Vou fazer perguntas sobre o emprego com carteira assinada envolvendo municípios do Grande ABC e quem sabe, na sequência, enfie goela adentro dos apressadinhos números de outras localidades, para mostrar que é um equívoco duplo o que se publicou com destaque na edição de hoje do Diário do Grande ABC.
Erro duplo porque, além de o jornal publicar algo que não corresponde à realidade mais complexa e indispensável dos fatos, o prefeito Paulinho Serra pegou carona e desandou a desfilar razões que colocariam Santo André na liderança regional e, portanto, um caso exemplar. Não é nada disso. Distante disso, aliás.
Vamos então às perguntas e às respostas para que os leitores possam entender o sentido desta análise:
Quem gerou mais emprego formal, considerando-se todas as atividades econômicas? Santo André com saldo de janeiro a abril de 1.901 postos de trabalho, ou São Caetano, que gerou 1.111?
Resposta preliminar: para o Diário do Grande ABC e o prefeito Paulinho Serra é claro que se trata de Santo André. Eles se guiam por números absolutos. Ou seja, 1.901 é maior que 1.111. Mas a conta está equivocada.
Quem gerou mais emprego formal, considerando-se todas as atividades econômicas? Santo André com saldo no ano de 1.901 postos de trabalho ou Mauá com 638?
Resposta preliminar: para o Diário do Grande ABC e o prefeito Paulinho Serra é claro que se trata de Santo André. Eles se guiam pelos números absolutos. Ou seja: 1.901 é muito maior que 638. Mas a conta está equivocada.
Respostas esclarecedoras
Vamos agora às respostas complementares tanto num caso quanto no outro para mostrar que Santo André não ocupa a liderança na geração de empregos formais entre janeiro e abril deste ano.
No primeiro caso, embora em números absolutos Santo André some mais vagas líquidas (a diferença é de 41,55%, pois são 1.901 ante 1.111), do ponto de vista da dinâmica econômica o confronto é amplamente favorável a São Caetano. A variável que deve ser levada em conta refere-se aos números relativos, que levam em consideração o estoque de trabalhadores nos dois municípios em dezembro do ano passado. O crescimento relativo do estoque nos primeiros quatro meses deste ano em São Caetano chegou a 1,02%, contra 0,98% de Santo André.
O peso do estoque de empregos formais em Santo André é maior que o de São Caetano porque são municípios distintos em tantas coisas, no tamanho territorial e intensamente na demografia, com evidentes consequências em outras áreas.
Em 2017, último balanço atualizado do Ministério do Trabalho, eram 198.298 trabalhadores com carteira assinada em Santo André contra 103.620 em São Caetano. Uma diferença de 47,74%.
Vantagem desmascarada
Ora, com tamanha vantagem em números absolutos, nada mais lógico que, em qualquer balanço temporal do comportamento das atividades econômicas no campo do emprego, os resultados tendem a ser mais interessantes a Santo André. É algo como comparar os Estados Unidos com os vizinhos mexicanos.
Mas os números relativos existem para isso mesmo, para relativizar, com perdão da redundância. Ou seja: o ritmo de empregabilidade de Santo André no conjunto das atividades econômicas é inferior ao de São Caetano. Da mesma forma que o PIB Geral de Santo André é muito maior que o PIB Geral de São Caetano, mas PIB Per Capita adentro, a história é outra.
Como a vantagem de Santo André no contingente de trabalhadores formais é de mais de 47% sobre São Caetano, a manutenção intocável das forças relativas nos primeiros quatro meses do ano deveria corresponder a essa distância. Não é o caso.
Mesmas regras comparativas
O confronto entre Santo André e Mauá obedece ao mesmo preceito. Contra os oficialmente 63.968 empregos formais de Mauá em todas as atividades, registrados em 2017, Santo André, como já escrevi, registra 198.298.
Ora bolas, com tamanha diferença (três vezes mais, para ser preciso) é natural que, numa etapa de tímida reação da economia nacional e muito mais tímida ainda da economia regional Santo André mostre-se melhor que Mauá no universo que desconsidera diferenças essenciais.
