90% do potencial de consumo da Região Metropolitana da Grande São Paulo. Depois de vários anos de seguidas perdas, o G-10 saltou de 14,43% registrados em 2002 para 14,83% nesta temporada. A estimativa de consumo para esses municípios atinge US$ 40,6 bilhões.
O conjunto de 645 municípios do Estado de São Paulo atingiu o IPC de 32,41%, pouco acima de 31,50% de 2002. Nada menos que US$ 88,8 bilhões do total de US$ 274 bilhões previstos para ser consumidos em produtos e serviços este ano no País sairão dos cofres paulistas. Ou seja: de cada US$ 100, US$ 32,41 confirmarão o predomínio econômico do Estado de São Paulo. O desempenho paulista foi maior em 1991, quando contabilizava 34,48% de IPC. A forte queda relativa da Grande São Paulo parcialmente compensada pelo Interior explica o rebaixamento. Só a Capital desceu de 16,12% para 11,28% no período. O conjunto do Grande ABC somava 2,90% em 1991, contra os atuais 2,17%.
O ranking estadual do IPC confirma a concentração de riquezas em cinco unidades da Federação. São Paulo (32,41%), Rio de Janeiro (11,71%), Minas Gerais (9,96%), Rio Grande do Sul (7,80%) e Paraná (6,56%) totalizam dois terços — ou exatos 62,5% — do que será consumido neste ano.
O potencial de consumo do Grande ABC continua a mostrar o tamanho do agregado de riquezas construídas principalmente a partir da chegada da indústria automotiva, já que é superior ao desempenho individual de 16 Estados nacionais e também ao Distrito Federal. O problema é que a perda relativa de 27,5% nos últimos 13 anos e a deterioração da qualidade de vida de 2,350 milhões de habitantes são indicadores de um quadro de esfarelamento econômico também originário no setor automotivo, fortemente atingido pela globalização e pela descentralização de unidades.
O G-3 formado por três cidades-região do Interior de São Paulo — Campinas, Sorocaba e São José dos Campos — é um referencial importante para o desempenho do potencial de consumo do Grande ABC. Em 1991, a diferença favorável à região era de 10,34%. Neste ano há empate técnico, pois a diferença é de apenas 1,8%. Se a conta contemplar o potencial per capita, o G-3 leva vantagem porque tem população 12% inferior ao Grande ABC.
A movimentação de posições tanto no ranking estadual quanto no nacional é lenta como a trajetória de um transatlântico, porque o IPC representa cumulatividade de recursos financeiros disponíveis. Entre o ranking paulista de 1991 e o deste ano, a única alteração é a subida de São José dos Campos do nono para o oitavo lugar, a subida de Ribeirão Preto do oitavo para o sétimo lugar e a queda de Osasco do sétimo para o oitavo posto.
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