A Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Mauá decidiu ensinar o beabá do comércio exterior a micro, pequenos e médios empresários da cidade. A recente criação do Departamento de Exportação coloca à disposição serviço gratuito de consultoria em comércio exterior e agrega valor ao trabalho que trouxe, segundo a Prefeitura, 218 novas empresas para o Município desde 1997. Com a iniciativa, ratifica-se a disposição de povoar os cinco milhões de metros quadrados de área industrial ainda disponíveis.
O Departamento de Exportação quer conduzir o debut de empreendedores pouco familiarizados com o mercado internacional e auxiliá-los em mais essa etapa de inserção na economia global. Grosso modo, Mauá tenta operacionalizar localmente a intenção do ministro-chefe da Secretaria de Comunicação de Governo, Luiz Gushiken, de criar grupo de ação estratégica para transformar o Brasil num grande fornecedor de produtos e serviços para o mundo. A Prefeitura já contratou profissionais para implementar a consultoria e planeja iniciar em breve a investida além fronteiras. Por enquanto, 15 empresas dos setores plástico, químico e metalúrgico manifestaram interesse em aderir ao projeto.
"A ajuda especializada é essencial. Pequenos e médios não têm recursos para estruturar os próprios departamentos de exportação. Tanto que os 20 maiores exportadores brasileiros são grandes corporações" -- compara o novo secretário de Desenvolvimento Econômico, Paulo Sérgio Suares, que assumiu há dois meses com a clara intenção de reforçar o trabalho do antecessor Paulo Eugênio Pereira Júnior, agora secretário-executivo da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC.
O auxílio que a Prefeitura pretende fornecer a empreendedores locais abrange questões burocráticas e legais, identificação de potenciais clientes e assessoria para missões internacionais. Anualmente são realizadas cerca de 70 feiras e exposições nos principais centros consumidores do mundo e empresários interessados em participar desses eventos precisam de profissional especializado que detecte, entre outros aspectos, locais e mercados propícios para produtos fabricados em Mauá.
A iniciativa também coincide com os índices positivos das exportações brasileiras, que aumentaram 38,3% em maio sobre o mesmo período do ano passado. O clima de otimismo ajuda a embalar o início dos trabalhos, mas é insuficiente para dar consistência ao projeto que vai exigir doses consideráveis de perseverança, já que os resultados nesse tipo de transação nunca são imediatos. Por isso, a Prefeitura terá de ensinar o empresário da cidade a incorporar a exportação como cultura de complementaridade aos negócios internos e não como um boom passageiro ou remédio sazonal para compensar quedas de consumo.
O projeto da Prefeitura de Mauá vai ao encontro de tendência verificada pela MB Consultoria. O estudo detectou que 110 empresas, a maioria de pequeno e médio porte, entraram no mercado internacional desde 1998. Esse batalhão nunca havia comercializado um níquel no Exterior e já contabiliza vendas entre US$ 5 milhões e US$ 10 milhões. "Nosso parque industrial não pode estar de fora dessa realidade, principalmente porque há muitos produtos com tecnologia de ponta sendo fabricados aqui" -- acredita Paulo Sérgio Suares.
Jogo de paciência -- A Prefeitura de Mauá realizou estudo preliminar no qual detectou que o comércio exterior pode ajudar empresas da cidade a aumentar a produção em até 40%. Esse percentual elevado não depende apenas da boa vontade do Poder Público. Assemelha-se a um jogo de paciência intrinsecamente ligado à capacidade competitiva de cada produtor, à flutuação do câmbio e outras variáveis macroeconômicas. Mesmo que os resultados não possam ser colhidos a curto prazo, a Prefeitura aposta fichas em prováveis aumentos da taxa de emprego e da arrecadação nos próximos dois anos da atual gestão.
A chegada de novas empresas já trouxe resultados palpáveis para Mauá. O repasse de ICMS subiu 9% de 2001 para 2002 e as projeções para 2003 em relação a 2002 apontam para outro acréscimo, desta vez entre 12% e 15%. Os números servem para aliviar um pouco as contas municipais sufocadas por dívida de R$ 1 bilhão -- quatro vezes o orçamento da cidade -- e como alento à realidade de desindustrialização do Grande ABC.