Ou seja: embora três vezes maior em matéria de estoque de empregos gerais no confronto com Mauá, Santo André gerou em termos líquidos 66,43% mais vagas. Quando se vai ao que realmente interessa, em números relativos, o crescimento de Mauá alcança 1,07% entre o estoque de dezembro do ano passado e o estoque de abril deste ano; portanto acima do 0,98% de Santo André.
Melhor e pior
É verdade que Santo André comporta-se no campo do emprego formal melhor que a vizinha São Bernardo, Capital Econômica da região e sempre badaladíssima, mesmo nas piores fases.
São Bernardo perde para Santo André neste ano tanto em termos absolutos (produziu saldo de 1.394 postos de trabalho contra 1.901 de Santo André) como em números relativos (cresceu apenas 0,57% em relação ao estoque do ano passado).
Concluindo essa rápida exposição de empregos em geral nesta temporada que colocam em confronto Santo André, o crescimento relativo de 0,98% não é lá uma maravilha, mas também não é decepcionante.
É verdade que perde para São Caetano e Mauá, além de Ribeirão Pires (2,26%) e Rio Grande da Serra (1,40%), mas ganha de São Bernardo e de Diadema, que tem o pior desempenho, com queda de 0,55 -- único resultado negativo da região, mas supera a média nacional (0,82%) e a média da Região Metropolitana de São Paulo (0,76%), embora colha derrota ante a média paulista (1,05%).
Agora, setor de serviços
A mesma premissa metodológica vale para o setor de serviços, destacado pelo Diário do Grande ABC e o prefeito Paulinho Serra como exemplo a ser seguido, como marco de grande recuperação da economia do Município que há muito deixou de ser “viveiro industrial”, como canta o hino.
Para quem prefere mergulhar em piscina vazia, o saldo líquido de 1.199 empregos formais do setor de serviços entre janeiro e abril deste ano é um resultado extraordinário para Santo André. Não é bem assim.
Mais da metade (exatamente 56,95%) dos trabalhadores registrados em carteira em Santo André estão nesse setor, sempre conforme balanço oficial do Ministério do Trabalho de 2017. É natural, portanto, que em números absolutos se concretize uma vantagem que não se consolida no campo da relatividade.
Perdendo para quase todos
Embora tenha gerado tantas vagas em serviços nesta temporada até abril, o crescimento relativo de Santo André no setor não passa de 1,02%. Menos que os dados de São Bernardo (1,54%, correspondentes a 1.741 vagas), menos que São Caetano (mais que o dobro, de 2,12% correspondentes a 1.187 vagas), menos que Mauá (quase o quádruplo, com 4,32% de avanço num total de 906 empregos), menos que Ribeirão Pires (estratosféricos 7,95%, ou 553 vagas) e igualmente altíssimos 8,00% de Rio Grande da Serra, que gerou 48 vagas.
Recomendo aos leitores a retomada da leitura do bloco anterior desse texto. Releiam e constatem o que o triunfalismo acrítico insiste em desdenhar: Santo André ocupa no campo de atividades de serviços privados na região um dos piores desempenhos desta temporada.
A gravidade eleva-se às alturas porque, repito, as atividades do setor são as principais responsáveis pelo desenvolvimento econômico do Município. Quase 60% dos empregos de Santo André estão nos serviços.
Santo André tem, portanto, uma participação bastante discreta, discretíssima, na recuperação do emprego formal em geral, quando contraposto aos vizinhos locais que já não estão lá essas coisas, e ocupa posição precária na área de serviços, o ganha-pão da maioria da População Economicamente Ativa e cujos salários, ainda segundo o Ministério do Trabalho, eram 36,24% inferiores aos salários médios do setor industrial (R$ 4.154,23 ante R$ 2.648,81).
O assalariamento médio dos trabalhadores de serviços em Santo André é uma calamidade quando se coloca na balança as perdas cumulativas geradas pela queda histórica do emprego industrial. O enfraquecimento do tecido econômico de Santo André não é algo que se combate com manchetes de jornais cujos enunciados não correspondem à realidade estrutural dos fatos. É tarefa exige planejamento, planejamento, planejamento e muita, muita, muita, ação.
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