A Edição 37 da newsletter Capital Digital Online tratou do que chamei de Teoria de Produtividade Editorial, projeto que introduzi na revista LivreMercado antes de chegar ao Diário do Grande ABC. Era 10 de dezembro de 2004. Estava diretor de Redação do Diário do Grande ABC desde julho. Antes, durante menos de dois meses, fui nomeado ombudsman – o primeiro e único na história do jornal.
Vivíamos uma revolução de costumes editoriais no veículo de comunicação mais tradicional da região. Capital Digital Online era ferramenta essencial à catequese interna, corporativa, de uma regionalidade sincronizada que jamais o próprio jornal vivenciou.
A Teoria da Produtividade Editorial estava em plena execução. Com os problemas múltiplos de uma ação reformista que pretendia dar ao jornal algo semelhante que permeava a qualificação editorial da revista LivreMercado que, desde abril de 1997, constava do portfólio de empresas do Grupo Diário do Grande ABC.
Sempre é oportuno lembrar que a ordem numérica desta série estampada no título não está associada à cronologia original porque decidimos optar nessa transposição pela publicação de duas ou mais edições numa mesma data.
Edição número 37
Para entender o sentido das notas
da Teoria da Produtividade Editorial
É natural que nem todos estão preparados para compreender o significado das notas que tenho atribuído a matérias geralmente já publicadas pelo nosso jornal. Não atribuo nota à revelia da lógica jornalística. E que lógica é essa? Ora, de observar atentamente cada matéria como um conjunto de parágrafos que definem o enredo de cada acontecimento, por menos importante que seja. Informar com qualidade é tornar a sociedade mais perceptiva, mais exigente, menos individualista. Por isso, alinhavo 10 pontos que, entrelaçados e entrecruzados, contribuem para o entendimento de critérios do valor de cada nota atribuída como elemento de sustentação da Teoria da Produtividade Editorial:
1) Valor da abordagem.
Um enfoque preciso, contundente, inescapável, com substância, é o carro-chefe de qualquer matéria. Quem não consegue encontrar o foco do material a ser redigido, pode repensar a proposta de dedilhar. Não se pode errar o alvo, sob pena de um desastre.
2) Valor da eficiência.
Entenda-se eficiência como resultado do melhor texto possível com o menor número igualmente possível de inconformidades que envolve sintaxe e linguagem. A copidescagem da matéria em papel, não na tela do computador, é a melhor forma de chegar a bom tratamento editorial.
3) Valor agregado.
Toda matéria tem agregado de valor objetivo e subjetivo. Objetivos são as informações a que todos têm acesso diante dos fatos relativos à própria notícia. Subjetivos são os pontos em que o repórter faz a diferença por conhecimento cultural e consulta ao banco de dados.
4) Valor da sensibilização.
Escrever bem é saber amarrar o parágrafo seguinte ao parágrafo anterior. É desencadear movimento simétrico na forma, mas acrobático no conteúdo. Textos sem sistematização de informações dispersam a leitura e, por fim, se tornam descartáveis.
5) Valor do tempo.
A copidescagem de uma matéria conectada com a cronometragem contribui imensamente à avaliação do resultado final. Textos de tamanhos semelhantes e de cronometragens desiguais explicitam grau de eficiência maior ou menor dos autores.
6) Valor estratégico.
Um produto editorial não pode ser tratado a cada edição, ou pior, em cada editoria, como ilhota com cultura e objetivo diferentes. Uma matéria tecnicamente perfeita sem compromisso com a estratégia editorial de médio e longo prazo jamais construirá rede de transformações pretendidas.
7) Valor tático.
Um produto editorial não pode ignorar o noticiário publicado no dia anterior. Cada acontecimento objeto de informação continuada ao longo dos dias precisa ser amalgamado de maneira que o leitor não seja levado a ter dúvidas sobre o desencadeamento dos fatos.
8) Valor interpretativo.
Jornalismo qualificado não admite que profissional de comunicação seja única e exclusivamente reprodutor acrítico de informações de terceiros. A neutralidade vazia, de deixar para terceiros a publicação de absurdos, é um dos muitos exemplos de vagabundagem editorial.
9) Valor emocional.
Nenhum texto, qualquer que seja o assunto, pode se despir da emocionalidade intrínseca do jornalismo. Textos relatoriais, expressivamente técnicos, inquestionavelmente formais, são um convite à lata do lixo. Por mais que o assunto seja circunspecto, há sempre uma maneira de enxertar humanismo em alguns parágrafos de forma a passar a ideia de que não foi uma máquina qualquer que construiu todos aqueles parágrafos.
10) Valor da racionalidade.
Por mais emocional que um determinado texto seja, dadas as circunstâncias que o encapsula, a racionalidade precisa estar sempre presente. Brigar contra os fatos é levar a informação jornalística à zona de risco de um salto mortal sem proteção. Escrever é a arte de transformar em realidade a contagem até 10 que se recomenda exaustiva e geralmente sem sucesso nas declarações verbais.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)