Imprensa

Veja como encontrei o Diário que
Ronan Pinto comprou em 2004 (29)

DANIEL LIMA - 14/05/2019

A edição de 6 de julho de 2004 da newsletter OmbudsmanDiário está imperdível, como pode ser confirmado logo em seguida. Completara 30 dias na função até então inédita de Ombudsman do principal veículo de comunicação da região. Quem imaginava que estava no Diário do Grande ABC como trampolim para qualquer coisa que não fosse o sacrifício profissional de ter a coragem de apontar imperfeições, certamente caiu do cavalo da ignorância. Veja o que escrevi:

Edição número 28 

Esta nova edição analisa o jornal de segunda e terça-feira. Segue a publicação uma toada previsível, de mais baixos que altos. De erros estruturais. De superficialidade. Creio que na medida em que me aproximo dos primeiros 30 dias de trabalho como ombudsman desse que é o principal produto editorial da região -- embora esteja a léguas de distância do melhor produto editorial da região --, mais me sinto um enxugador de gelo. Isso mesmo -- enxugador de gelo. 

Sem qualquer receio, afirmo categoricamente que o jornal precisa repensar completamente sua estrutura redacional. Se já tinha essa certeza antes deste trabalho, na condição de leitor comum, agora estou convicto. E não se trata de trocar profissionais, porque essa medida necessariamente não alterará em nada a situação. O problema é mais embaixo. Os paradigmas precisam ser profundamente modificados, eis o resumo da ópera. Com o banco de horas a tornar intermitente a ação de todas as editorias, fragmentando estupidamente o que deveria ser unitário, é muito improvável que melhoras contínuas sejam detectadas. Viveremos de espasmos, certamente. 

  Metropolização

O tempo vai provar que LivreMercado está muito à frente do jornalismo que se pratica no Brasil, o qual, impreciso e descuidado, não enxerga as regiões metropolitanas como ponto de honra das transformações sociais e econômicas. Aliás, estamos apenas repetindo o que dizem especialistas no assunto. A Reportagem de Capa de LivreMercado de julho ("Metrópole desvairada") é, claramente, uma provocação da melhor revista regional do País. Saímos da "Paulicéia desvairada", consagrada por Mário de Andrade, e alargamos o território dos problemas. "Metrópole desvairada" é um conjunto de textos de jornalistas de nossa revista que acompanharam atentamente os principais painéis de debates da Urbis. Sim, a mesma Urbis desleixadamente ignorada pelos jornais diários -- inclusive pelo nosso, que fez cobertura frágil dos dramas que envolvem 18 milhões de habitantes só na Grande São Paulo. Uma população inteirinha de Minas Gerais, ou quase o dobro de todo o Rio Grande do Sul. Perceberam o tamanho do buraco? 

 Primeira página (I)

A foto de Pacífico Paoli e a chamada "Sandrecar é de ex-presidente da Fiat" sugeriam que teríamos em Economia uma matéria de destaque sobre o assunto. Mas, eis que encontramos o texto acondicionado em Primeiro Plano. Nada pior. A própria foto de Paoli na primeira página foge do padrão de vitrine que se espera do espaço. 

 Primeira página (II)

Imaginei que a chamada "Campanha eleitoral inicia em todo o país" retrataria matéria sistematizada nesse sentido, mas o que encontro nas páginas indicadas são retalhos. A edição, na prática, não oferece nada de diferente dos dias anteriores. 

 Primeira página (III)

A chamada sobre o fim do seriado Friends mostra que o jornal não tem critério, porque Celebridade não obteve tratamento análogo. Aliás, foi esquecida. A comoção que Friends provoca nos Estados Unidos provavelmente é menor do que as peripécias dos protagonistas de Celebridade. 

 Primeira página (IV)

A chamada "São Bernardo deve receber R$ 88 mi de inadimplentes por meio do Refis" leva para a primeira página o erro de informação que registro em nota específica. 

