O mote Nosso Futuro É De Plástico, lançado por LivreMercado em recente Reportagem de Capa como alternativa de recuperação econômica do Grande ABC, ganhou adesão substancial: um dos maiores investidores do segmento petroquímico brasileiro e principal acionista de empresas do Pólo de Capuava, o Grupo Unipar saiu do casulo para sensibilizar a sociedade regional sobre os benefícios implícitos do fortalecimento do setor.
O presidente Roberto Dias Garcia e o vice Vítor Mallmann já se reuniram na Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André), no Ciesp (Centro das Indústrias) e na Prefeitura de Santo André para divulgar a Unipar e demonstrar que o desenvolvimento das atividades petroquímicas atende tanto a necessidades corporativas de ganhos de escala e retorno de investimentos quanto às demandas regionais de renda, emprego e geração de impostos.
"Os interesses do Grupo Unipar e do Grande ABC se entrelaçam. O Pólo de Capuava respondeu por 56% dos nossos investimentos e 77% do faturamento em 2002" -- expõe o presidente Roberto Garcia, que vem do Rio de Janeiro especialmente para esses encontros. "Os vínculos entre a Unipar e a região são históricos, mas apesar disso o grupo é desconhecido a ponto de ser frequentemente confundido com Unipark, uma rede de estacionamentos" -- comenta com humor Vítor Mallmann, que também é superintendente da Polietilenos União.
No Pólo de Capuava o Grupo Unipar tem controle parcial da Petroquímica União, com 37,2% das ações, e da Polibutenos, com 33,3% de participação, além de deter controle integral da Polietilenos União e das divisões Unipar Química e Unipar Comercial. Fora do Grande ABC o Unipar é dono da União Terminais, em Santos, além de deter 50% das ações da Carbocloro, em Cubatão (SP) e 10,1% da Petroflex, fabricante de borrachas sintéticas com fábricas em Duque de Caxias (RJ), Triunfo (RS) e Cidade do Cabo (PE).
A interlocução do Grupo Unipar com agentes públicos e econômicos busca suporte institucional num momento crucial para o futuro do Grande ABC, que reúne pelo menos 326 transformadoras de plástico, conforme mapeamento feito em 2001 pela consultoria MaxiQuim. Segundo Vítor Mallmann, a necessária ampliação da capacidade do Pólo de Capuava foi historicamente emperrada por duas travas enquanto os concorrentes da Bahia (Copene) e do Rio Grande do Sul (Copesul) superaram o núcleo pioneiro do Grande ABC. A primeira trava caiu no ano passado com a alteração de lei de 1978 que impedia a expansão petroquímica na Região Metropolitana de São Paulo. A segunda -- que precisa ser eliminada -- é a indisponibilidade de matéria-prima pela Petrobras, que controla as centrais de refino espalhadas pelo País. Garantir suprimento adicional de nafta é condição para o crescimento do pólo.
Por enquanto o Grande ABC ainda esbarra na indefinição do fornecimento. Para que a PQU e a Polietilenos cumpram o cronograma e concretizem a expansão produtiva projetada para o fim de 2006, é necessário que o contrato com a Petrobras seja formatado ainda este ano. E quanto mais cedo melhor" -- comenta Vítor Mallmann. "Só falta definir o fornecimento de matéria-prima para dar início ao investimento de US$ 400 milhões nos próximos quatro anos" -- reforça Roberto Garcia.
A PQU tem projeto de ampliar em 40% a capacidade de produção de etileno, de 500 mil para 700 mil toneladas/ano. Com essa oferta adicional da empresa-mãe, a Polietilenos teria condições de mais que duplicar a produção. Saltaria das atuais 130 mil toneladas/ano para 280 mil toneladas/ano com outra fábrica no mesmo terreno.
