Está de lascar a campanha em defesa do projetado, mas longe de ser garantido, monotrilho no Grande ABC. E não faltam falastrões estatísticos para vender ilusões com a clara intenção de comover a massa de ignorantes.
A mais recente abordagem onírica é do professor Jefferson José da Conceição, da USCS, Universidade Municipal de São Caetano. Nas páginas do Diário do Grande ABC, ele afirmou que o metrô (isso mesmo, metrô, não monotrilho) tem potencial para elevar em até 1,70% em média ao ano o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) do Grande ABC.
Acreditem: o monotrilho teria poder extraordinário de multiplicar por sete o crescimento médio anual do PIB Geral do Grandes ABC neste século. Não dá para ficar indiferente a esse amor incondicional pela estupidez estatística. Ou dá?
Antes disso, convém lembrar quem é o professor Jefferson José da Conceição em alguns pontos. Não se trata de um acadêmico qualquer.
Até Aeroportozão
Recentemente, ele escreveu, na companhia de dois acadêmicos, uma Nota Técnica que expurga da realidade histórica da região dois complicadores indiscutíveis, porque mensuráveis: a desindustrialização estrutural que vem de longe e a participação relativamente forte do sindicalismo cutista nessa derrocada. Uma coisa está ligada à outra, mas para Jefferson José da Conceição, uma coisa (desindustrialização) é sazonal, e a outra (sindicalismo bravio e corporativista) não teve influência alguma nas evasões e na alta mortalidade da indústria.
Se parece pouco o que disse e escreveu Jefferson José da Conceição sobre esses dois pontos, não custa lembrar também que ele, então Secretário de Desenvolvimento Econômico, usou o Diário do Grande ABC, sempre o Diário do Grande ABC, para desfraldar a loucura de que São Bernardo comportaria um Aeroporto Internacional, o Aeroportozão destas páginas. Já imaginaram os mananciais violentados? Os mesmos mananciais que impediram que o trecho sul do Rodoanel ganhasse mais acessibilidade regional?
Ou seja, Jefferson José da Conceição é recorrentemente usado ou usa de extravagâncias para vender um Grande ABC que os investidores e a própria sociedade sofrida não comprariam jamais.
A investida da semana que passou em torno do potencial do crescimento do PIB que seria gerado pelos 15 quilômetros do monotrilho não é a coroação de um histórico de besteiragens. Jamais pode ser subestimado a capacidade de Jefferson José da Conceição superar os próprios limites de aberrações.
E também de o Diário do Grande ABC lhe oferecer páginas e páginas para desfilar como abre-alas da escola de samba de uma nota só, ou seja, de um triunfalismo insustentável.
Muito dinheiro
Para compreender o tamanho do erro estatístico de que o PIB Geral do Grande ABC cresceria adicionalmente 1,70% ao ano, em média, nos próximos tempos, o melhor é partir de uma comparação utilizando dados já consumados.
A compreensão seria duplamente mais didática: teríamos o montante expresso em números normais, sem influência ou suposta influência do monotrilho, e o aditivo lunático do professor da Universidade Municipal de São Caetano.
Sabem os leitores quanto significaria para a economia do Grande ABC se o volume monetário supostamente estruturado na lógica econométrica dos efeitos do monotrilho fosse mesmo possível? Só nesse século, contando o PIB Geral do Grande ABC a partir do ano 2000, tendo como base o ano de 1999, e chegando-se até 2016, ano mais atualizado dessa medida, o crescimento alcançaria C$ 32.382.065 bilhões.
O que são quase quatro bilhões de reais em 17 anos de PIB Geral? Vou explicar.
Em números absolutos os R$ 32,3 bilhões que incrementariam o PIB Geral do Grande ABC significariam o PIB Geral de Santo André em 2016 (R$ 25,8 bilhões) associada aos R$ 3,0 bilhões de Ribeirão Pires e ainda sobrariam R$ 4 bilhões. Tudo isso mesmo. Traduzindo: se o monotrilho do Grande ABC houvesse sido inaugurado em 1999 e seus efeitos miraculosos, segundo a ótica de Jefferson José da Conceição, se confirmassem, o Grande ABC teria tido acréscimo de mais de R$ 32 bilhões no PIB Geral. Ao invés dos registrados R$ 112.048 bilhões de 2016, a região somaria R$ 144,4 bilhões.
Ampliem o traçado
Como se observa, o monotrilho tão fartamente defendido, numa operação jamais vista na história do Grande ABC, como se representasse a solução de todos os problemas, daria um impulso extraordinário ao Desenvolvimento Econômico regional.
