Economia

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ANDRE MARCEL DE LIMA - 05/11/2003

A Volkswagen pôs em marcha seu plano de recuperação no Brasil mas, infelizmente para o Grande ABC excessivamente dependente do setor automotivo, as pretensas soluções passam longe dos limites regionais. Além de centralizar a produção do recém-lançado Fox na planta paranaense de São José dos Pinhais, a Volks divulgou que o veículo compacto que substituirá o campeão de vendas Gol será produzido na fábrica de Taubaté, Interior de São Paulo. A informação foi confirmada pelo vice-presidente mundial, Peter Hartz.

Conclusão: apesar de oferecer espaço físico de sobra e mão-de-obra farta representada pelo excedente de quase dois mil trabalhadores na mira do projeto Autovisão, a maior e mais antiga planta da Volks no Brasil foi colocada para escanteio pelos executivos alemães. A constatação desagradável é clara quando se sabe que o Fox não é apenas mais um produto na linha de produção, e sim o mais aguardado e festejado automóvel da marca, no qual deposita as últimas esperanças de retomar a liderança no mercado brasileiro. 

Diferentemente do Polo, modelo requintado cuja produção na Anchieta é relativamente limitada, o Fox tem preço mais acessível e é direcionado a faixa de público muito mais ampla. Custará entre R$ 20.990 na versão 1.0 e R$ 24.990 com motorização 1.6. "Planejamos vender 100 mil unidades em 2004 e acrescentar de 2% a 3% pontos percentuais de participação no mercado interno" -- afirma o presidente da subsidiária brasileira, Paul Fleming. Ainda este ano a Volks espera vender oito mil unidades. O investimento em São José dos Pinhais é de R$ 1,7 bilhão.  

Entre as razões que afastam do Grande ABC os projetos de veículos mais econômicos está o custo trabalhista comprovadamente mais alto do que nas regiões de industrialização mais recente. A tendência é que as plantas da região concentrem apenas a produção de modelos mais sofisticados e rentáveis como estratégia para compensar o peso da mão-de-obra na planilha de custos, como o Polo e o modelo para exportação da família Fox que a Volks prometeu para São Bernardo.


Pelo retrovisor -- A expectativa de recuperação com o Fox é compreensível. A Volks descambou para o terceiro lugar no pódio e amarga prejuízos no Brasil desde 1997, depois de liderar folgadamente o mercado interno nos tempos de mercado fechado. Números de licenciamentos de automóveis e comerciais leves entre janeiro e setembro de 2003 dão contornos precisos à situação constrangedora de quem, no passado, já ocupou o olimpo setorial com quase 50% das vendas.   

No acumulado do ano a Fiat lidera com participação de 24,46% e 226.929 unidades vendidas do total de 927.411. A General Motors segue colada na vice-liderança com vendas de 224.759 automóveis e comerciais leves, que representam 24,23% do bolo, enquanto a Volkswagen ocupa a terceira colocação com 22,07% e vendas de 204.725 unidades. A Ford aparece em quarto lugar com vendas de 102.864 e 11,09% de market-share. 

A reduzida participação da Volks em relação aos principais concorrentes se dá em mercado compactado por fatores como desemprego em alta, rendimentos em baixa e juros ainda elevados apesar das últimas reduções na Selic. No acumulado de janeiro a setembro de 2002 foram licenciados 1.026.694 automóveis e comerciais leves, 99.283 a mais que os 927.411 deste ano. O encolhimento é de 9,67% em relação ao ano passado. 

A Volks sofre de males conjunturais e estruturais porque, à lentidão do ritmo econômico que afeta a todos, se soma a especificidade do Custo ABC, do qual Ford e GM também procuram escapar pela porta da descentralização produtiva dissimulada, isto é, sem desativação das operações. Parte do fardo trabalhista da Volks está sendo desmobilizado por meio de uma estratégia altamente custosa batizada de Autovisão, que inclui até pagamento de salários a trabalhadores que toparem ficar em casa. 


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