 Dados questionados

A Folha de S. Paulo mostrou na edição de segunda-feira, sob o título "Auto-avaliação mediu qualidade de escola", matéria investigativa sobre suposta maquiagem de notas de alunos da rede estadual. A isso se pode dar o nome de jornalismo independente. 

 Corte de vereadores

Já passou da hora de saber o que São Caetano, por exemplo, vai fazer com o dinheiro que deverá sobrar com o drástico corte de vereadores aprovado pelo Senado. Uma matéria a respeito caberia muito bem, principalmente levando-se em conta que se trata de um dos Legislativos mais perdulários entre os principais municípios paulistas, conforme provam números disponibilizados pelo Instituto de Estudos Metropolitanos. Como não houve corte do repasse do Executivo para o Legislativo no bojo da decisão do Tribunal Eleitoral, não é fora de propósito que os vereadores que se elegerem este ano decidam patrocinar aumentos nababescos de despesas como, aliás, já está ocorrendo em outros locais. Estamos cobrindo muito mal essa questão. São muitos os ângulos interessantes a serem vasculhados. Precisamos sair da mesmice. 

 Manchete tardia

Tivesse o jornal especialista em indústria de autopeças -- e também em montadoras -- a manchete de primeira página de hoje sobre o aumento do faturamento do setor dirigido pelo Sindipeças não seria uma clonagem regionalizada da matéria publicada com exclusividade na edição de segunda-feira pelo jornal Valor Econômico, sob o título "Autopeças preveem produção recorde". Entendo que nada deve ser desperdiçado em termos de informação, mesmo que jornais paulistanos tenham se antecipado, mas o requentamento do material deveria ter melhor consistência. E ter evitado uma primeira página de forma tão escancarada. 

 Aventura no trânsito

Está muito interessante e didática a matéria de capa de Setecidades de segunda-feira ("Chegar à região é uma aventura"). O lado triste dessa observação jornalística é que somos muito maltratados pela Capital. Somos periferia. 

 Campeonato Brasileiro (I)

Está na hora de Esportes começar a sustentar uma boa novela em torno do efetivo risco de o Santo André ser rebaixado à Série C do Campeonato Brasileiro. A campanha do jornal deveria girar em torno de mobilização para que a equipe, roubada pelo tribunal em 12 pontos, tenha referências matemáticas para sair do sufoco. Com a pontuação atual do Campeonato Brasileiro da Série B, e mesmo da Série A, é possível traçar horizonte de pontuação indispensável para que a equipe permaneça na Série B. Massificar esse objetivo entre os torcedores em muito contribuiria para levar mais gente ao Estádio Bruno Daniel. Uma contagem regressiva da pontuação necessária para sair do rebaixamento -- eis o que estou sugerindo como elemento de sensibilização. 

 Campeonato Brasileiro (II)

É mais grave do que o tom reservado pelo jornal a situação de desmanche do Santo André. Sandro Gaúcho, Romerito e Elvis devem mesmo deixar o clube. 

 Paranapiacaba na parada

O jornal segue de olho no Festival de Inverno de Paranapiacaba, ao preparar o ambiente do que vem por aí. 

 Criminalidade na região

A matéria "Alunos promovem apagão na escola", de Setecidades desta terça-feira, não é uma realidade que se restringe à periferia, como nesse caso no Jardim Zaíra 2, em Mauá. Onde moro, no Jardim do Mar, em São Bernardo, dá-se a mesma anormalidade. Talvez fosse interessante um levantamento sobre o assunto, com as medidas preventivas que se fazem necessárias. 

 Centro de seis

Estou tentando identificar quem é "Décio de Toledo Leite (sentado ao centro, de óculos), prefeito do Grande ABC entre 1938 e 1939", conforme consta da legenda de foto publicada por Memória, nesta terça-feira. Como há seis personagens na primeira fila, cinco dos quais portadores de óculos, não sei exatamente o critério de centralidade mencionado. Creio que não existe centro de seis. 