Se com 15 quilômetros de extensão o monotrilho é tão extraordinário em gerar riqueza em produção e serviços, porque é isso que significa PIB, por que então não triplicar o trajeto na região? O professor Jefferson José da Conceição, provavelmente, reorganizaria a alquimia numérica.
Em números relativos, a projeção de Jefferson José da Conceição significaria que, nos 17 anos pós-1999, numa comparação ponta a ponta, o PIB Geral do Grande ABC teria dado um salto expressivo de 28,90% de forma adicional.
Na realidade, nesse novo século o PIB Geral do Grande ABC cresceu míseros 4,030%. A média anual de crescimento chega, portanto, a 0,237%. Isso mesmo: não há erro de digitação. Não crescemos nem 0,5% em média a cada ano. Um desempenho pífio que o monotrilho salvador da pátria nos libertaria.
Problemas superados
Todos os problemas econômicos da região estariam resolvidos. Capital e trabalho dariam as mãos, a desigualdade social desapareceria, a falta de planejamento estratégico regional seria choro dos idiotas e tudo o mais que alguém com um mínimo de sensatez seria capaz de arguir em contraposição seria jogado no lixo.
Ou seja: a elucubração estatística do professor Jefferson José da Conceição diz que, com o monotrilho em ação, pra-frente monotrilho então, o Grande ABC das duas próximas décadas cresceria em média, por ano, sete vezes mais do que cresceu entre 2000 e 2016.
Façam os cálculos. Basta comparar a projeção de crescimento adicional médio anual de 1,70% do professor da USCS pelo crescimento médio anual já consumado neste século.
Na reportagem publicada no Diário do Grande ABC o professor Jefferson José da Conceição faz breve menção a eventual literatura que daria sustentação à esdruxula correlação entre crescimento do PIB Geral e a operação de algo como o monotrilho. Desafio-o publicamente a provar que a obra sobre trilho ou qualquer obra do gênero de transporte urbano é suficiente, isoladamente, para gerar riqueza expressiva.
Plano econômico
Depositar todo o trunfo estatístico no traçado do monotrilho e nos efeitos de logística de produção, consumo e de qualidade de vida é flertar com o desvario intelectual. O monotrilho da Linha-18 Bronze do metrô é um enrosco também econômico.
A simples passagem por dentro dos territórios de Santo André, São Caetano e São Bernardo não quer dizer muita coisa além, e isso é mesmo importante, facilitar a mobilidade urbana. Entretanto, sem um plano econômico muito bem estruturado para que seu entorno ganhe vida, não passará mesmo de um traçado de transporte. Como o é o monotrilho implantado na Capital.
Já estou vacinado contra a doença contagiosa do triunfalismo. O tempo me ensinou, mas não falta quem caia na armadilha da sofisticação de besteiras aparentemente imunes, ditas por gente da academia com lustro curricular.
O crescimento adicional automático do PIB Geral do Grande ABC de 1,70% ao ano em média por causa da chegada do monotrilho é um acinte. Mesmo que o Brasil vire um paraíso para investimentos. O Grande ABC não está na rota dos negócios de valor agregado.
Complicações demais
Aqui o terciário é rasteiro, o comércio está cada vez mais jogado às traças e a vizinhança paulistana é cada vez mais voraz. Tanto voraz que uma pesquisa da Universidade Metodista constatou que o monotrilho provocaria evasão de consumidores em direção a São Paulo. Ou seja: a tendência é de que o PIB Geral, atacado pelo flanco do PIB de Serviços, sofreria novos danos.
Para se ter ideia do quanto o professor Jefferson José da Conceição chuta às alturas para dar ao monotrilho uma aura de santificação dos negócios, basta lembrar que nos 16 anos já apurados do PIB Geral dos Municípios Brasileiros, apenas três dos seis municípios entre os mais importantes da economia paulista registraram crescimento médio superior a 1,70% ao ano durante os últimos 17 anos.
Osasco cresceu 15,72% ao ano em média, Sorocaba 3,92% e Campinas 3,00%. Barueri praticamente empatou com o monotrilho, com crescimento de 1,88%. Os demais, todos, perdem a disputa. Mauá cresceu 1,42% ao ano, Ribeirão Pires 1,04%, Santo André 0,89%, São Caetano 0,63%, São Bernardo 0,33% e Rio Grande da Serra praticamente zero. Diadema perdeu em média por ano 0,85% no PIB Geral. São José dos Campos perdeu 0,027%.
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21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?