Imprensa

Nove meses de cinco anos que
transformariam o Diário (13)

DANIEL LIMA - 08/10/2019

Faltava menos de um mês para as eleições municipais de 2004 no Grande ABC. Ocupava o cargo de Diretor de Redação do Diário do Grande ABC. Assumira 40 dias antes, logo após atuar como ombudsman do jornal. As campanhas eleitorais fervilhavam.  Peguei o bonde andando. A Frente Andreense (do Atraso), apoiava a candidatura de Newton Brandão à Prefeitura. E queria forçar a barra de todas as formas. Por isso, entrara na Justiça Eleitoral para obstar a publicação de pesquisas eleitorais. E conseguira suspender a divulgação.

Leiam o que escrevi naquela edição de número 14 da newsletter Capital Digital Online, a ferramenta que criei para manter contatos com diretores, acionistas e colaboradores da Redação do jornal. Era 13 de setembro. 

 Edição número 14 

Frente Andreense colocou em

xeque mais que a liberdade 

A atitude da Frente Andreense colocou em xeque mais que a liberdade de Imprensa que todo veículo de comunicação deve perseguir incansavelmente. O que o grupo incentivado por Duílio Pisaneschi e Newton Brandão fez -- e que nem todos têm capacidade ou interesse em avaliar -- não foi senão a tentativa de desmoralizar o jornal. São bobalhões, como se sabe, porque não seria com este diretor de Redação à frente do Diário -- e jamais o será, podem acreditar -- que se consumaria o rastejamento editorial. 

Não faltam histórias de autoridades públicas, entre outros dominadores da pauta do Diário do Grande ABC (ou melhor, ex-dominadores da pauta), que deitaram e rolaram nos últimos anos sobre a Redação. 

Sei de casos escabrosos, de dedo em riste, de tudo que se possa imaginar, sem que a Redação, à deriva, tivesse a mínima capacidade de se indignar. Uma vergonha! 

É mais fácil, como aconteceu ainda outro dia, uma ou outra jornalista menos preparada emocionalmente sentir-se chocada com a avaliação de que a área da qual faz parte está muito aquém das exigências não do diretor de Redação, mas de qualquer leitor minimamente crítico. 

Os usurpadores do Diário do Grande ABC não terão vez. Anotem o que estou escrevendo. Aliás, toda newsletter que redijo vai para meus arquivos, porque amanhã vai se transformar em insumo de novos livros. Repito: quem pretende nos botar uma canga, que perca a esperança. Não fico um minuto na empresa no momento em que uma ordem qualquer, de onde vier, tentar repetir o que se passou aqui durante muitos anos. 

Somente um grande estúpido trabalharia 18 horas por dia para se submeter a ordens indecentes. 

O jornal Diário do Grande ABC que imagino no futuro não muito distante está longe do que temos hoje -- essa é uma constatação que não posso jamais me furtar em repetir, porque estaria agredindo o bom senso. 

Entretanto, o Diário que já temos hoje, com a carta de alforria de desmandos, esse estará inviolável enquanto eu estiver à frente da equipe. Podemos perder tudo, menos a dignidade profissional. Principalmente para políticos de carreira pessimamente assessorados. Enganam-se eles e todos aqueles que eventualmente lhe fizerem coro. 

Não confundam esse procedimento com arrogância, porque o desvio seria típico dos insensatos e dos oportunistas. De gente que não entende bulhufas de jornalismo, de responsabilidade social. 

Vim para esta empresa para ajudar a resgatar a respeitabilidade de uma Redação em pandarecos. Não preciso descer a detalhes sobre o significado disso, porque seria constrangedor. Tenho tempo preliminarmente demarcado para esgotar meu trabalho nessa função. Posso abreviá-lo diante de circunstâncias eventualmente provocativas. Não esmolo cargo algum, emprego nenhum. Não vivo de status, de aparência. Darei minha vida enquanto estiver aqui, mas não tenham dúvidas de que saltarei de banda assim que o primeiro imbecil tentar nos tripudiar, a mim e a meus companheiros de trabalho. 

É por essas e por tantas outras que me sinto com plenos direitos de exigir um produto melhor, mesmo reconhecendo o sucateamento material da Redação, mesmo me irritando com alguns poucos exemplares de profissionais sem comprometimento com o produto, mesmo me descabelando com a carência de metodologias e processos minimamente compatíveis com critérios de qualidade -- tudo aquilo que construí na Redação da Editora Livre Mercado com muito menos recursos e um monte de tentativas de abalroamento vindos principalmente da Rua Catequese. 

Quem não aceitar estas regras de jogo, que se retire da empresa. Como eu o farei, se tentarem alterá-las.

Newton Brandão, Duílio Pisaneschi e assemelhados não nos amedrontarão jamais. Nem quaisquer outros eventualmente interessados em fazer da Redação picadeiro.



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