A Câmara Regional é assunto presente em praticamente todas as edições de LM, mas duas reportagens de capa posicionam a linha editorial da revista a respeito desse arranjo político-institucional entre poderes públicos do Grande ABC, governo do Estado, comunidade e mais recentemente governo federal que teria tudo para decolar, mas derrapa nas soluções porque dispersa-se no excesso de temas. Em agosto de 1997, logo depois de a Câmara ser criada, o Grande ABC foi simbolizado por um potente avião levantando o que LM batizou de O Vôo da Esperança no título de capa. Era a aposta em uma aeronave já cansada de guerra, ameaçada de fadiga de material pelas deserções de indústrias que deram fama à região e pelo nenhum associativismo entre agentes regionais. A aposta era justamente na então inédita integração que o Grande ABC prometia exercitar para correr do prejuízo de sucessivas perdas econômicas e baixas sociais. Em dezembro de 2000, o símbolo da reportagem de capa era autoexplicativo: uma tartaruga ilustrava a lentidão das respostas que as instituições dão à necessidade de reencontrar nossa competitividade regional. Devagar, Quase Parando foi o título da histórica matéria.
Não se sabe se os agentes políticos e econômicos que têm poder de decisão não se dão conta da gravidade da situação do Grande ABC ou se preferem fingir ignorância. Mas a verdade é que todos que tomam o pulso da região não têm sido capazes de fazer frente aos alicerces abalados da economia regional. O Grande ABC tem se mostrado caso único no Brasil de perda de 39% de riquezas industriais apenas no liberalizante governo Fernando Henrique Cardoso sem que haja um levante mínimo e sério de armas. Parece que, sem crise, os governantes perderiam a sensação de utilidade.
Na Câmara Regional temas cruciais para a economia local não andaram ou simplesmente submergiriam. São os casos do fundo de aval instituído pela Nossa Caixa para socorrer as cadeias produtivas, do grupo técnico que proporia soluções à competitividade da nossa jóia da coroa -- a indústria automobilística -- e do grupo que estudaria o acordo da urgente produção de água industrial mais barata. Sete anos depois, o propagandeado pólo tecnológico que implantaria a excelência produtiva nos setores moveleiro, de autopeças e de plásticos apenas engatinha com a instalação do primeiro centro de apoio para a cadeia plástica (veja página 30). Até mesmo a prometida maior abertura da entidade não decola. No último ano prefeitos e técnicos trabalharam como nunca a portas fechadas e ignoraram proposta de LM para democratizar as idéias e decisões por meio de um conselho consultivo com membros da comunidade.
Sucedem-se reuniões técnicas, encontros políticos, assinaturas de documentos, e não se tem um projeto viável, firme e forte que volte a fazer a economia do ABC pegar. Pesam nessa frustração os muros que ainda se erguem entre os sete municípios, seja pela fogueira política de vaidades, seja por puro desinteresse. O que se esperava depois de sete anos e centenas de trabalhos que resultaram em 55 acordos, dos quais só 22 considerados realizados, é que houvesse um projeto integrado e salvador da economia deste território que produz 9% do PIB do Estado e tem o quarto potencial de consumo do País. Significa ir muito além de cavar meia dúzia de piscinões e de criar uma Agência de Desenvolvimento Regional às voltas com falta de orçamento.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)