Economia

G-22: São Bernardo na zona de
rebaixamento de produtividade

DANIEL LIMA - 03/07/2019

Tem gente que vai chiar um bocado. Outros soltarão palavrões. Não faltarão acadêmicos mentirosos ou despreparados ou corporativistas ou ingênuos que vão enfiar a cabeça na areia movediça do corporativismo ideológico. O fato é o seguinte: o sindicalismo histórico de São Bernardo (que se espalhou sobretudo em direção a Diadema) deixou um rastro de baixíssima produtividade industrial na Capital Econômica do Grande ABC. 

No novo Ranking G-22 de Competitividade, São Bernardo ocupa posições distantes da liderança. Mais que isso: dependendo de considerações, ocupa a zona de rebaixamento do G-22. E Diadema é a pior entre os integrantes desse agrupamento integrado pelos municípios mais poderosos do Estado, exceto a Capital. 

Esse estudo (que terá desdobramentos em novas edições) é inédito no jornalismo brasileiro. Não me deem méritos demais porque, entre outros pontos, jogo no erro dos adversários, que poderiam ser parceiros. 

Escondendo a realidade

O que prevalece no pátria amada quando se trata de análise que envolve sobretudo o sindicalismo trabalhista é uma corrida para esconder a realidade. Há afinidades ideológicas acima de tudo a protegerem os interessados. O sindicalismo invariavelmente controla o tom de redações de publicações de todos os tamanhos. Vende pautas que visam apenas fortalecer a própria classe. Mesmo que o favorecimento implique danos colaterais à sociedade como um todo. 

Vamos aos fatos. Produtividade no mercado de trabalho, entre outras variáveis que também exploraremos, é o resultado da divisão do valor adicionado do setor pelo estoque de trabalhadores com carteira assinada. O Ranking G-22 de Competitividade trata disso. 

São Bernardo ocupa a 18ª colocação entre os 22 municípios do grupamento. Caso se retirem dois convidados (Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, por pertencerem ao Grande ABC, mas sem tônus econômicos ante os demais), São Bernardo ocuparia a zona de rebaixamento de produtividade. 

Zona de rebaixamento 

Como numa espécie da Campeonato Brasileiro de Futebol, disputado por 20 equipes, os quatro últimos seriam rebaixados. São Bernardo se juntaria a São José do Rio Preto, Diadema e Guarulhos. 

Há ponderações técnicas que precisam ser feitas, mesmo que sem maior profundidade agora, para distinguir produtividade de produtividade. 

Vou explicar. A produtividade de São Bernardo não pode ser comparada à produtividade de Paulínia, que lidera o ranking. Afinal, aquela cidade da Grande Campinas conta com um setor que gera mais valor adicionado, no caso químicos e petroquímicos. E mais uniforme também, porque é um polo predominantemente do setor. Não à toa Paulínia conta com produtividade por trabalhador de R$ 1.494.676 milhão. Disparadamente à frente dos concorrentes. 

Esse resultado de Paulínia (e dos demais municípios deste ranking) refere-se ao ano de 2016. Trata-se de uma marca do tempo que envolve o PIB dos Municípios em sintonia com dados do Ministério do Trabalho e Emprego. O PIB dos Municípios de 2017 só será conhecido no fim do ano. Os números do mercado de trabalho são atualizados a cada mês. Optei pela sincronização do tempo para que o estudo não sofresse avaria interpretativa. 

Comparações factíveis 

Portanto, comparar a líder Paulínia com São Bernardo ou qualquer Município em que prevalece variedade de produção, mesmo que com predomínio não tão expressivo da indústria automotiva, por exemplo, seria um erro. A baixa produtividade por trabalhador em São Bernardo tem outros referenciais. Incontestáveis e preocupantes. 

A produtividade por trabalhador industrial em São Bernardo (R$ 109.742 mil) em 2016 está 61,72% abaixo do resultado de Taubaté (com R$ 285.518 mil), que ocupa a quarta posição. Taubaté é industrial semelhantemente a São Bernardo. E conta com setor automotivo forte. 

Peguem também Mogi das Cruzes, na Região Metropolitana de São Paulo, igualmente construída em bases industriais múltiplas, mas com forte presença do setor de autopeças, entre outros. Mogi das Cruzes conta com produtividade por trabalhador 44,10% superior a São Bernardo. Foram R$ 195.249 mil registrados em 2016.