 Refis em São Bernardo

Está confusa a abertura do texto "S. Bernardo vai receber R$ 88 mi de devedores", em Política Grande ABC/Nacional. Diz a matéria: "O valor que migrará para os cofres públicos nos próximos meses corresponde a 21% do total da dívida pública da cidade (sem descontar multas e juros, os acordos correspondem a cerca de R$ 150 milhões) de R$ 700 milhões". Por que está confusa? 

Porque não sei se a arrecadação da Prefeitura de São Bernardo com o Programa de Recuperação Fiscal tem um alcance teórico de R$ 700 milhões ou se esses R$ 700 milhões seriam o montante da dívida pública do Município. A confusão se deve ao fato de a matéria enfiar no mesmo saco dívida ativa, que é crédito em favor da Prefeitura, com dívida pública, que é débito da Prefeitura. 

 Primeiro Plano

Mais uma vez alertamos para o equívoco conceitual do uso de Primeiro Plano, que se transformou em apêndice de noticiário, em vez de sustentar-se como espaço de notas. Na edição desta terça-feira o noticiário indevidamente encapsulado na coluna versa sobre mudanças societárias na Sandrecar, tradicional concessionária de veículos da região. Não bastasse o fato de ocupar o centro de Primeiro Plano, outras informações sobre o mesmo assunto transbordam para as notas laterais. É impressionante como o jornal engasga em certos problemas, eternizando-os. O formato editorial de Primeiro Plano precisa de completa reestruturação. 

 Eleições municipais (I)

O jornal não deu uma linha sequer -- quando mereceria muito mais que isso -- do café da manhã que o candidato José Dilson realizou ontem na Acisa. Concorrente de peso à Prefeitura de Santo André, o deputado detentor de quase 30 mil votos nas últimas eleições, só no Município onde pretende ser prefeito, mereceria ser ouvido com atenção. 

 Eleições municipais (II)

Burocrática a matéria "PFL e PL de S. Caetano decidem ter candidato próprio à Prefeitura". Trata-se de fato importante na conjuntura político-eleitoral de São Caetano, porque Iliomar Darronqui foi secretário municipal até recentemente e Tite Campanella é opositor com prestígio local. Acredito que isso torna menos previsível a disputa que se concentrava nos largos ombros do candidato do Paço, José Auricchio, e o petista Hamilton Lacerda. Será que o fato de dois candidatos de centro-direita congestionarem a disputa com José Auricchio não favoreceria o candidato petista, o mais votado em São Caetano nas eleições a deputado estadual? Esse é um ângulo que não pode ficar de fora do noticiário. Aliás, já deveria estar na edição de hoje, como manchete da página 2. Aí sim o noticiário romperia com o previsível. 

 Universidade Federal (I)

O editorial desta terça-feira sobre a complexa Universidade Federal do ABC valoriza um assunto sobre o qual o jornal não pode, de forma alguma, perder o foco. 

 Universidade Federal (II)

Não tem sentido o jornal abrir espaço no Editorial, mais uma vez, para a Universidade Federal do ABC e, na mesma edição, em Setecidades, reservar a metade inferior da página, em notícia de duas colunas, para novas informações sobre a contagem regressiva de preparação da instituição com vistas ao futuro próximo. A matéria "Consórcio busca acadêmicos para pensar universidade" mereceria capa do caderno, entre outros motivos porque anuncia o rompimento do Consórcio de Prefeitos, mal-comandado por Maria Inês Soares, com os representantes econômicos da região, omissos e também sempre esquecidos pelos administradores públicos. 

 Palavra do Leitor

Já não é de hoje, mas especificamente hoje há dois leitores que se manifestam na Palavra do Leitor com objetivos nitidamente eleitorais. O jornal precisa estabelecer modus-vivendi que, ao mesmo tempo em que contemple a democracia participativa dos leitores, imponha determinadas regras que destruam objetivos escusos. 

 Copa do Brasil

A Gazeta Mercantil de segunda-feira publicou matéria ("Santo André, campeão, faz bonito para patrocinadores") interessantíssima sobre o lado negocial do campeão da Copa do Brasil. Não vi nada semelhante no Diário. Considerando-se que futebol e negócio são irmãos siameses, me parece que perdemos bom assunto.



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