Imprensa

30ANOS: Bin Laden recepciona
convidados e aterroriza inúteis

DANIEL LIMA - 12/03/2020

Esta é a primeira matéria da série que resgata os 30 anos do que o jornalismo regional brasileiro oferece de melhor e mais reformista a uma comunidade em intensa e descontrolada transformação. Tratamos da história da revista impressa LivreMercado e da revista digital CapitalSocial. As publicações saíram da mesma fornada de indignação deste jornalista. (com a companhia de inúmeros profissionais de comunicação no período de 19 anos de LivreMercado).

Nesta primeira edição de 30ANOS recuperamos um evento que marcou o lançamento do livro “Meias Verdades”. Propositadamente programado para 1º de abril de 2003. Portanto, há praticamente 17 anos. Todo mundo sabe que 1º de abril é o Dia da Mentira. Oficialmente o Dia da Mentira. Deveria ganhar o apêndice do Dia do Político Profissional.

A leitura do texto abaixo, integralmente publicado na revista LivreMercado, possivelmente vai diminuir os decibéis de alguns analfabetos intelectuais de plantão. Sim, analfabetos intelectuais que, engajados à direita e à esquerda, imaginam que o mundo da comunicação emergiu apenas com o advento da democratização da tecnologia em forma de redes sociais. Eles, essa literalmente meia dúzia de donos da mentira, porque a verdade passa a léguas de distância, acreditam que inauguraram o placar de suposta preocupação com o destino do Grande ABC.

Pragmatismo e inconformismo

Recuperar textos simbolicamente sintetizadores de 30 anos do melhor jornalismo regional foi a fórmula que encontrei para matar dois coelhos de pragmatismo com a mesma cajadada de inconformismo.

Primeiro, coloco definitivamente no tabuleiro da Internet as peças mais preciosas do jornalismo regional. Um jornalismo feito de análise, de interpretação. Longe, portanto, do lugar-comum da reprodução descomprometida quando não combinada, quando não negociada, de declarações de terceiros, muitos terceiros, que tornaram os meios de comunicação plataformas de irresponsabilidade.

Segundo porque os mais abrasivos guerrilheiros de mídias sociais, torcedores ou não de aluguel dos poderosos de plantão, vão começar a entender que há uma distância de 365 dias (às vezes 366) multiplicados por 30 vezes a ser considerada sempre que tomam por isolado um texto mais ácido sustentado por um valor agregado que vem do passado.

Possivelmente o que se verifica em casos assim, ou seja, de tomar o específico com agregado histórico pelo específico árido, é reflexo condicionado de que é preciso defender a todo custo o mandachuva do momento, mesmo que o mandachuva do momento tenha apenas parte ou mesmo nenhuma responsabilidade pelas mazelas locais. 

Pretendemos levar essa série especial até dezembro. A escolha do anfitrião Bin Laden foi por acaso. Juntou-se a fome da insatisfação à vontade de comer de bater nos vagabundos sociais e também na imprensa cada vez mais abusiva no direito de escrever o que quer (e que esse abuso permaneça intocável, porque nada desmoraliza mais um profissional ou uma publicação do que (a agora vem o lado mais que interessante das redes sociais de manifestantes sérios e comprometidos com o País e com a região) revela-se integrante da banda podre do jornalismo de encomenda.

Vamos, então, à noite em que Bin Laden reinou em Santo André.  

Bin Laden invade

Meias Verdades 

 DA REDAÇÃO - 05/04/2003 

O jornalista Daniel Lima, diretor-executivo de LivreMercado, encontrou uma forma original para dimensionar visualmente os estragos de oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso na economia do Grande ABC. Durante discurso de lançamento de seu mais novo livro, Meias Verdades — Como Usar a Mídia Para Vender Ilusão, Daniel Lima vestiu uma máscara de Osama Bin Laden para impactar os 580 convidados que compareceram na noite de 1º de abril, Dia da Mentira, à pré-inaugurarão do Quality Suites, o maior e mais moderno apart-hotel do Grande ABC. 

“Infelizmente — disse o jornalista — um Bin Laden invadiu o Grande ABC nos últimos anos e a maioria não se apercebeu disso. Pior: formadores de opinião e tomadores de decisão preferiram o jogo suicida do triunfalismo irresponsável”. Mais que a administração de Fernando Henrique Cardoso, que levou o Brasil a cair do nono para o 12º lugar no PIB internacional, Daniel Lima bateu forte na mídia, razão do livro que acaba de editar: “Tenho medo da Imprensa e acho que todos deveriam ter porque há uma combinação perigosíssima de triunfalismo, ufanismo, denuncismo, sensacionalismo e irresponsabilidade no trato da informação” — afirmou. 

