Economia

Apenas outro
dia de discurso

VERA GUAZZELLI - 05/12/2003

Foi mais uma manhã de discursos. A edição Grande ABC do Fórum Legislativo de Desenvolvimento Sustentado, no Pampas Palace Hotel em São Bernardo, chegou com pelo menos oito anos de atraso e não acrescentou qualquer novidade ao debate regional. A tentativa de reunir mais uma vez poder público e comunidade para discutir o futuro da região produziu outro espetáculo político recheado de retórica inflamada, mas pobre em cenas de ação. Só houve uma novidade: novos personagens se juntaram aos antigos para repetir um diagnóstico há muito conhecido, mas cujo tratamento tem sido constantemente adiado.  

O Grande ABC perdeu 39% de Valor Adicionado -- o maior indicador de riqueza industrial -- de dezembro de 1994 a dezembro de 2002 e ainda não conseguiu mobilização política e institucional suficientes que apontem a reversão desse quadro. Por isso, a iniciativa da Assembléia Legislativa de instituir um fórum permanente sobre regionalidade deve trazer pouco efeito prático. Acostumada ao varejo e ao fisiologismo que alimenta o ciclo eleitoral a cada quatro anos, a maioria dos parlamentares ainda revela pouca habilidade para entender a diferença entre quantidade e qualidade diante da escassez de recursos públicos e da multiplicação exponencial das demandas da população. 

Dos nove deputados estaduais eleitos pelo Grande ABC, só seis prestigiaram o evento patrocinado pela própria casa legislativa e dirigido pessoalmente pelo presidente Sidney Beraldo. Até uma hora antes do horário previsto para o término dos trabalhos, Ana do Carmo, Pastor Bittencourt e Donisete Braga não constavam da lista de autoridades presentes. As falas também seguiram o ritual carimbado de sempre. Rodoanel, desemprego, apoio às pequenas e microempresas e recuperação da Represa Billings foram os temas escolhidos para consubstanciar o estilo palanque. Até mesmo a obesidade chegou a ser colocada como uma das causas que comprometem os indicadores de longevidade do Grande ABC. A intervenção desconectada partiu do deputado e médico José Dilson.

Diante de tanto entusiasmo, coube ao presidente da Associação dos Construtores do Grande ABC, Milton Bigucci, manter os pés no chão. "Nosso principal problema é a redução da riqueza" -- foi enfático, ao lembrar que a região se contenta com pouco e faz festa para qualquer ação governamental, por menor que seja. O governo estadual rejeitou todas as emendas do Grande ABC ao orçamento de 2004 e o federal ainda não liberou um centavo dos R$ 4,4 milhões referentes às 21 emendas aprovadas no orçamento da União de 2003.  O valor é exatamente a metade do que foi gasto até outubro pelo gabinete presidencial em passagens e despesas de locomoção, como lembrou a newsletter Capital Social OnLine, da Editora Livre Mercado.


Responsabilidade social -- A edição regional do Fórum Legislativo de Desenvolvimento Sustentado também apresentou os resultados do IPRS (Índice Paulista de Responsabilidade Social), indicador socioeconômico construído pela Fundação Seade para referenciar a qualidade de vida dos municípios paulistas. O IRPS mostra a posição dos municípios nos anos de 1997 e 2000 nos itens riqueza municipal, longevidade e escolaridade e coloca o Grande ABC em situação privilegiada. O IRPS aponta que apenas São Bernardo perdeu riqueza, caindo da sétima para a 12ª posição do ranking no período analisado pelo Seade.

Diadema saiu de 68º para 59º, Mauá de 58º para 44º e Ribeirão Pires de 64º para 53º. Santo André evoluiu de 20º para 18º, Rio Grande da Serra de 138º para 111º e São Caetano permaneceu na quarta posição.

Os números da Secretaria da Fazenda, portanto do próprio governo estadual, mostram que todos os sete municípios da região perderam Valor Adicionado nos últimos oito anos. O IRPS, porém, atribui peso de apenas 14% ao VA per capita na composição do índice riqueza. O IRPS também coloca a Região Metropolitana de São Paulo como a mais rica do Estado, enquanto o último levantamento do IEME (Instituto de Estudos Metropolitanos) aponta que a Grande São Paulo perdeu, também em oito anos, R$ 15,9 bilhões em VA, um montante que revela, entre outras causas, a transferência de plantas industriais para Campinas, Sorocaba e São José dos Campos ou para outros Estados, em consequência da desindustrialização e da guerra fiscal. 


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