Sumaré, também com forte presença automotiva, dá goleada em São Bernardo. Município da Grande Campinas, registrou por trabalhador produtividade de R$ 180.286 mil em 2016. Nada menos que 39,13% acima de São Bernardo. 

Criticar aleatoriamente o sindicalismo cutista que domina São Bernardo e Diadema, principalmente, desgasta tanto a credibilidade quanto repetir a ladainha de acadêmicos como o professor Jefferson José da Conceição, da USCS (Universidade de São Caetano) que, recentemente, em longo artigo-estudo, ignorou completamente o poder das ações sindicais em São Bernardo como fonte permanente e decisiva no processo de desindustrialização da região. 

Exatamente por isso tenho me lançado, entre outras tarefas, a observar a temperatura da competitividade econômico do Grande ABC tendo como contraponto muito mais que os próprios municípios locais, mas os principais endereços do Estado de São Paulo. 

O ranking de produtividade, sob a estrutura de valor adicionado industrial e estoque de trabalhadores, será seguido de novo medidor, que envolverá a relação entre salários médios do setor e o índice de produtividade. 

Mais complicações chegando 

A impressão é que a situação de São Bernardo e do Grande ABC como um todo será ainda pior que a deste primeiro ranking. Garanto aos leitores que ainda não fui aos dados, mas a intuição baseada em estudos sugere que, além de produzir menos por trabalhador, o Grande ABC -- e particularmente São Bernardo -- paga relativamente os maiores salários. Ou seja, somos duplamente incompetentes na gestão de recursos humanos alinhados à concorrência mais próxima. Por isso perdemos seguidamente não só novos investimentos quanto o próprio capital já investido em forma de empresas. 

A lanterninha ocupada por Diadema neste primeiro ranking de produtividade não é surpresa.  Além de não ter as virtudes econômicas de São Bernardo (a indústria automotiva sempre generosa na remuneração média dos trabalhadores por conta de pressões sindicais e benesses governamentais), Diadema reúne tecido mais pulverizado de empreendedores industriais. São unidades de diferentes setores e, principalmente, de pequeno e médio porte, sempre mais suscetíveis aos sacolejadas macroeconômicas. 

Diadema na lanterninha 

A produtividade média de cada trabalhador de Diadema em 2016 foi de R$ 85.862 mil, resultado do valor adicionado de R$ 3.547.137 bilhões dividido por 41.132 trabalhadores com carteira assinada. Diadema está pouco menos de R$ 10 mil em média abaixo de produtividade por trabalhador de São José do Rio Preto, que ocupa a penúltima colocação com R$ 95.029 mil. 

Santo André é a segunda mais bem posicionada representante do Grande ABC no ranking. Conta com produtividade por trabalhador de R$ 171.282 mil, resultado de valor adicionado de R$ 4.327.279 bilhões envolvendo estoque de 25.264 trabalhadores. Ocupa, com isso, a 12ª posição. 

Uma explicação para Santo André se sustentar em posição relativamente satisfatória depois de décadas de desindustrialização: o polo químico-petroquímico responde por perto de 40% do PIB Industrial e segura as pontas de produtividade por ser uma atividade de intensa tecnologia.

Tanto é pertinente a explicação que Mauá ocupa a quinta posição na classificação geral, com produtividade média por trabalhador de R$ 208.670 mil. O Polo Químico/Petroquímico de Capuava está dividido entre Santo André e Mauá. 

A liderança de Paulínia não surpreende tanto quanto o segundo lugar na classificação geral de São José dos Campos, que sedia a indústria aeroespacial. Santos tem um setor industrial mais modesto, mas atividades químicas alimentam a fornalha de produtividade. 

Acompanhe abaixo o Ranking G-22 de Competitividade nessa nova versão:

1. Paulínia com PIB Industrial de R$ 15.043.915 bilhões e 10.065 trabalhadores. Produtividade por trabalhador de R$ 1.494.676 milhão.

2. São José dos Campos com PIB Industrial de R$ 13.165.283 bilhões e 37.329. Produtividade por trabalhador de R$ 352.684 mil.

3. Santos com PIB Industrial de R$ 1.937.724 bilhão e 6.209 trabalhadores. Produtividade de R$ 312.083 mil por trabalhador.

4. Taubaté com PIB Industrial de R$ 4.469.813 bilhões e 19.560 trabalhadores. Produtividade de R$ 285.518 mil por trabalhador.