O jornalista reafirmou o que tem publicado na newsletter Capital Social Online e na revista LivreMercado: que as instituições do Grande ABC precisam passar por sérias transformações. “Entidades governamentais, não-governamentais e privadas estão estruturalmente muito aquém da realidade que nos atinge e isso afeta diretamente a capacidade de recuperação institucional da região” — avalia. 

O cerimonial de lançamento de Meias Verdades e de pré-inauguração do Quality Suites não ultrapassou 30 minutos. Comandado pelo publicitário Antonio Carlos Micheloni, o evento foi aberto com rápido discurso de José Batista Gusmão, que falou em nome dos condôminos do empreendimento. Na sequência, o prefeito de Santo André, João Avamileno, destacou a importância econômica da obra erguida na Avenida Portugal e o caráter de solidariedade do livro Meias Verdades. Toda a arrecadação com venda de exemplares será repassada ao projeto Andrezinho Cidadão, mantido pela Prefeitura de Santo André.

Meias Verdades contou com apoio cultural de várias organizações da região: Fundação Santo André, ABC Veículos, Aparecido Viana Imóveis, McNew Máquinas e Equipamentos, Primi Passi Escola de Educação Infantil, Guedes Consultoria, Memories Eventos Especiais e Stylus Decorações. Responsáveis pela decoração da festa de 13 anos de LivreMercado, as designers Adriana Fiali e Rose Corsini deram toque especial ao evento, expondo mais uma vez réplicas plastificadas das Reportagens de Capa desde o lançamento da fase revista da publicação, em novembro de 1996. 

A ilustração da capa de Meias Verdades é de responsabilidade e colaboração da Fórmula Ideal, que tem Reinaldo Fairauber como diretor de arte e criação e Marcos Dáurea como introdutor do título. 

A festa no Quality Suites foi atendida pelo Croissant D´or Buffet e contou também com participação do Fizz Bartenders. O som da Banda 4porquatro animou os convidados até por volta de uma hora da manhã. 

Apocalipse

Os capítulos mais extensos de Meias Verdades — Como Usar a Mídia Para Vender Ilusão -- contemplam o que Daniel Lima chama de os três cavaleiros do apocalipse no Grande ABC: o Fórum da Cidadania, a Câmara Regional e o projeto Nova Vera Cruz. “As derrotas que sofremos nesses três pontos vitais para o desenvolvimento econômico sustentável da região não podem ser subavaliadas, sob pena de não aprendermos com nossos erros” — afirma o jornalista, que desabafa: “O Fórum da Cidadania é nosso coito interrompido de capital social indispensável, a Câmara Regional é o coice integracionista com suporte do governo estadual e a Nova Vera Cruz o chute nos fundilhos de nossa pseudo intelectualidade”.

Para o jornalista, há um fio condutor que liga o Fórum da Cidadania, a Câmara Regional e a Nova Vera Cruz: “Todos foram igualmente festejados como a salvação da lavoura, ganharam espaços na mídia, fermentaram um positivismo aparentemente inquebrantável, mas o que tivemos na sequência, por razões que podem ser sintetizadas como completa ausência de capital social, foi o desmoronamento absoluto, como se uma enxurrada nos levasse ao desfiladeiro” — compara. 

Meias Verdades reúne 27 capítulos que tratam basicamente de economia. Prevalecem questões relacionadas ao Grande ABC, mas pelo menos 25% da obra alcançam outros territórios. “Os problemas que temos aqui, em matéria de utilização descarada da mídia impressa como estrada de Damasco, são os mesmos que as publicações de circulação nacional enfrentam com suas fontes de informação. Não temos o monopólio da ingenuidade, da confiança irrestrita, do despreparo técnico, do engajamento acrítico e de tantas outras mazelas que caracterizam parte do jornalismo nacional” — garante Daniel Lima. 

Depois de lançar Complexo de Gata Borralheira, em abril do ano passado, o autor alerta os leitores de Meias Verdades: “O que temos desta vez é um texto relativamente árido, porque trata basicamente de economia. Fiz o possível para tornar o conteúdo acessível a estudantes de jornalismo e de economia, mas há determinados enunciados que exigem conhecimento sistêmico da cultura econômica do Grande ABC e do País como um todo, assim como da própria economia como elemento científico. De qualquer forma, procurei ser o mais didático possível. Não é, evidentemente, uma obra para os jovens de Gata Borralheira, que trata da divisão interna do Grande ABC” — explica.



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