Os Arranjos Produtivos Locais podem emergir de modos diferentes para uma mesma atividade, como deixou claro o painel sobre experiências nacionais, que expôs dois modelos opostos do setor mobiliário. Enquanto o Instituto Evaldo Lodi, de Santa Catarina, dedica-se a fortalecer empresas tradicionais da região de São Bento do Sul, a Secretaria de Indústria e Comércio de Uberlândia, no triângulo mineiro, aposta no potencial aglutinador de uma grande empresa de capital internacional. São Bento volta-se ao desenvolvimento endógeno, enquanto Uberlândia investe no desenvolvimento exógeno, para utilizar jargão comum entre especialistas em regionalidade. Pena que a riqueza do contraditório não tenha sido aproveitada por lideranças setoriais do Grande ABC, que não participaram do evento.
O orçamento do programa de fortalecimento do setor mobiliário de São Bento do Sul é de R$ 1,6 milhão, dos quais R$ 900 mil empenhados pela Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) e R$ 700 mil pela Funcitec (Fundação de Ciência e Tecnologia de Santa Catarina). O programa toma como base a materialização de quatro projetos que dão conta das principais necessidades das empresas da região levantadas em pesquisa. São laboratórios nas áreas de secagem, de caracterização de materiais, de design e de ensaio de embalagens. Cada laboratório foi ou está sendo montado em uma escola diferente do Estado. O de secagem foi instalado na Furb (Universidade Regional de Blumenau), o de ensaio de embalagens em uma unidade do Senai, o de caracterização de materiais na universidade federal e o de design na universidade estadual.
"Entre as universidades se formou uma rede de cooperação muito boa, mas com as empresas tive e estou tendo grandes dificuldades" -- afirmou Antônio Rogério, coordenador da unidade de Inovação e Transferência Tecnológica do Instituto Evaldo Lodi. Segundo o pesquisador, identificar as verdadeiras lideranças empresariais é um dos maiores desafios na articulação de um arranjo produtivo. "No início a diretora do sindicato das empresas participava ativamente da iniciativa. Só que ela deixou o cargo e o substituto era completamente avesso ao projeto. Com a experiência aprendi que o aval da liderança oficial não é tão importante quanto imaginava no começo" -- comentou Antônio Rogério.
Outro obstáculo cultural apontado pelo pesquisador é que a maior parte dos grandes empresários mostrou-se pouco motivada a aperfeiçoar-se nas áreas de pesquisa e desenvolvimento. O comodismo é resultado direto das características do pólo moveleiro de São Bento do Sul que, segundo Antônio Rogério, exporta muito, mas sem design nem marca própria. "Dar personalidade e elevar o valor agregado do mobiliário da região é o grande desafio" -- explica.
Italianos -- Na contramão da experiência catarinense voltada à valorização de produtos made in Brazil, a mineira Uberlândia prefere o papel de coadjuvante num roteiro que reserva o posto principal à pujante indústria italiana. Um grupo de empresários ligados à Federação da Indústria Moveleira da Itália resolveu criar uma fábrica em Uberlândia atraído principalmente pela acessibilidade à matéria-prima. "A fartura de madeira foi o grande atrativo. Uberlândia está inserida no cerrado brasileiro e somente no triângulo mineiro há 120 mil hectares de área florestada" -- contou o secretário de Indústria e Comércio, Olavo Vieira da Silva, referindo-se à região da qual também fazem parte Uberaba e Ituiutaba.
Em troca do investimento, a Prefeitura cedeu área de um milhão de metros quadrados para criação de um pólo de móveis, dos quais 300 mil metros foram destinados aos italianos, reunidos sob a holding Sviluppo, e o restante a empresas brasileiras e outras internacionais. A fábrica italiana está em construção e planeja ter a primeira etapa de 11 mil metros quadrados inaugurada em dezembro deste ano. No mesmo mês a Secretaria de Indústria e Comércio de Uberlândia pretende realizar seminário para apresentação do projeto do pólo a outros investidores potenciais.
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