Imprensa

Destrinchando a Entrevista
Especial com Bruno Daniel (3)

DANIEL LIMA - 17/09/2019

O destaque de hoje é o regionalismo. Fizemos uma pergunta indescartável a Bruno Daniel, candidato do PSOL à Prefeitura de Santo André na próxima temporada. O irmão de Celso Daniel não poderia mesmo decepcionar, sob pena de atirar no lixo do desprezo uma essencialidade com marca registrada do prefeito que durante 10 anos, em três mandatos diferentes, comandou Santo André.

Regionalidade é nosso mantra editorial, como pode ser visto no alto da primeira página. Desde sempre esse interiorano paulista jamais abriu mão da concepção mais que compulsória de que o Grande ABC ou qualquer nomenclatura que identifique a região só tem sentido de ser se for integralmente vivido como Grande ABC.

Entretanto, o que parece e é tão genuinamente óbvio encontra obstáculos praticamente insuperáveis no municipalismo dos mandachuvas e mandachuvinhas.

Querem fazer um teste? Vejam na mídia regional deste mês, apenas deste mês, quantas citações diretas ou de variáveis existem sobre regionalidade. Em seguida, quantas fazem referência ainda mais incisiva sobre comprometimento com a regionalidade.

Vamos, na sequência, reproduzir a terceira pergunta encaminhada a Bruno Daniel, a resposta à Entrevista Especial e, para complementar, nossas observações sobre o que ele declarou:

Defendemos uma regionalidade que se contrai ainda mais mesmo sem ter chegado a um nível sequer razoável após morte de Celso Daniel. O prefeito Orlando Morando, de São Bernardo, destruiu o arcabouço reunido no Clube dos Prefeitos e dinamitou a Agência de Desenvolvimento Econômico. O senhor tem ideias definidas sobre o que fazer pós-estragos ou entende que a prioridade deverá ser pronunciadamente municipalista?

Bruno Daniel - É preciso buscar enfrentar problemas ou se antecipar a eles construindo relações intergovernamentais cooperativas, tanto verticais como horizontais. É inimaginável supor que se possa interferir significativamente na mudança vocacional do município e na geração de empregos a partir da política fiscal municipal, assim como reduzir índices de criminalidade a partir apenas do âmbito local (até porque a atribuição constitucional para isso é da esfera estadual), ou que as enchentes possam desaparecer tão somente pela ação de uma Prefeitura. O mesmo vale para congestionamentos, aprendizado escolar, condições de saúde etc. Isto quer dizer que deve-se trabalhar com as esferas federal e estadual naquilo que lhes compete, assim como com os municípios da região. Devemos revitalizar o Consórcio e a Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC, aproveitando a presença de importantes instituições de ensino superior da região, além de nossa proximidade com as de São Paulo. No âmbito do Município teremos que cumprir com a nossa parte, inclusive servindo de parâmetro para os demais, para que no conjunto nossa região se desenvolva. 

 Observações Pertinentes

A lógica da regionalidade no sentido mais integrativo que se possa imaginar deveria ser o pressuposto a qualquer candidato ao cargo de Executivo na região, sob pena de desconfiança generalizada da opinião pública. Mas essa sugestão não passa de estultice, caso venha a ser realmente imposta. O regionalismo é uma peça essencial a faltar no mosaico de interesses individuais, grupais e partidários dos agentes públicos em geral e de quem quer tornar-se parte, ou retornar, à esfera pública dos sete municípios. Da mesma forma, a sociedade em geral pouco se dá conta das vantagens potenciais de uma região com as características do Grande ABC.

Reconstruir a regionalidade que jamais foi exemplar na execução de planejamento e propostas, mas que sempre se desenhou com um objetivo a ser alcançado é a mensagem que Bruno Daniel repassa. Nesse ponto, como em tantos outros, parece extensão do irmão vencido pelo destino.

Resta saber – e essa é uma questão essencial, porque o ambiente, o contexto, as circunstâncias, tudo isso gera reações – até que ponto o discurso seria levado à prática diante do que o passado nos expõe como desestimulo e o presente como estupidez.

Ou seja: a concepção de regionalidade além dos muros de conjecturas que não resistem ao dia-a-dia municipalista é uma obra coletiva que precisa superar os calabouços culturais de fragmentação do território do Grande ABC e os danos colaterais do municipalismo.

A cultura da regionalidade a qualquer custo, ou seja, o imperativo de imposição de pautas que tratem a região como amálgama de soluções municipalistas, é artigo em falta desde sempre no Grande ABC. 

Celso Daniel tentou no segundo mandato, o mais fértil de sua carreira como prefeito durante 10 anos, estabelecer plataformas à perenidade. Foi-se embora já quando não suportava o papel de espécie de Bobo da Corte. Afinal, os demais prefeitos não seguiam seus passos e suas projeções. Onde passou a estar, viu a degradação dos conceitos que o mobilizaram.  

A vantagem da candidatura de Bruno Daniel é que, caso não lhe vendam bobagens triunfalistas e ideológicas, contará com uma literatura de políticas regionalistas que jamais fizeram a menor cócega no tecido de urgências dos graves problemas locais. A pedra de toque do regionalismo sonhado, sempre a partir do Desenvolvimento Econômico com ramificações sociais, é entregar a agentes públicos e privados sem vícios culturais a formatação de um modelo inovador que descarte os lixos acumulados ao longo de décadas e introduzam medidas reestruturantes.



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