Economia

Emprego industrial reage bem
abaixo do Brasil e dos paulistas

DANIEL LIMA - 28/05/2019

Isso mesmo: não só perdemos para a média dos municípios paulistas como também para a média nacional. Ou seja: somos duplamente derrotados. Estou me referindo aos dados desta temporada, conforme balanços já divulgados pelo Ministério do Trabalho.

Portanto, como se verá mais adiante, quem soltar fogos de artifício para comemorar pífios números desta temporada, deve ser contido. Não lhes reservem ainda a cadeira elétrica de triunfalismo irresponsável, mas preparem a chave da cadeia do ilusionismo abominável.

Contamos com duas doenças altamente contagiosas. De vez em quando essas duas cadeias de produção dão uma reviravolta e se transformam em antídotos ocasionais aos nossos males, mas em geral são entraves cada vez mais intrincados ao desenvolvimento industrial com amplitude e diversidade.

Santo André e Mauá dependem excessivamente do Polo de Capuava, nossa Doença Holandesa Químico/Petroquímica. São Bernardo, São Caetano e Diadema sofrem com a Doença Holandesa Automotiva. Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra vivem à sombra das duas enfermidades. Não cheiram muito nem fedem muito porque não alcançam 3% do PIB Geral do Grande ABC.

Números do emprego

O Grande ABC criou nos primeiros quatro meses deste ano somente 624 empregos formais com carteira assinada na indústria de transformação. Muito pouco. Apenas 0,71% do total nacional de 87.127 e 1,34% do total de 46.345 do total do Estado de São Paulo.

Quando se contabilizam todos os empregos formais gerados (indústria, comércio, serviços, administração pública, construção civil, agropecuária e extrativa mineral), o Grande ABC soma 5.023 novas contratações. No Brasil foram 313.835 (ficamos com 1,60% do total) e no Estado de São Paulo foram 125.602 (ficamos com 4,00%).

O medidor que indica e comprova e revela e preocupa quando se colocam dados dos empregos do Grande ABC ante os paulistas e os brasileiros é a participação relativa da reação da indústria de transformação frente às demais atividades econômicas.

De maneira geral, com exceções já conhecidas, o setor industrial paga os melhores salários e agrega mais valor a municípios nos quais as atividades de serviços são de terceira linha.

Diferença salarial

No G-22, o grupo dos 20 maiores municípios do Estado de São Paulo (exceto a Capital e com a inclusão de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra só porque pertencem ao Grande ABC), oscila entre 30% e 40% a superioridade do salário médio industrial ante a média das demais atividades. Ou seja: quando a indústria vai mal ou não segue o ritmo dos paulistas e dos brasileiros, é sinal claro de que o Grande ABC está andando de lado. E está mesmo. E é isso que vamos mostrar.

O ritmo de contratação do setor industrial nos primeiros quatro meses desta temporada é bastante discreto no Grande ABC. Basta dividir o total de empregos pelo total de empregos gerados: 624 por 5.023 significam que 12,42 de trabalhadores industriais foram contratados a cada 100 trabalhadores.

A média de participação da indústria no Brasil é bem maior: foram contratados 87.127 profissionais de um total de 313.835 em todas as atividades. Participação, portanto, de 27,76%. Mais que o dobro do registrado no Grande ABC. A comparação com os paulistas é bem mais desfavorável à região: foram 46.345 carteiras assinadas na indústria de transformação de um total de 125.602 no conjunto de atividades. Ou seja, participação relativa três vezes maior que a do Grande ABC, pois chegou a 36,90%.

Além das fronteiras

Não canso e não cansarei de dizer e de advertir que é preciso olhar muito além da geografia do Grande ABC para entender a economia do Grande ABC. Não só a economia, mas outros indicadores que influenciam o futuro regional.

Não vou rechear este texto de novos números históricos porque, nesse caso específico, são desnecessários. A velocidade de criação de empregos industriais na região em relação às demais atividades é notoriamente preocupante. Os paulistas e o Brasil como um todo são referenciais elucidativos.