O Pólo de Sertãozinho é considerado grande trunfo para Mauá consolidar vocação industrial. Os cinco milhões de metros quadrados ainda disponíveis de área estritamente industrial são a última grande reserva de terrenos do Grande ABC para instalação de empresas. A classificação municipal de ZUP1 (Zona Predominantemente Industrial) deve ser reforçada com projeto que o deputado petista Donisete Braga está prestes a concluir para referendar Sertãozinho como bairro industrial também sob o guarda-chuva da legislação estadual.
Se o projeto for aprovado pela Assembléia Legislativa, será praticamente impossível qualquer contestação judicial sobre o destino dos terrenos disponíveis para fins não produtivos. A importância desse reforço legal encontra resposta na história recente da região e do próprio Pólo do Sertãozinho. A maioria das cidades do Grande ABC permitiu que a mistura de indústrias e residências no mesmo bairro agravasse o caos urbano do crescimento desordenado. Cerca de 60% das indústrias do Pólo de Sertãozinho estavam instaladas em outras cidades da região e muitas foram para Mauá porque não tinham como promover expansões físicas. "A lei estadual vai garantir maior estabilidade aos investimentos" -- entende Donisete Braga.
O trabalho de atração de empresas contou pontos decisivos para que Mauá conquistasse pelo segundo ano consecutivo o prêmio Mário Covas -- Prefeito Empreendedor, concedido pelo Sebrae. Além da chegada de empresas, o Sebrae levou em conta a implantação do Banco do Povo, da Incubadora de Empresas Barão de Mauá e do Mauá Plaza Shopping.
Logística no alvo -- A disponibilidade de áreas em Sertãozinho agrega ainda o atrativo da localização, principalmente depois que o governador Geraldo Alckmin garantiu ao prefeito Oswaldo Dias que as obras do trecho sul do Rodoanel devem ser iniciadas por Mauá. A Prefeitura também anunciou pacote de obras viárias que demandará R$ 10 milhões em investimentos para deixar a cidade totalmente interligada. Se os projetos estadual e municipal se concretizarem, será eliminada a jurássica cancela de trens de Capuava que a cada 15 ou 20 minutos interrompe a circulação de veículos numa das avenidas que dá acesso ao Pólo Petroquímico de Capuava. As petroquímicas são uma usina de ouro para a cidade, pois contribuem com 46% da arrecadação do ICMS. Mauá também aguarda a concretização do Citiplastic, projeto de condomínio industrial que planeja reunir empresas transformadoras de plástico e centro tecnológico, também em Capuava.
A concretização do trecho sul do Rodoanel e das obras viárias locais também reforça o trabalho de exportação vislumbrado pela Prefeitura, já que encurta a distância até o Porto de Santos. As indústrias instaladas em Mauá gastam em média uma hora e meia para chegar ao Litoral em condições normais de trânsito. A ligação com o Rodoanel encurtaria a viagem em 30 minutos. Esse tempo seria suficiente para acrescentar importante vantagem logística e de redução de custos aos eventuais futuros exportadores da cidade.
Os terrenos industriais do Sertãozinho permanecem ainda com mais uma vantagem atrativa natural. O preço do metro quadrado mantém-se entre 20% e 30% inferior à maioria das áreas industriais disponíveis na Grande São Paulo. O valor varia de R$ 15 a R$ 100, de acordo com o tamanho e a topografia, e não deve disparar mesmo diante das obras do Rodoanel. "Há muita oferta e o mercado não absorveria qualquer aumento de preço nesse momento" -- explica o vereador e também corretor de imóveis Paulo Bio.
Paulo Bio acredita que a velocidade de vendas de áreas industriais deve ganhar incremento somente quando houver maior disponibilidade de lotes menores. Há três projetos de loteamento em Mauá que disponibilizariam 450 lotes entre mil e dois mil metros quadrados cada, tamanho considerado ideal pelo corretor para empreendimentos de pequeno e médio porte.
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