Imprensa

30ANOS começa com a noite em
que Bin Laden invadiu uma festa

DANIEL LIMA - 09/03/2020

O leitor já imaginou um anfitrião de uma grande festa utilizar a máscara do terrorista Osama Bin Laden para protestar contra um governo federal que causou sérias complicações ao Grande ABC? Pois é esse acontecimento que marcará o lançamento de uma série de matérias que, nestas páginas digitais, vão recuperar boa parte da história do melhor jornalismo regional que o País já produziu, durante 19 anos com a revista LivreMercado e nos últimos 11 anos (sem contar o período de simultaneidade das duas publicações) de CapitalSocial.

Não vou entrar em detalhes sobre a noite em que Bin Laden roubou a festa num hotel em Santo André. Decidi abrir essa série especial, que se estenderá até dezembro, com aquele protesto em forma de deboche acompanhado por cerca de 800 convidados.

Eram tempos em que o Grande ABC fervilhava com a participação de formadores de opinião e tomadores de decisão. Gente que nestes tempos de redes sociais está praticamente desaparecida de eventos em que ideias e ideais se encontravam longe de extremismos ideológicos.

Mais que isso: gente cada vez mais escassa, porque tomadores de decisões e formadores de opinião ganharam a forma disfuncional de mandachuvas e mandachuvinhas. Eles reinam na mediocridade geral.

Contando a história

Juro que estava desde janeiro decidido a encontrar uma fórmula que recuperasse a memória de LivreMercado e de CapitalSocial sem cair na mesmice de reminiscências do jornalismo verde-e-amarelo. Finalmente cheguei ao que entendo a fórmula ideal, e também inédita. Vamos editar quando der na telha textos que de alguma forma consolidaram a personalidade das duas publicações.

Uma recomendação aos que só chegaram recentemente ao mundo da melhor fonte de informações analíticas que o Grande ABC já contou: o catapultar do passado impresso e digital é essencial para que se compreendam muitas questões. São tantas que citá-las pareceria exaustivo demais.

Mas dou um exemplo: há prefeitos atuais que se consideram perseguidos sobretudo no campo da fragilíssima regionalidade econômica. Eles, esses perfeitos, são alienados temporais. Deixam-se escravizar por marqueteiros de marca barbante, gente que tem, entre tantas estultices, a idiotice juramentada de considerar a Operação Lava Jato a razão de o País estar na draga em que está. Um desprezo aos fundamentos econômicos praticado por politiqueiros.

Viagem no tempo

Fizessem esses prefeitos uma viagem no tempo, encontrariam parceiros de jornadas igualmente lamentáveis. É por isso, portanto, entre tantos aspectos, que o passado vai virar presente sistemático até o final do ano. Essa pedagogia jornalística vale também para os guerrilheiros das mídias sociais. Gente que, graças à democratização da comunicação por meios tecnológicos cada vez mais revolucionários, cai na besteira de acreditar que jornalismo independente é ficção e que jornalismo de grandes corporações está isento de ramificações ruinosos à democracia.

Não tenho a ideia de quantos leitores de LivreMercado/CapitalSocial supõem do que se trata a invasão de Bin Laden numa festa em Santo André. Sei que são muitos, embora o tempo tenha passado. São 17 anos entre aquele evento e o dedilhar deste texto. Parece que foi ontem.

Tempos de fertilidade

Já me perguntaram sobre o período mais fértil em 55 anos de jornalismo. É muito difícil selecionar uns pares de anos sequenciais. Mas não há dúvida de que os 30 anos de LivreMercado/CapitalSocial são os mais intensos, didáticos, maduros e produtivos no sentido de alcançar um estado de compreensão dos acontecimentos muito além do esperado. O tempo desgasta o físico mas lapida o intelectual. Desde que a ideologia de direita ou de esquerda extremista não eclipse as ideias.

Portanto, ficamos assim: a qualquer momento editaremos uma das milhares de matérias que LivreMercado e CapitalSocial publicaram nos últimos 30 anos. Matérias que, paralelamente, contarão a história das duas publicações. E o desafio está lançado: procurem em qualquer ponto da geografia nacional algum exemplo semelhante ao desse dueto de jornalismo que dispensa lantejoulas, mas não abre mão de chibatadas nos improdutivos.