Parece contradição, mas é pura lógica econômica: Diadema é o Município da região que, proporcionalmente, mantém maior estoque de emprego industrial com carteira assinada, mas é igualmente o mais vulnerável às intempéries econômicas. Há fartura de provas nesse sentido. E tudo faz sentido.
Tanto é verdade que Pesquisa Industrial Anual (PIA) divulgada ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) corrobora com essa conclusão.
A indústria de transformação do País perdeu cerca de 12,5% dos postos de trabalho entre 2014 e 2017. Os números da região, já publicados aqui, são muito piores. E os de Diadema, então, nem se fale.
Diadema é mesmo uma enorme contradição que mereceria mais que um case especial, uma ação reestruturante urgente. A literatura econômica pressupõe que o emprego industrial formal sempre é portador de uma imensa capacidade de criar riqueza. No caso de Diadema, a atividade, integrada por uma maioria de pequenas indústrias de múltiplas atividades. Entretanto, com dificuldade imensa de criar um setor de prestação de serviços razoavelmente à altura (nem estou falando em qualidade de serviços, uma raridade no Grande ABC), Diadema vive um imenso vácuo.
Ou seja: a economia de Diadema é fragmentada, como clara divisão entre indústria e serviços. O primeiro supostamente exuberante. O segundo claramente deprimido. No Grande ABC como um todo há menos ruptura, embora ainda acima da média geral.
Segurando a lanterna
Entre os municípios economicamente mais representativos do G-22 (o Clube das 20 maiores cidades do Estado de São Paulo, exceto a Capital e com a inclusão de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, que completam o Grande ABC), Diadema ocupa a última colocação quando se afere o PIB Geral (que envolve todas as atividades econômicas).
O resultado do ranking abrange o período de 17 anos a partir de 2000, com base nos resultados de 1999. Houve perda média anual do PIB Geral em Diadema de 0,80%. São José dos Campos perdeu em média 0,026%. Os demais municípios registraram saldos positivos. A debacle industrial de Diadema explica esse posicionamento medíocre.
Se o Grande ABC é um caso coletivo a ser rigorosamente analisado e reestruturado no campo econômico, sob pena de a desigualdade social ganhar velocidade e a mobilidade social perder ainda mais o ritmo e, com isso, afundar-se irremediavelmente, a situação de Diadema é particularmente muito mais grave. É uma espécie de fim do caminho, o resto do toco.
No piloto automático
As autoridades públicas locais deveriam ter acionado há muito tempo mecanismos técnicos e humanos de alertas e de reação. Entretanto, como as demais gestões públicas municipais do Grande ABC, preferem o varejismo econômico e as mesmices político-administrativas.
O padrão comportamental dos gestores públicos da região quando se invade a grande área do Desenvolvimento Econômico é equivalente a esses timinhos sistematicamente rebaixados.
No mesmo ranking do PIB Geral dos Municípios que elaborei para o G-22, Rio Grande da Serra não registrou crescimento médio anual, porque o índice de 1,43% se refere ao acumulado deste século. São Bernardo não fica atrás no vexame, porque cresceu em média por ano 0,31%, contra 0,59% de São Caetano, 0,84% de Santo André, 0,98% de Ribeirão Pires e 1,34% de Mauá.
Mesmo o avanço médio anual de Mauá deve ser relativizado. A dependência do Polo Petroquímico, assim como no caso de Santo André, distorce o conjunto da obra – embora com gravidade superior. A média, por assim dizer, esconde o grosso de complicações gerais.
Mundial de competitividade
Repeti que é uma contradição o que se apresenta em Diadema sobre o emprego industrial como prova da quebra de riqueza, mas é de contradição em contradição que se conta a história real.
Nestas alturas do campeonato global de competitividade, repito o que já escrevi em outros artigos: quanto mais dependente o Grande ABC for do setor industrial em emprego formal e na participação no PIB, mais o horizonte surgirá em forma de fantasma atemorizador. Teremos, como já temos em larga escala, apenas algumas ilhas de excelência e, mesmo assim, vulneráveis aos sacolejos dos negócios globais.
É claro que me refiro especificamente ao setor automotivo, que investe cada vez mais na região para se sustentar no quadro nacional e internacional porque, apesar de todos os pesares, ainda contamos com vários fatores de competitividade que não podem ser desprezados. Exceto, na maioria dos casos, quando se refere a pequenas empresas pouco afinadas com o setor automotivo.
Dados comprometedores
Sabem os leitores quantos empregos industriais com carteira assinada constavam do acervo do Ministério do Trabalho em dezembro de 2017 (os dados do ano passado ainda não foram atualizados) quando se localiza Diadema no mapa daquela instituição? Para cada 100 empregos em geral, eram 44,85.
Faço um contraponto de Diadema com Campinas, que, na mesma data, registrava apenas 12,59% de empregos industriais formais ante os demais. Resultado no ranking de crescimento do PIB neste século: enquanto Diadema caiu o que já citei, Campinas cresceu em média por ano 2,820%, uma das melhores marcas entre os integrantes do G-22.
Estou citando Campinas de forma aleatória, porque poderia mencionar também Barueri, que tem participação do emprego industrial no conjunto de atividades econômicas de 30,12%, mas cresceu desde 2000 à média anual de 1,77%.
Balanço histórico
Outros exemplos poderiam ser citados para demonstrar na prática incontestável de dados, não de subjetividades, que o caso de Diadema é mesmo um ponto mais grave fora da curva da desindustrialização absoluta e relativa em que vive os municípios do Grande ABC. Para desgosto de acadêmicos órfãos do pai da racionalidade e da mãe da sensatez.
Para quem entende com base na chutometria triunfalista que o comportamento econômico-industrial de Diadema neste século é algo como uma exceção (tem gente que é capaz de usar esse argumento para defender o indefensável, mesmo se sabendo que 17 anos de resultados são de lascar) eis que faço um retrato ainda mais abrangente: Diadema contava com 61.287 empregos industriais com carteira assinada em dezembro de 1985 e em dezembro de 2018 registrava 39.758. Uma queda de 21.773, ou 35,38%.
É verdade que o resultado do emprego industrial de Diadema a partir de 1985 é menos dramático que os dados de Santo André (queda relativa de 62,67%), de São Bernardo (50,30%) e também de São Caetano (58,40%), apenas para citar os casos mais graves da região.
Mas essa verdade não é linearmente defensável. Quando se filtra o tempo e se colocam os números nas últimas temporadas, mesmo neste século, Diadema rivaliza-se com São Bernardo em destruição da força industrial também na forma de geração de oportunidade de trabalho.
E se fosse o Brasil?
Se o Brasil como um todo fica atônito quando o IBGE vem a público para fornecer estudos sobre a indústria nacional, imaginem o que ocorreria numa situação em que o Brasil imitasse o desastre do Grande ABC?
Claro que haveria reação coordenada das autoridades públicas e do que se poderia chamar de inteligência econômica nacional. Já no caso da Província do Grande ABC, o que se observa desde sempre é o alheamento completo e absoluto do que sobrou de sociedade civil, dos administradores públicos, das entidades econômicas, sociais e sindicais e também, lamentavelmente, da mídia especializada em penduricalhos.
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21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?