O Grande ABC vive o período mais dramático da história. Os terríveis anos 1990 de abertura econômica destrambelhada podem parecer um paraíso perto das últimas temporadas de estagnação seguida de recessão. O PIB per capita dos últimos três anos já apurados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) são um convite ao desespero. Perdemos por habitante 35,26% na geração de produtos e serviços entre 2014 e 2016. Mais que o triplo da perda média nacional. Nada ou quase nada mudou desde então, como provarão os próximos balanços.
Apesar de tudo isso, vivemos no bem-bom institucional. Só há promessas dos prefeitos como respostas. Só inação das entidades empresariais e sindicais. E a sociedade desorganizada sofre como jamais sofreu. Quando saírem os números do PIB dos Municípios de 2017, em dezembro próximo, tudo indica que acumularemos mais derrotas.
O que você está lendo mais uma vez nesta revista digital provavelmente não será apresentado por outros veículos de comunicação. Faz parte do show de enganação geral privilegiar varejismos que não mudam a roda da história.
Nas redes sociais será mais que provável o domínio de bate-boca em torno da política local, principalmente, e da política nacional, invariavelmente. Contamos com heróis de discursos nacionais e covardes de iniciativas locais.
A despersonalização do regionalismo aprofunda-se sem que em algum momento da história recente tenha sido exemplar.
Tudo de Província
O Grande ABC é apenas uma metáfora inspirada na geografia e na conturbação territorial. O amálgama da organização coletiva sem fronteiras é uma ilusão. Repetir isso e muito mais é uma profissão de fé. Os mandachuvas e mandachuvinhas não podem ser identificados como beneméritos da sociedade. Eles são estorvos.
Querem ver o quanto tenho de razão quando afirmo que o Grande ABC é uma província?
Basta imaginar que o Brasil tivesse passado nos três anos pesquisados por impacto semelhante. Não sobraria pedra sobre pedra. Ainda mais que as redes sociais fermentam mobilizações a cada novo lance do enxadrismo político, institucional e econômico. Pois o Grande ABC perdeu tanto, mas tanto, e continuará perdendo, mas o curso do navio seguirá em direção ao iceberg.
Pior que os números mais recentes, que fragilizam ainda mais uma história de derrocada industrial, é a constatação de que não existe massa crítica regional ou municipal com razoável intensidade de indignação.
Cada vez mais vítima do lado sombrio da metropolização, configurada na perda de cérebros em direção à vizinha Capital porque o mercado de trabalho local perde viço, o Grande ABC soma percalços sobre percalços, mas segue exercitando o Complexo de Gata Borralheira.
Presentes incompletos
Tanto que ganhou presentes importantes do governador do Estado João Doria nestes dias que configuram a subalternidade na Metrópole. BRT ou monotrilho tanto faz para expressar o viés suburbano da região.
A devolução de uma estação de trem agora próxima a empreendimentos comerciais e imobiliários que deram com os burros nágua da fragilidade econômica também não significam muito como força de mudanças essenciais ao conjunto da obra de empobrecimento regional.
Uma promessa de metrô de verdade que contemplaria Rudge Ramos pouco vai refrescar também. E tornar menos bovino o usuário dos trens da linha ferroviária que serve cinco cidades configura mais solidariedade do que compromisso com o futuro.
Cadê as lideranças?
Não existe no Grande ABC uma liderança pública sequer que resvale na necessidade de compreender o que se passou nos últimos anos. Desconsiderem o passado mais passado porque o que passou faz tempo não tem mais jeito de consertar. Fiquem no passado mais recente.
Não existe uma viva alma no setor público regional que catalise as atenções na busca por uma reação coordenada. Eles, os mandachuvas e mandachuvinhas, não sabem o que fazem nas respectivas gestões públicas.
Os sete prefeitos atuais são em conjunto os piores da história do Grande ABC. O Clube dos Prefeitos é prova disso. Eles superam todas as levas anteriores, que também não foram lá essas coisas. São incompetentes na gestão econômica coordenada. Vivem no mundo da fantasia de políticas administrativas provincianas.
A métrica de PIB per capita para entender o que se passa na economia de qualquer endereço municipal, regional, estadual e nacional é a indicação a uma avaliação mais ajuizada. Perder como o Grande ABC perdeu 35,26% de PIB per capita em 36 meses (entre janeiro de 2014 e dezembro de 2016) é uma catástrofe. Mas os números são reais. De organismos oficiais metabolizados e interpretados.
