Pioneira na produção de colas à base de borracha sintética, a cinquentenária Brascola quer marcar meio século de atuação posicionada sobre nova fase estratégica. Com base no crescimento meteórico da produção mundial de adesivos e selantes quintuplicada em 30 anos, a fabricante da famosa marca Araldite investe nos chamados smart adhesives, ou adesivos inteligentes, para se blindar contra a concorrência. Considerada uma das maiores fabricantes de colas e selantes do Brasil, a indústria investe na produção de adesivos termoplásticos empregados na colagem de embalagens tetra-pak multicamadas.
Tecnologia relativamente recente, os adesivos termoplásticos conhecidos como hot melts não são tóxicos e trazem baixo impacto ambiental devido à ausência de poluentes e facilidade na aplicação. Uma das maiores vantagens apontadas por profissionais da área química é o menor custo industrial, devido ao processamento a temperaturas mais baixas, entre 100ºC e 120ºC, o que gera maior economia de energia elétrica. Definidos como ecologicamente corretos, os hot melts entram com tudo na disputa entre tradicionais fabricantes para atender a demanda por produtos mais eficientes. No mundo de colas, selantes e adesivos, isso significa preços competitivos, secagem rápida, e claro, produtos que não descolem facilmente.
Nicho em franca expansão, os adesivos termoplásticos crescem 10% ao ano. A perspectiva do setor é de triplicar o crescimento médio anual em cinco anos no cenário nacional. Só o segmento de embalagem equivale a 48% da participação de hot melts no Brasil, enquanto que o de non woven (fraldas descartáveis) já atinge 20% e o de papel e gráfica responde por 10%.
"A tecnologia irá substituir gradativamente a utilização de adesivos de base solvente e em alguns casos até os de base aquosa, devido à maior rapidez, eficiência e facilidade nas diversas aplicações, baixo impacto ambiental e menor custo industrial, quando comparado aos demais adesivos ou outros sistemas de fechamento de embalagens" -- acentua o vice-presidente Gunther Marçon Faltin.
De olho em um setor que movimenta por ano US$ 100 milhões e responde por 17% do bolo geral de adesivos no cenário nacional, a Brascola acelera para marcar posição no segmento industrial de colas. A arrancada rumo aos planos de alcançar 15% do mercado de hot melts até 2005 teve como mola propulsora a aquisição em 2002 da antiga Colabene" -- comenta Gunther Marçon.
Presente no mercado de adesivos desde 1974, a Colabene foi incorporada à Brascola e há três meses teve as operações transferidas de Campinas, Interior de São Paulo, para a planta de São Bernardo, posicionada em 25 mil metros quadrados próxima à Via Anchieta. A marca Colabene segue como líder no segmento de espumas. "A produção atual de hot melts está em torno de três mil toneladas por mês e devemos crescer muito mais, pois iniciamos ofensiva no mercado externo" -- informa o vice-presidente. Proveniente de outros países, principalmente dos Estados Unidos, pela necessidade emergente de resultados cada vez mais eficientes na cadeia produtiva, os hot melts consistem na formulação de resinas sintéticas e naturais, ceras, parafinas, aditivos, e estabilizantes, que quando adicionados e aquecidos em alta temperatura no misturador formam a massa do adesivo, posteriormente transformada em pastilhas, blocos e pérolas.
Casamento lucrativo -- A tática de distribuir os ovos em cestas diferentes é estratégia de crescimento. Além da produção de hot melts para embalagem e rotulagem, a empresa de São Bernardo centra o poder de fogo na ampliação do fornecimento de outras linhas para as áreas automotiva, calçadista e da construção civil. Alimentar capilaridade comercial com parceiros de peso tem sido uma das principais ferramentas da Brascola para abastecer e reforçar os sete segmentos onde atua. Prova disso foi recente acordo com a Pulvitec, especializada em fabricação, pesquisa e desenvolvimento de colas, adesivos, massas e fitas para construção civil e material escolar, que vem permitindo participação conjunta em eventos e feiras de construtoras.
"A proposta surgiu depois que passamos a envasar produtos da linha de PVA, ou cola branca, na Pulvitec. Espécie de casamento moderno sem divisão de bens, a parceria permitiu agregar valor aos produtos e fortalecer a participação em exposições" -- sublinha o vice-presidente Gunther Marçon. Para testar as marcas, as fabricantes oferecem cursos gratuitos de especialização em aplicações de produtos para construção civil e área hidráulica, um dos carros-chefes da Pulvitec.
A aliança já foi testada em feiras como Construir, realizada em São Paulo, na Intercon em Joinville e na ExpoConstrução, em Salvador: a Brascola apresentou os lançamentos Brascoflex Piso, usado para colar tacos de madeira sem agregar água à colagem, e o Brascoflex Telha Térmica, produto empregado na montagem de telhas térmicas cuja composição evita a propagação de chamas em caso de incêndio. Já na indústria calçadista os destaques são para os lançamentos da linha base água Aquafix Montagem, Aquapren Super e outros como Halogem, Brascovult Spray e Brascofix Palmilheiro.
Com portfólio de mais de 600 itens, a empresa de São Bernardo produz 1,6 mil toneladas por mês de colas, adesivos e selantes para os segmentos automotivo, comércio, madeireiro e moveleiro, construção civil, embalagens e rotulagens, artes gráficas, calçados e couros. São mais de 400 funcionários. A assistência técnica em 10 mil nomes é outro ponto alto. A Brascola mantém filiais -- Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Ceará, além de Birigui e Franca em São Paulo. São 140 representantes comerciais em todo o País. Presente nas 20 maiores redes de home centers e em mais de 100 mil postos de vendas, a Brascola atua na América Latina, Estados Unidos e Europa com linhas para construção civil, indústria calçadista e de consumo. "No ano passado a divisão de exportação fechou em US$ 1,266 milhão e este ano estimamos US$ 2 milhões" -- projeta o vice-presidente.
Fundada pelo casal franco-alemão Jacques e Liselotte Bauer em 1953, a Brascola, abreviação de Brasil Cola, inovou os métodos de fabricação de colas para a indústria calçadista com o adesivo Brascofix, que trouxe maior competitividade à produção nacional. Em 1954 a empresa se uniu à alemã Koemmerling Chemische Fabrik, e em 1956 os empresários Heinz Mergenthaler e Waldemar Edel estruturaram a parte técnica e produtiva. Na época, a empresa contava com nove funcionários e produzia dez toneladas mensais. Com a volta da família Bauer à Alemanha, Heinz Mergenthaler assumiu a administração. Nessa mesma época a Brascola comemorava acordo comercial com uma multinacional suíça para comercializar os adesivos epóxi bicomponentes Araldite.
Até a década de 70 a empresa funcionava no Jabaquara, em São Paulo. Atraída pela forte industrialização do Grande ABC na época, transferiu as operações para São Bernardo. Em 1993, Heinz Mergenthaler passou o bastão ao filho Ricardo e em 2000 a Brascola trocou o sotaque alemão pela brasilidade, tornando-se empresa com capital 100% nacional a partir da venda das ações da sócia alemã Koemmerling Fabrik. Também se tornou a primeira do setor certificada pela ISO 9001/2000 para todos os departamentos.
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