Continuamos com a análise das respostas de Bruno Daniel à Entrevista Especial de CapitalSocial publicada em 11 de setembro último. Hoje incluímos três questões na avaliação do que pretenderia o candidato do PSOL à Prefeitura de Santo André.
Primeira pergunta
Entendemos que, jamais e em tempo algum, uma eleição municipal, numa área metropolitana como o Grande ABC, estará tão suscetível ao temário nacional quanto a que se realizará no ano que vem. Até que ponto o senhor entende o quadro nacional poderá influenciar os eleitores locais? E o que isso significaria?
Bruno Daniel – Acreditamos que o quadro nacional poderá influenciar os eleitores locais, mas talvez não na medida colocada na questão. E, aliás, isto pode ser positivo para nós, em função do desgaste da extrema direita, manifesto na queda consistente da popularidade de Jair Bolsonaro até aqui. Creio que a população terá como mira principal quem possa responder melhor àquilo que a preocupa: há flagrante falta de esperança, que nossa pré-candidatura pode preencher.
Observações pertinentes
Entre mortos e feridos com a nacionalização dos estragos da mobilização dos eleitores nas eleições do ano que vem a contabilidade final será um desafio. Certo é que, diferentemente da afirmação de Bruno Daniel, o circo de horrores das redes sociais vai pegar fogo.
Aliás, já começou a pegar fogo em Santo André. Por enquanto, quem mais sofre com campanhas de grupos engajados é o prefeito Paulinho Serra que até outro dia não levava a sério potenciais complicações que os aplicativos impõem à classe política.
Mais recentemente, escalou artilheiros conhecidos na praça, vários dos quais, até então, empedernidos adversários do prefeito. Ou seja: a cooptação ganha o campo digital com força porque o mundo tecnológico mudou tudo: esquinas, bares e outros pontos tradicionais de pregações ganharam o formato de smartphone.
O contágio do ambiente político nacional na região é inevitável. Resta saber até que ponto provocará mais complicações do que as já precificadas pelos especialistas.
Como os concorrentes às prefeituras de Santo André e da região não são representantes isolados do espectro estadual e nacional, as turbulências nas redes sociais deverão colhê-los na contramão de eventual expectativa de paz e amor.
O que vem mesmo por aí (aliás, já está vindo) será chumbo grosso. A artilharia pesada vai se intensificar na medida em que outubro do ano que vem estiver mais aos olhos dos eleitores.
Segunda pergunta
As redes sociais na região estão convivendo com humores e horrores com o municipal, o regional e o nacional. Quando a disputa começar para valer na região o senhor entende que, como nas eleições presidenciais do ano passado, o quadro municipal passará por estresse digital?
Bruno Daniel – De fato poderá haver uma grande disputa através das redes sociais. Mas asseguramos que não compartilhamos da prática da difusão das chamadas Fake News. Delas teremos que estabelecer estratégias de defesa.
Observações pertinentes
Bruno Daniel provavelmente tem total percepção de que o que vem por aí poderá atingi-lo mais duramente na medida em que as pesquisas o apontarem como candidato com possibilidades de sucesso. Será inescapável que os concorrentes mirem para valer sua candidatura na busca por um lugar no segundo turno.
Terceira pergunta
Aparentemente, até porque o senhor jamais foi candidato, haveria uma vantagem na corrida eleitoral porque não teria passivos a ser explorados nas redes sociais, como o que temos visto já em Santo André em relação a alguns concorrentes. Há algum cuidado específico em sustentar esse trunfo?
Bruno Daniel – No momento não há cuidado específico com relação à eventual exploração de passivos. O que há é a preocupação em difundir as ideias que o PSOL vem construindo para Santo André, além de tornar conhecida minha trajetória profissional e na política, que não é nova e sempre esteve ligada a movimentos sociais.
Observações pertinentes
A batalha da ponte da candidatura de Bruno Daniel à Prefeitura de Santo André se dará fortemente nas redes sociais. Quando mais concentrar a artilharia programática em questões locais, com plano de governo que atenda à expectativa do eleitorado, menos suscetível estará aos estilhaços que certamente atingirão o PSOL como agremiação de extrema-esquerda.
Ou seja: é inevitável um choque de imagem, de identidade, de personalização de um Bruno Daniel ainda pouco conhecido do grande público, diante de intervenções de integrantes do partido de Guilherme Boulos.
Resta saber como estará o ambiente nacional na próxima temporada. O desgaste do governo Jair Bolsonaro dificilmente levaria os eleitores de centro a adotar a esquerda mais radical como embarcação eleitoral. Quem está à procura de salvaguarda do eleitorado são os partidos de centro-esquerda ou mesmo de centro.
Talvez seja o maior desafio de Bruno Daniel. É verdade que a associação do nome com o irmão famoso poderá amenizar estocadas de adversários que pretenderão colocar Bruno Daniel numa posição ideológica conflitante com o legado do ex-prefeito de Santo André.
É claro que ninguém tem dúvidas iniciais de que Bruno Daniel estaria mais próximo de Celso Daniel do que de Guilherme Boulos. Mas a manutenção ou mesmo o aprofundamento dessa linha divisória ideológica tende a sofrer transformações na medida em que eventuais arroubos esquerdistas se manifestarem no entorno de Bruno Daniel.
O barco esquerdista no Grande ABC já foi bastante competitivo. O vendaval da Operação Lava Jato, entretanto, deslocou a embarcação a áreas poucos apropriadas à navegabilidade eleitoral.
Mas é preciso reconhecer que a situação já foi pior e tende a ser amenizada nos próximos meses entre outras razões porque cada vez mais se confirma o caráter democrático das roubalheiras que se alastraram além do território do governo federal petista.
O PSOL paga o preço da proximidade com o PT e não tem como negar possíveis acordos que os fortaleçam mutuamente nas disputas eleitorais do ano que vem.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)