Quero ver quem tem peito ou outra coisa semelhante, porque se trata de desafio às mulheres e aos homens leitores, para decidir uma parada que não é fácil, embora pareça fácil. Trata-se seguinte: temos disputa eleitoral de segundo turno eleitoral em três cidades do Grande ABC, porque nas outras quatro a parada já foi decidida em turno único. O que o leitor desafiado faria diante da necessidade imperiosa de escrever um texto e publicar no dia seguinte tendo como premissa a carga de perecibilidade, já que as urnas só serão conhecidas 10 dias depois?
Repetindo para que não se alegue ignorância, tampouco esperteza de engenharia de obra feita: o que o leitor-jornalista por um dia (o desafio vale também para os jornalistas do dia a dia) faria para preparar um texto que se referisse à reta de chegada do segundo turno em três municípios da região tendo como travessia arriscada a necessidade de escrever hoje sobre o que deverá acontecer somente 10 dias depois?
Não tente tergiversar, caro leitor, porque o enunciado convocatório é esse e está acabado. Não tem meio-termo. Tem que ter tutano para responder. O que os leitores querem ver no dia seguinte, com vistas a daqui 10 dias?
Avermelhados dominam
Em cada Município que vai ao segundo turno há três sondagens eleitorais distintas, ou seja, de três institutos diferentes. Um dos quais considerado o mais vistoso à época e ainda sinônimo de pesquisas eleitorais. Três institutos contratados oficialmente, com dados colocados à disposição dos veículos de comunicação.
Já que chegamos a esse ponto de entendimento da proposta, cujo desfecho só apresentaremos na próxima segunda-feira, vamos então às respectivas equações. Combinado?
Na primeira cidade, Santo André, a10 dias da disputa final o candidato avermelhado contava com vantagem percentual nos três cenários diagnosticados. Um instituto dava vantagem de 58,3% a 41,7% dos votos válidos para o candidato avermelhado. Outro instituto apontava 61,3% a 38,7% também para o candidato avermelhado. E o terceiro instituto apontava 54% a 46% para o candidato avermelhado.
Traduzindo: o candidato avermelhado ganhava a eleição em todas as pesquisas, por diferenças relativamente elásticas. E faltavam 10 dias para a abertura das urnas eletrônicas – não esqueçam disso.
Números semelhantes
Na segunda cidade, São Bernardo, o candidato igualmente avermelhado também era o favorito nas pesquisas. O primeiro colocava o placar de 68,4% a 31,6%, o segundo instituto de pesquisa apresentava números semelhantes: 68,9% a 31,1%. E o terceiro instituto estreitava um pouco a distância entre os dois (avermelhado e azulado, como em Santo André) ao apontar 60% contra 40%.
Na terceira cidade, Mauá, e em novo embate entre avermelhados e azulados, um instituto de pesquisa aponta vitória de 57,8% a 42,2%, o segundo apresentou 58,1% contra 41,9% e o terceiro registrou 61% a 39% -- todos com o avermelhado na vitoriosa fita de chegada.
Repararam que os números são semelhantemente favoráveis aos avermelhados na disputa de segundo turno? Está certo que em São Bernardo os avermelhados eram mais favoritos que os avermelhados em Santo André e em Mauá, mas nada que uma superioridade diminuísse o grau de probabilidade de vitória dos demais.
Surpresa descartada
Jamais esqueçam que faltam 10 dias para as eleições nos três municípios. Mais que isso: que não havia nada que apontasse a uma surpresa, entre outras razões porque os três municípios (assim como o Grande ABC) não contava com mídia de massa que pudesse contrapor força suficiente a uma guinada surpreendente. Nada disso. Absolutamente nada disso.
Tem mais: no primeiro turno, todos os candidatos azulados ganharam a disputa às respectivas prefeituras, menos em Diadema, terra até então de intocáveis avermelhados. O jogo estava três a um para os azuis ao fim do primeiro turno.
Estava em disputa no segundo turno, entre outras cidadelas, o comando político-partidário do Clube dos Prefeitos. Mais que isso: o controle do poderio econômico. Os avermelhados poderiam ficar com 82% do PIB caso reafirmassem nas urnas do segundo turno as decantadas vitórias expostas pelos institutos de pesquisa. Os azulados ficariam com os ativos de São Caetano, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Muito pouco na carteira de opções de capitalização no jogo político.
Lula prestigiadíssimo
Para facilitar a tarefa do leitor que topar a parada de entrar nessa briga por uma narrativa consolidada (mesmo que seja para sim mesmo, sem necessidade de a expor a quem quer que seja) o quadro político externo colocava o governador Geraldo Alckmin em situação razoavelmente favorável e o presidente Lula da Silva em franca ascensão, quando não em pré-decolagem quase perfeita, com índices alucinantes de aprovação. As commodities exportadas para o mundo asiático, especialmente a China, salvavam a pátria verde e amarela.
Tenho a impressão de que já repassei todos os pontos principais dos insumos que estão disponíveis a um texto que resuma o quadro político-eleitoral. Não há tempo a perder. São 10 dias que separam a análise das urnas. A reportagem precisa ser produzida e editada a toque de caixa. Há um risco temporal, de algo que possa ser visto como erro porque no período entre a finalização editorial e as urnas abertas pode sim haver um fator diferenciado que altere o rumo dos números.
Desafio inadiável
Traduzindo: quem dentro de 10 dias pós-edição analisar o material com os olhos e a mente de momento específico, ou seja, do resultado real das urnas, pode ter uma superioridade artificializada de crítica a eventual dissonância entre as pesquisas e as respectivas avaliações em relação aos resultados finais.
Entretanto, não dá para fugir da raia da definição editorial a 10 dias da disputa. Espera-se que não haja na praça nenhum estúpido que, urnas abertas, venha a alardear aos quatro ventos que o autor da análise cometeu um erro deliberado, maldoso, interesseiro ou algo do gênero.
Todo mundo sabe que não faltam linguarudos de péssima caráter a confundir as bolas. Eles são personagens asquerosos do mundo digital e também impresso. Gente de péssima reputação porque só se manifesta após os acontecimentos. Não se tem notícia de exemplar desse gênero eticamente delituoso que tenha tido a ousadia, nesse caso, de apostar naquela oportunidade alguma coisa valiosa na vitória de qualquer um dos três candidatos em desvantagem no placar das pesquisas divulgadas.
Segunda-feira revelaremos tudo em detalhes. Espero que até lá o leitor desafiado faça sua própria escolha.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)