Não conseguimos nos desvencilhar de complicações macroeconômicas e microeconômicas. E nos damos relativamente satisfeitos quanto um ou outro prêmio de alguma instituição distribuidora contumaz de premiações contempla algum de nossos municípios. Ações descoladas do conjunto da obra regional devem mesmo ser festejadas, mas não resolvem nosso gigantesco problema estrutural.

Doenças Holandesas

As Doenças Holandesas que nos abatem são implacáveis. Precisamos exorcizá-las. E a melhor maneira, apenas aparentemente contraditória, é mantê-las saudáveis o quanto for possível, mas acrescentar ao cardápio regional outras atividades de viés tecnológico pronunciado, preferencialmente da indústria digital, também conhecida como Indústria 4.0. Em escala relativamente satisfatória não temos absolutamente nada nesse sentido.

Se a exigência for mais condescendente, ou seja, se a equação for mais conformista, a resposta será praticamente a mesma. Contamos com ilhas de excelência dentro do padrão de atraso de modernidade industrial e de serviços no Brasil, mas como todas as ilhas não refrescam no todo ou em parte substantiva do tecido econômico regional.

Diadema mais complicada

Aparentemente, quando vistos na superficialidade, os municípios do Grande ABC estão indo bem no mercado de trabalho desta temporada caso a abordagem se refira ao conjunto de atividades, ou seja, não apenas ao setor industrial.

Apenas Diadema registra contabilidade negativa no salto geral de carteiras assinadas, com queda de 0,55% entre dezembro do ano passado e abril deste ano. Santo André cresceu 0,98%, São Bernardo 0,57%, São Caetano 1,02%, Mauá, 1,07%, Ribeirão Pires 2,26% e Rio Grande da Serra 1,40%.

Tudo parece encaminhar-se a suspiro restaurador. Mas os números da região são pífios, como mostrei acima, em confrontos com outros territórios. E é isso que deve balizar o comportamento das autoridades políticas e de lideranças econômica.

Quando os dados de emprego formal se limitam ao setor industrial, ou seja, quando o estoque de carteiras assinadas de janeiro a abril deste ano está restrito à área de produção, os resultados são mais preocupantes ainda. Santo André acumula crescimento de 1,66%, São Bernardo de 0,33%, São Caetano de 0,61%, Diadema de 1,51%, Mauá de 1,00 negativo, Ribeirão Pires de 0,24 e Rio Grande da Serra de 0,45%. A média nacional chegou a 1,21% e a média paulista a 1,97%.

Embalo do passado

O crescimento do emprego formal no Grande ABC nesta temporada obedece a um ritual que vem do passado de resultados negativos e, por isso mesmo, é preocupante, porque a base de comparação torna tudo enganoso. A atividade de serviços, que paga salários e benefícios muito aquém da indústria, turbinou o saldo positivo com saldo de 5.665 trabalhadores nos quatro meses. Mas o setor de comércio vai mal das pernas, com 1.718 demissões. A construção civil, que vai de mal a pior na área imobiliária, com prédios de apartamentos e de salas comerciais prontos ou quase prontos à espera de compradores, gerou 548 empregos de saldo. Quase nada diante da hecatombe dos últimos anos.

A participação do saldo da temporada de empregos no setor de serviços da região quando se compara com os resultados do Brasil é bastante discreta. Foram geradas no País 239.746 vagas com carteira assinada em quatro meses. Ou seja, a região participa com 2,36% do total. No comércio, a perda de 1.718 postos de trabalho significa 2,27% da perda nacional, de 75.733 carteiras assinadas.

Torço sinceramente para que gestores públicos em particular e a mídia de forma mais específica aprendam a lidar com dados estatísticos da região em quaisquer atividades humanas. Precisamos perder a mania de nos comparar a nós mesmos. Estabelecemos uma métrica preguiçosa de colher números de passado recente ou não e confrontá-los com dados atuais. Essa é a maneira mais inapropriada de entender o que se passa por aqui.

O Grande ABC precisa perder a mania de pretender-se maior do que é ao utilizar deliberadamente ou não premissas que no fundo não escondem o horror que o ambiente extra regional desperta e o torna vítima contumaz de apequenamentos. Uma contradição que explica o Complexo de Gata Borralheira.



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