5. Mauá com PIB Industrial de R$ 4.373.723 bilhões e 20.957 trabalhadores industriais. Produtividade de R$ 208.670 mil por trabalhador.

6. Mogi das Cruzes com PIB Industrial de R$ 3.187.061 bilhões e 16.323 trabalhadores. Produtividade de R$ R$ 195.249 mil por trabalhador.

7. Campinas com PIB Industrial de R$ 10.297.665 bilhões e 54.186 empregos industriais. Produtividade de R$ 190.043 mil por trabalhador.

8. Osasco com PIB Industrial de R$ 3.036.395 bilhões e 16.534 trabalhadores. Produtividade de R$ 183.64 mil por trabalhador.

9. Ribeirão Preto com PIB Industrial de R$ 3.951.051 bilhões e 21.693 trabalhadores. Produtividade de R$ 182.135 por trabalhador.

10. Sumaré com PIB Industrial de R$ 3.233.969 bilhões e 17.938 trabalhadores. Produtividade por trabalhador de R$ 180.286 mil.

11. Jundiaí com PIB Industrial de R$ 7.409.989 bilhões e 41.907 empregos industriais. Produtividade de R$ 176,81 por trabalhador.

12. Santo André com PIB Industrial de R$ 4.327.279 bilhões e 25.264 trabalhadores. Produtividade de R$ 171.282 mil por trabalhador.

13. Barueri com PIB Industrial de R$ 4.212.889 bilhões e 26.384 empregos industriais. Produtividade de R$ 159,67 mil por trabalhador.

14. Piracicaba com PIB Industrial de R$ 5.537.608 bilhões e 36.486 trabalhadores. Produtividade de R$ 151.663 mil por trabalhador. 

15. Sorocaba com PIB Industrial de R$ 7.758.148 bilhões e 52.247 trabalhadores. Produtividade de R$ 148.490 mil por trabalhador.

16. São Caetano com PIB Industrial de R$ 2.950.119 bilhões e 20.106 trabalhadores. Produtividade de R$ 146.739 mil por trabalhador.

17. Guarulhos com PIB Industrial de R$ 11.091.049 e 87.039 trabalhadores. Produtividade de R$ 127,426,20 mil por trabalhador.

18. São Bernardo com PIB Industrial de R$ 8.223.955 bilhões e 74.935 trabalhadores. Produtividade de R$ 109.742 por trabalhador.

19. Ribeirão Pires com PIB Industrial de R$ 700.978 milhões e 6.552 trabalhadores. Produtividade de R$ 106.987 por trabalhador.

20. Rio Grande da Serra com PIB Industrial de R$ 162.057 milhões e 1.605 trabalhadores. Produtividade de R$ 100.907 mil por trabalhador.

21. São José do Rio Preto com PIB Industrial de R$ 1.848.606 bilhão e 19.453 trabalhadores. Produtividade de R$ 95.029 mil por trabalhador.

22. Diadema com PIB Industrial de R$ 3.547.137 bilhões e 41.132 empregos industriais. Produtividade de R$ 85.862 mil por trabalhador.



Leia mais matérias desta seção: Economia

Total de 1894 matérias | Página 1

21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?
12/11/2024 SETE CIDADES E SETE SOLUÇÕES
07/11/2024 Marcelo Lima e Trump estão muito distantes
01/11/2024 Eletrificação vai mesmo eletrocutar o Grande ABC
17/09/2024 Sorocaba lidera RCI, São Caetano é ultima
12/09/2024 Vejam só: sindicalistas agora são conselheiros
09/09/2024 Grande ABC vai mal no Ranking Industrial
08/08/2024 Festejemos mais veículos vendidos?
30/07/2024 Dib surfa, Marinho pena e Morando inicia reação
18/07/2024 Mais uma voz contra desindustrialização
01/07/2024 Região perde R$ 1,44 bi de ICMS pós-Plano Real
21/06/2024 PIB de Consumo desaba nas últimas três décadas
01/05/2024 Primeiro de Maio para ser esquecido
23/04/2024 Competitividade da região vai muito além da região
16/04/2024 Entre o céu planejado e o inferno improvisado
15/04/2024 Desindustrialização e mercado imobiliário
26/03/2024 Região não é a China que possa interessar à China
21/03/2024 São Bernardo perde mais que Santo André
19/03/2024 Ainda bem que o Brasil não foi criado em 2000