Nem só redução de custos, reengenharia administrativa e investimentos em tecnologia atestam a excelência empresarial desde que a globalização econômica remodelou tudo o que se conhecia sobre fábricas. No coquetel de modernidade que tem levado empresas ao topo da qualidade também consta como ingrediente básico o gerenciamento ambiental, entendendo-se disso estar atento aos riscos de segurança e à saúde dos funcionários e, sobretudo, tornar superlativa a preocupação com o meio ambiente. Desde 1999 a Bridgestone Firestone do Brasil exibe a ISO 14000, um dos selos que carimba o passaporte de empresas comprometidas com o desenvolvimento sustentável, conceito aparentemente simples mas de prática profunda. Significa crescer economicamente com progresso social e proteção ambiental. Foi o que a BF Brasil decidiu fazer com mais ênfase a partir da década de 90, colocando a política ambiental entre as prioridades da carta de navegação que estruturou em busca da qualidade total.
O espelho do acerto dessa escolha está em várias iniciativas: a empresa de Santo André é a única fabricante no Brasil que possui máquina própria para picar os pneus refugados na produção e descartados para venda, implantou equipamento para também picar e reciclar todo plástico usado na separação dos diferentes componentes do pneu durante o processo produtivo, além de construir a própria estação de tratamento de efluentes, reaproveitando 99% da água que utiliza. A estação faz um ataque frontal em duas áreas: a BF Brasil economiza ao não usar água potável na linha de produção e deixa de eliminar resíduos líquidos na rede pública de esgotos. "A questão ambiental é ponto de honra. Ao picar pneus refugados, queremos ter certeza de que estamos evitando colocar no mercado um produto em não-conformidade" -- expõe Simone Fernandes Hosaka, diretora de TQM (Total Quality Management). A picadora de pneus pode processar até dois mil quilos por hora e custou à Bridgestone Firestone US$ 500 mil. A estação de tratamento exigiu outros US$ 2.700 mil entre 1992 e 1994 e processa por dia 2,2 mil metros cúbicos de água para reúso industrial, uma conquista ambicionada pela esmagadora maioria do parque econômico do Grande ABC. À falta de água industrial, as empresas se vêem às voltas com o alto preço da água potável e com o descarte de resíduos.
Para uma empresa pontuada por símbolos de modernidade, não surpreende o investimento em gerenciamento ambiental e segurança no trabalho. Antes do status de organização ecologicamente correta conquistado com a ISO 14000, a BF havia arrebatado em 1993 a ISO 9000 de qualidade total e em 1997 a QS 9000, um rosário de exigências feitas pelas três maiores montadoras de veículos americanas. Em 2003 a galeria de troféus está brilhando com a OHSAS, espécie de certificação internacional para a segurança e saúde ocupacional. Não era sem tempo. Pelo menos 7% dos investimentos da empresa são direcionados à segurança e a BF Brasil tem se debruçado particularmente sobre os acidentes de trabalho com afastamento. Foram 420 em 1990 e baixaram para 65 em 1994, um índice paradisíaco diante da média de 350 mil acidentes de trabalho por ano no Brasil, mas feroz para os padrões primeiromundistas da Bridgestone Firestone. Com os esforços pela qualidade total, os acidentes com afastamento na BF Brasil caíram para 51 em 1995 e tombaram para só dois em 2000, a melhor marca até agora. No ano passado foram cinco e no primeiro semestre deste ano ocorreu apenas um acidente que exigiu afastamento.
"A mesma conscientização sobre qualidade total trouxemos para a área de segurança e saúde ocupacional, pois trata-se de assumir nova postura no ambiente corporativo. Assim como se evita a geração de resíduos, deve-se conscientizar sobre como prevenir riscos trabalhistas" -- afirma Simone Hosaka. Todo semestre cerca de três mil funcionários passam por palestras para reciclar conhecimentos sobre ISO 14000 e OHSAS. Em caso de acidente, mesmo que sem afastamento, a mobilização pedagógica ocorre imediatamente. O trabalho de qualidade total é operacionalizado por todos os integrantes nas diferentes divisões, com ênfase maior onde ocorrem as auditorias do sistema de gestão, como os departamentos de qualidade assegurada, meio ambiente e segurança e saúde ocupacional.
Não é à toa que a fábrica brasileira ganhou da subsidiária norte-americana o Safety Excellence Award (Prêmio Excelência em Segurança no Trabalho) em 1999 e em 2002, concorrendo com outras 22 unidades do grupo nos demais países. A corporação nipo-americana tem por diretriz promover auditorias semestrais para acompanhar seus braços de negócios pelo mundo por meio de um conjunto interno de normas denominado Line Driving Safety. "A planta de Santo André sempre teve bom desempenho e tornou-se referência em saúde ocupacional. Foi daí que pensamos em nos credenciar para a OHSAS" -- fala com orgulho a diretora de Qualidade Total, já que a unidade brasileira é a única do Grupo BF a exibir a OHSAS.