Trio de barro
Os três principais municípios da região foram os que mais perderam. São Caetano lidera com queda de 51,96%, São Bernardo com 48,65% e Santo André com 31,34%. O ritmo de derrotas seguiu, no período, a drástica redução de produção e vendas de veículos. Sofre mais quem mais depende do setor automotivo para girar a economia.
São Caetano é dependente demais da General Motors. São Bernardo de então quatro montadoras (a Ford pediu para deixar o campo este ano). Diadema também dependente do setor automotivo registrou queda de 27,96% do PIB per capita. Ribeirão Pires caiu 8,87%, Rio Grande da Serra 19,98% e Mauá, beneficiada pelo Polo Petroquímico, é a exceção à regra, com crescimento de 2,41%.
A gravidade da crise econômica do Grande ABC é quase que exclusiva no período analisado. A perda do PIB per capita no País não passou de 9%. No Estado de São Paulo foram 8,67% de rebaixamento. Na cidade de São Paulo, a Cinderela metropolitana, a queda foi de 8,52%. Portanto, qualquer iniciativa que retire o caráter de especificidade à crise regional não passaria de traquinagem argumentativa comum nas redes sociais coalhadas de burraldos – aquela gente inútil que não enfrenta debate algum sem sacar de mentiras e meias-verdades.
Capital mais dominadora
O empobrecimento do Grande ABC em relação à vizinha Capital é visível. Em 2013, última temporada do governo petista em que o PIB Nacional obteve alguma robustez no resultado final (crescimento de 2,3%), o PIB per capita regional registrava R$ 45.575 mil, enquanto São Paulo contava com R$ 50.853. Uma diferença de 10,38%. Três anos depois, São Paulo registrava R$ 64.064 contra R$ 42.448 mil do Grande ABC. A diferença se alargou para 33,74%.
A cosmopolita Capital não sofre, portanto, da Doença Holandesa Automotiva do Grande ABC. A diversidade econômica da vizinha poderosa é um antídoto para momentos mais delicados da economia. Por isso São Paulo perdeu no período menos de um quarto em relação ao PIB per capita da região.
Mapa da degringolada
Os dados abaixo vão mostrar que os mais representativos municípios da região conseguiram a proeza de, nos três anos analisados, registrar números inferiores aos originais, ou seja, quando se contrapõem os valores de 2013 e de 2016. Traduzindo: mesmo ao se desconsiderar a inflação do período de 25,98% apontada pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) do IBGE, Santo André, São Caetano e São Bernardo, além de Diadema, entregam resultados inferiores. Quando se aplica a inflação do período, apenas Mauá se salva.
Santo André contava com PIB per capita de R$ 39.192 mil em 2014 e passou para R$ 37.595 mil. Corrigido monetariamente o valor de 2013, que alcança R$ 49.374mil, Santo André acumula perda de 31,34%.
São Bernardo contava com PIB per capita de R$ 62.492 mil em 2014 e passou para R$ 52.959 mil em 2016. Corrigido monetariamente o valor de 2013, alcança R$ 78.727 mil, São Bernardo acumula perda de 48,65%.
São Caetano contava com PIP per capital de R$ 106.327 mil em 2013 e passou para R$ R$ 88.148 mil em 2016. Corrigido monetariamente o valor de 2013 alcança R$ 133.950 mil, com perda de 51,97%.
Diadema contava com PIB per capital de R$ 33.776 mil em 2013 e passou para R$ R$ 33.252 mil em 2016. Corrigido monetariamente o valor de 2013 chega a R$ 42.551 mil, com perda de 27,96%.
Mauá contava com PIB per capital de R$ 24.392 mil em 2013 e passou para R$ 31.456 mil em 2016. Corrigido monetariamente o valor de 2013 chega a R$ 30.729 mil, com ganho de 2,41%.
Ribeirão Pires contava com PIB per capital de R$ 22.344 mil em 2013 e passou para R$ 25.855 mil em 2016. Corrigido monetariamente o valor de 2013 chega a R$ 28.149 mil, com perda de 8,87%.
Rio Grande da Serra contava com PIB per capita de R$ 11.589 mil em 2013 e passou para R$ 12.168 mil em 2016. Corrigido monetariamente o valor de 2013 chega a R$ 14.599, com perda de 19,98%.
Total de 1894 matérias | Página 1
21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?