Imprensa

Destrinchando a Entrevista
Especial com Bruno Daniel (10)

DANIEL LIMA - 26/09/2019

Chegamos ao penúltimo capítulo desta série que analisa a Entrevista Especial de CapitalSocial com o candidato do PSOL à Prefeitura de Santo André em 2020. As perguntas e as respostas foram publicadas na edição de 11 de setembro. Na edição de amanhã encerraremos o trabalho. E na edição de segunda-feira publicaremos o conjunto de perguntas, de respostas e de “observações pertinentes”, tornando o arquivo único para consultas em geral.  

Penúltima pergunta

A doutrina do PSOL, claramente um partido de esquerda num contexto político aparentemente pouco favorável, será minimizada na disputa em Santo André? Trocando em miúdos: sua candidatura vai mirar preferencialmente temas pragmaticamente locais e rejeitar provocações que procurarão vincular os interesses do partido ao PT?

Bruno Daniel – Nossa visão de esquerda se expressa nos três objetivos estratégicos mencionados. Numa campanha à Prefeitura a preocupação principal deve ser a de construir respostas a seus anseios. Não se trata de pragmatismo e sim de como construir a democracia, discutindo com clareza o que o partido propõe para a cidade e para o Grande ABC. 

 Observações pertinentes

A grande batalha de Bruno Daniel pelos votos em Santo André obedecerá a uma linha tênue que dividirá a percepção do eleitorado. De um lado teremos o saudosismo e a empatia pela denominação familiar que remete inevitavelmente ao irmão famoso Celso Daniel, assassinado em janeiro de 2002; do outro, a imagem de radicalismo do PSOL, cujo símbolo maior é Guilherme Boulos, que concorreu à presidência da República e mal chegou a 0,58% dos votos válidos. 

Essa bifurcação será a batalha da ponte de competitividade para valer da candidatura do PSOL. Competitividade para valer seria passar pelo mata-burro do primeiro turno, classificando-se à etapa final provavelmente contra o prefeito Paulinho Serra, e, em seguida, garimpar votos de indecisos, arrependidos e tudo o mais de eleitores que se omitiram ou optaram por outros concorrentes derrotados na primeira etapa.

Parece muito pouco provável que Bruno Daniel se desvencilharia da pregação que assusta a classe média predominante em larga parte dos bairros de Santo André e sem a qual é improvável sucesso eleitoral. 

O grau cada vez mais sensível de nacionalização das eleições municipais sugere que Guilherme Boulos poderá ser complicador maior que o incentivo ao voto a Bruno Daniel por conta do irmão famoso. Celso Daniel paira acima de preferências eleitorais mais agudas. 

Trocando em miúdos: um segundo turno com Bruno Daniel colocaria em xeque a qualidade do mandato de Paulinho Serra versus os propagados riscos de um partido de extrema-esquerda, saído do ventre do PT. 

Muito mais que os veículos tradicionais de imprensa, as redes sociais ditarão o ritmo das urnas -- como já o fizeram nas eleições presidenciais do ano passado. 

Não se retira o peso relativo da Imprensa profissional, mas como a Imprensa profissional está longe d exercitar jornalismo confiável não somente em períodos eleitorais, os aplicativos de celular, sobretudo o Whatsapp, vão ditar parte importante do ritmo das disputas municipais no ano que vem. 

E esse ponto de munição pesada contra o PSOL de episódios polêmicos poderá tornar a imagem de Celso Daniel menos favorável a Bruno Daniel. Ou seja: Bruno Daniel poderá submergir sob o peso psolista, mesmo diante de um prefeito que concorreria à reeleição sob saraivada de críticas.  

Talvez fosse exagero de perspectiva eleitoral acreditar, vendo-se o mundo da disputa municipal com os olhos postos no hoje, que a campanha de Paulinho Serra não parta para uma pregação radicalizada. O municipal menos favorável seria mesclado de porções relevantes do nacional para enfraquecer o possível adversário. 

Dá para imaginar a inventividade dos marqueteiros de plantão. Uma imagem que funda as características faciais de Guilherme Boulos e Bruno Daniel provocaria efeitos deletérios na campanha do PSOL e das esquerdas em geral no segundo turno. 

Sabe-se que a artilharia digitalizada será generalizada. Por enquanto, o mais impactado pela saraivada de contestações é o prefeito Paulinho Serra. Entretanto, seria ingenuidade acreditar que num segundo turno contra um adversário com as características do PSOL o estigma partidário não seria alvo principal para atingir um candidato que carrega espécie de resgate do passado duramente retirado de cena. Mais que Bruno Daniel, Guilherme Boulos e companheiros serão alvos principais do adversário do PSOL. 

Possivelmente o prefeito Paulinho Serra torça para que encontre Bruno Daniel no segundo turno, porque supostamente poderia disporia de mecanismos retóricos e de imagem que o colocariam mais próximo do eleitorado conservador que, no primeiro turno, não lhe seria tão denso. 

O arco de eleitores de centro e de centro-direita é maior que o arco de esquerda e centro-esquerda nestes tempos pós- Operação Lava Jato. É verdade que a diferença já foi maior desde os escândalos que abalaram o País, mas também é fato que antes disso havia sobretudo por causa da influência de Celso Daniel uma disputa mais equilibrada. 

Bruno Daniel seria mais competitivo com outra camisa, de espectro menos ideologicamente contestador, mas isso não significa que a canoa vai virar num eventual segundo turno. Mas é inegável que enfrentará borrascas nas redes sociais, com capilaridade no eleitorado. 



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