Foi uma verdadeira gestação: nove meses depois da criação do posto avançado do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) em Santo André, a Agência de Desenvolvimento Econômico comemora a oficialização do primeiro empréstimo para uma empresa do Grande ABC. A Squadroni receberá R$ 615 mil para investir na transferência da fábrica de São Caetano, onde foi fundada há mais de 50 anos, para o distrito industrial de Sertãozinho, em Mauá. "Em Mauá poderemos expandir as atividades sem atrapalhar a vizinhança, já que o Bairro Santa Maria é residencial e não permite operação à noite" -- explicam Sérgio e Sandro Squadroni, à frente da empresa que produz 1,5 milhão de rodízios de cadeiras por mês.
A liberação de empréstimo para a empresa familiar de 100 funcionários é digna de comemoração quando se constata que o BNDES sempre direcionou bateria de crédito principalmente para o universo das grandes corporações nacionais e estrangeiras. Mas é bom ir devagar com o andor antes de tomar o fato como monumento a um suposto poder persuasivo das instâncias regionais sobre esferas governamentais superiores porque a realidade é que as atribuições do posto avançado são extremamente limitadas. Tanto isso é verdade que -- à exceção do episódio Squadroni -- o departamento instalado no interior da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC não tem qualquer controle de outros possíveis empréstimos concedidos pelo banco federal de fomento às empresas instaladas na região.
"Não há como saber se outras empresas obtiveram empréstimos porque nosso papel é de orientação: apresentarmos as linhas de crédito e direcionamos os interessados para um dos agentes financeiros habilitados ao repasse. Ficamos sabendo do êxito da Squadroni porque eles telefonaram para agradecer o atendimento inicial. Pode ser que outras empresas tenham sido contempladas com crédito do BNDES, mas não nos avisaram" -- explica Roberto Anacleto dos Santos, consultor à frente do posto avançado de Santo André, que recebe por dia pelo menos um empreendedor interessado.
Roberto dos Santos afirma que já solicitou ao centro nervoso do BNDES, localizado no Rio de Janeiro, um levantamento dos empréstimos concedidos pelo banco a empresas do Grande ABC para que se tenha, ao menos indiretamente, um retrato dos possíveis resultados colhidos na região. Este ano o banco trabalhará com megaorçamento de R$ 47 bilhões.
A limitação operacional do posto avançado mostra o quanto a realidade colide com a aura de ufanismo à época da inauguração, em junho do ano passado. Agentes políticos transmitiram a impressão de que o Grande ABC ganharia uma pista expressa de ligação com a maior instituição de fomento do País e finalmente usufruiria de tratamento diferenciado que reduziria os estragos da globalização. A prática mostra que o modelo vigente está a léguas de distância do conceito de Banco Regional defendido por LivreMercado sob inspiração do economista Paul Singer, que sugeriu ao Grande ABC mobilizar-se por um BNDES próprio a partir de recursos aqui gerados e destinados exclusivamente à região. O território brasileiro mais afetado pela abertura econômica sem limites não pode se dar por satisfeito com o simulacro da agência do banco acordada no âmbito da Câmara Regional. Afinal, os mais de 30 postos avançados do BNDES no País foram instalados sem que municípios precisassem se unir em torno de agências de desenvolvimento e consórcios. Na imensa maioria dos casos bastaram convênios com associações locais de indústria e comércio.
"O grande problema é que o posto avançado não acompanha os projetos" -- reconhece Jaime Guedes, membro do IEME (Instituto de Estudos Metropolitanos), diretor do Centro Universitário Uni-A e consultor independente de projetos empresariais para apreciação do BNDES. A Guedes Consultoria é responsável pelo projeto de transferência e ampliação da Squadroni, cuja construção avança em Mauá e deve estar concluída até junho deste ano.
A idéia de atuar como consultor floresceu depois do envolvimento no projeto de ampliação da Uni-A, lançado antes da criação do posto avançado no Grande ABC. Jaime Guedes se dedica à elaboração de novos projetos -- ampliação de uma indústria plástica de Mauá e estruturação de uma casa de shows em São Bernardo.
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