Primeira central brasileira de matérias-primas, criada em 1972, a PQU responde por apenas 18% do etileno produzido no Brasil. A baiana Copene, que entrou em operação em 1978, tem capacidade para 1.280 mil toneladas anuais e responde por 43% do consumo nacional. Em operação desde 1982, a Copesul pode processar até 1.135 mil toneladas de etileno por ano, com participação de 36% no mercado nacional.
Petrotur -- Livres do empecilho legislativo removido principalmente pela atuação do deputado petista Donisete Braga, autor do projeto de lei que dá novo fôlego ao pólo, os comandantes do Grupo Unipar recarregam a bateria de argumentação nas negociações com a Petrobras. Roberto Garcia afirma que a estatal deveria promover o que chama de redefinição política estratégica que leve em conta a geoeconomia do setor.
"O Sudeste brasileiro concentra mais de 50% da produção nacional de nafta, mas o Pólo de Capuava sofre com falta de matéria-prima porque boa parte do insumo gerado na região é exportado para Copene e Copesul" -- explica o presidente, que utiliza propositalmente o termo de comércio internacional para sublinhar o longo caminho que o insumo percorre via dutos subterrâneos quando um grande cliente mora literalmente ao lado.
Outro argumento de peso é o fato de o Sudeste ser o grande consumidor da cadeia petroquímica. Seria razoável do ponto de vista econômico, portanto, que o governo federal induzisse a produção no núcleo de consumo. "A região Sudeste consome 70% dos termoplásticos e 75% dos petroquímicos produzidos no Brasil, além de deter 65% do PIB (Produto Interno Bruto)" -- expõe Roberto Garcia.
O desajuste entre oferta e demanda gera fenômeno que Vítor Mallmann chama comicamente de Petrotour: a nafta produzida nas refinarias do Sudeste viaja até os pólos do Rio Grande do Sul e da Bahia para retornar em forma de produtos acabados à macrorregião mais desenvolvida do País. "Os petroquímicos percorrem milhares de quilômetros para serem consumidos aqui" -- sintetiza o vice-presidente do Grupo Unipar. "O pior é que se transporta ar no interior das garrafas plásticas" -- completa.
Vítor Mallmann e Roberto Garcia endossam o conceito Grande ABC de plástico ao observar que a região tem vocação natural para a cadeia do petróleo. Consideram que o Pólo de Capuava reúne duas condições valiosas para o segmento: proximidade das fontes de insumos e proximidade do mercado consumidor. "A posição logística é fundamental para fabricantes de commodities. Produtos básicos como os petroquímicos tem decisão de compra tomada exclusivamente no fator preço. Mas é preciso ampliar e muito a capacidade de produção para que essas vantagens não sejam eliminadas pela baixa escala" -- explica Vítor Mallmann.
As considerações dos executivos do Grupo Unipar convergem com a reportagem Nosso Futuro É de Plástico e estão sintonizadas com os ensinamentos de Michael Porter, especialista norte-americano em competitividade para quem as regiões devem se especializar em segmentos nos quais tenham maiores possibilidades de prosperar. Como a descentralização do setor automotivo é uma estrada sem retorno, nada mais certo do que investir no Pólo de Capuava, que acabou se estruturando como um cluster por natureza porque as empresas já atuam sinergicamente.
Além de deter patrimônio petroquímico concentrado no Grande ABC mas espalhado literalmente de Norte a Sul do País, o Grupo Unipar se dedica a megaprojeto de US$ 1,1 bilhão no Rio de Janeiro. Em construção na cidade de Duque de Caxias, a central Rio Polímeros foi projetada para produzir 500 mil toneladas de etileno e 520 mil toneladas de polietilenos utilizando como matéria-prima frações do gás da Bacia de Campos. A previsão é de que a nova central entre em operação no fim de 2004. Os comandantes do Unipar acreditam que o Grande ABC não deva enxergar o novo pólo como ameaça. "O fortalecimento da holding amplia a capacidade de investimentos em Capuava. A Copene e a Copesul é que concorrem com a região" -- destaca Vítor Mallmann.
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