É quase impossível quantificar em cifras os ganhos que a política de qualidade total e qualidade ambiental vêm rendendo à Bridgestone Firestone do Brasil. Só a derrubada dos acidentes de trabalho já dão uma vigorosa amplificada na produtividade e na imagem de atuação responsável da empresa perante os públicos interno e externo. Para quem gosta de exemplos, entretanto, vão mais três: já são tratados 100% dos resíduos gerados pelos 40 diferentes itens feitos pela BF Brasil e o nocivo óleo ascarel foi totalmente eliminado em 1990, quando a empresa passou a utilizar transformadores com outra alternativa tecnológica. Mais: a picadora de plásticos usados na produção evita que todo mês 78 toneladas sejam jogadas no lixo comum.
Pneu reciclável -- O empenho com que identifica gargalos e ataca pontos de desperdícios e riscos à segurança a BF Brasil exercita agora com a lei que atribui aos produtores a tarefa de reciclar pneus usados considerados inservíveis. Desde 26 de agosto de 1999 existe a resolução 258/99 do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) sobre essa obrigatoriedade. Para a Bridgestone Firestone, reciclar não é novidade, já que o pioneirismo de ter dentro da fábrica uma picadora de refugos a fez procurar há tempos parceiros que usam o chamado escrepe (rejeitos) como insumo.
Uma vez vulcanizado, um pneu não volta a ser pneu. A reconversão é impossível sobretudo com a preocupação crescente de aumentar a durabilidade dos pneus usando menos borracha regenerada. É como um bolo que, depois de cozido, não volta a ser ovo, farinha e leite isoladamente. É possível, porém, usar pneu como matéria-prima para produzir energia elétrica ou térmica nas indústrias de cimento, papel e celulose, processadoras de soja e cana-de-açúcar, no asfalto emborrachado, na produção de tapetes, rodos e cones, além de poder substituir a brita na construção civil, entre outros. Sem medo de avançar em caminhos pouco conhecidos -- já que não há estatísticas sobre taxas de reciclagem nem sobre qual é o passivo ambiental dos pneus velhos -- a BF aliou-se à Anip (Associação Nacional da Indústria de Pneus) na campanha de recolhimento de peças usadas e encaminhamento aos centros de reciclagem. As iniciativas são conjuntas ou isoladas. Em junho último, por exemplo, a Bridgestone deu um ingresso de arquibancada e um boné da Fórmula Truck para quem fosse à corrida realizada em Brasília e levasse quatro pneus inservíveis de qualquer marca às revendas BF Brasil. Foram recolhidos perto de oito mil pneus inservíveis na Capital federal.
Pneu é considerado pelos organismos ambientais estaduais como resíduo classe 2, ou seja, não-inerte. Não está na classe 1, de itens perigosos como os resíduos radioativos, nem na classe 3, de produtos inertes. Por isso a solução dos fabricantes foi recolher o material sem condições de uso, pois trata-se de um produto que faz volume e ajuda a poluir rios e lixões. "Não há legislação federal em nenhum país no mundo sobre isso. Outros países desenvolveram um mercado profissional de reciclagem, já que o próprio consumidor tem de pagar entre US$ 1 e US$ 2 como taxa para seu pneu velho ser recolhido. Esses recursos custeiam o pessoal que transporta, que tritura e queima" -- comenta Simone Hosaka.
Além da campanha de conscientização para que se levem pneus inservíveis às revendas, a Anip decidiu aproveitar o circuito informal de coleta existente há mais de 50 anos no Brasil e que envolve estimadas 10 mil famílias. Com isso, evita agravar o problema da exclusão social. Pela resolução do Conama, em 2002 deveriam ser reciclados 25% do total de pneus no País -- somando a produção interna mais a importação e subtraindo-se a exportação. Isto é, para cada quatro pneus novos, um deveria ser reciclado. Em 2003 a reciclagem deve atingir 50% (dois a cada quatro novos), em 2004 serão 100% e em 2005 estão fixados 125%, quando as partes voltam a sentar. Até agora foram criados sete centros de coleta e reciclagem no Brasil. Na Grande São Paulo um dos parceiros para esse trabalho é a CBL, de São Bernardo.
Ações sociais -- Juntar-se aos demais fabricantes que, em tese, são concorrentes no disputadíssimo mercado automotivo brasileiro, como se vê, é só mais um capítulo do roteiro que a Bridgestone Firestone desenhou como empresa socialmente responsável. Nesse colar de contas ambientais e trabalhistas soma-se ainda a comunidade. A BF Brasil tem estado em várias frentes também quando se trata de serviços à população, como foi o caso do apoio à restauração do Cine-Teatro Lauro Gomes, que devolveu um dos patrimônios históricos a Santo André, e da instalação de um jornal eletrônico na Acisa (Associação Comercial e Industrial) transmitindo em tempo real as principais notícias do dia e indicadores econômicos.
A fábrica também assina o projeto governamental Pela Vida - Não à Violência, que leva palestras às escolas sobre o problema da criminalidade urbana, e traz as famílias de funcionários para conhecer a linha produtiva por meio do programa Open House. Uma vez por mês 65 familiares percorrem a fábrica para saber como se faz pneus e como é o ambiente de trabalho onde estão os parentes. Igual iniciativa a BF Brasil tem junto a escolas, clientes e outras empresas interessadas. O programa Visita à Fábrica estruturou quatro roteiros para cada tipo de público que queira conhecer o todo ou detalhes da arte de produzir pneus. "Já atendemos 600 pessoas em média anualmente entre estudantes e clientes" -- alegra-se a diretora de Qualidade Total, Simone Hosaka.
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