Os valores do Diário do Grande ABC não são os valores da meritocracia. O tratamento editorial na edição deste domingo à morte do tetracampeão Zagallo e o reservado à morte do deputado Campos Machado é um convite à prostração. Não se medem dores de mortes, mas ignorar a distinção de vida vivida de cada um é acintosa decisão pessoal do dono do jornal. Jornalista nenhum do Diário do Grande ABC faria isso. Trata-se de assédio profissional evidente. O Diário do Grande ABC é um jornal de preferências e discriminações pessoais. A moeda corrente é o apadrinhamento. A cadeia de produção jornalística é comandada pelo Chefe de Redação, o empresário de transporte Ronan Maria Pinto.
O Caso Zagallo-Campos Machado não se trata nem mesmo de igualdade editorial na primeira página. E trata-se também de superioridade de Campos Machado nas páginas internas. Tudo isso revela o ponto de desrespeito ao leitor e de insensibilidade social. Zagallo e Campos Machado, iguais na morte, viveram vidas contrastantes. O Diário de Ronan Maria Pinto endeusa os amigos vivos ou mortos e ignora, persegue e usa os demais.
Foi preciso contar com o imponderável, ou coincidência, para avivar o senso crítico dos consumidores de informação. Não morressem na mesma data, o megacampeão Mario Jorge Lobo Zagallo e o multilegislador Campos Machado não teriam provocado o teste de estresse editorial do Diário do Grande ABC.
SUPERIORIDADE MESMO
O prevalecimento de Campos Machado nos critérios de edição do Diário do Grande ABC da edição de domingo se consuma inclusive onde aos leigos possa parecer desvantagem do político sobre o ex-jogador, ex-treinador e ex-coordenador de tudo que se pôs na praça esportiva nacional e internacional ao longo de oito décadas.
Vamos à primeira página. O enquadramento cromático editorial foi tão caprichadamente específico que é inevitável a indução à equivalência meritocrática. Campos Machado teria sido na política um Zagallo do futebol.
É verdade que o título-homenagem a Zagallo, com a respectiva foto e a chamada à página interna, se sobrepôs ao título-homenagem e demais providências editoriais de Campos Machado. Então, aparentemente, aos ingênuos, Campos Machado teria ficado um patamar abaixo. Nada disso.
FALSA EQUIVALÊNCIA
Por conta da obra viva vivida e reconhecida e da obra viva e contestada, a costura editorial unindo-se nas cores do enquadramento e no processo de construção da vitrine, que é a primeira página, temos um caso escandaloso de falsa equivalência.
De fato e para valer, levando-se em conta todos os fatores que conduzem à definição de uma chamada de primeira página com tanto destaque, Campos Machado não colecionou méritos em vida para algo além de, quem sabe, uma chamadinha em algum pedacinho muito abaixo do esplendor gráfico dedicado a Zagallo.
Aliás, foi exatamente isso que fez o jornal Folha de S. Paulo e, vejam só, nem a essa alternativa de primeira página se deu o Estadão.
Nas páginas internas, então, tivemos a transposição coerente de erros e acertos dos três jornais na primeira página. O Diário do Grande ABC dedicou uma página inteira a Campos Machado e menos de meia página a Zagallo.
Já o Estadão enfiou num rodapé inexpressivo e claramente discriminatório a morte do ex-deputado estadual, enquanto abriu inúmeras matérias a Zagalo – nada mais justo.
A Folha de S. Paulo deu, na parte inferior da página interna, uma notícia de título discreto da morte de Campos Machado.
AMIZADE, SÓ AMIZADE
Voltando ao Diário do Grande ABC, nada, absolutamente nada, exceto a proximidade com o dono do jornal, Ronan Maria Pinto, parceria que vem de longe, explicaria, mas não justificaria o espaço editorial que contemplou Campos Machado.
As autoridades públicas (prefeito Paulinho Serra, entre outros) convocadas a testemunhar solidariedade à memória do morto, seguiram o ritual de sempre.
Por mais que se leia a reportagem do Diário do Grande ABC, por mais que se procure encontrar um ponto sequer que justificaria alguma coisa menos espetaculosa sobre Campos Machado, não dá amparo.
Campos Machado, rigorosamente, não fez nada pela região. Esse não fazer nada deve ser entendido no campo político e suas variáveis. A homenagem nas páginas do Diário do Grande ABC está presa à amizade com o dono do jornal e às articulações ao longo dos anos para interferir na política regional, sempre nos bastidores. Como a própria reportagem do Diário do Grande ABC expõe.
CHEFE DE REDAÇÃO
Até quando o empresário Ronan Maria Pinto, analfabeto em jornalismo, vai desconsiderar a história do Diário do Grande ABC, e a trajetória de incompetência generalizada sob sua direção, e abrirá mão da arrogância que o coloca como chefe de Redação?
Ronan Maria Pinto é sim chefe de Redação do jornal mais tradicional (mas longe de ser o melhor produto regional), embora nas conversas fiadas com interlocutores que fingem acreditar, afirme constantemente que oferece total liberdade aos jornalistas. Tudo papo furado. O Diário do Grande ABC de Ronan Maria Pinto é estruturalmente uma organização que assedia os jornalistas contratados.
Alguém precisa dizer a Ronan Maria Pinto que, além de analfabeto em jornalismo, é um obstáculo à recuperação da publicação – quando não ao próprio conceito de regionalidade, de cidadania regional, que ele usurpa com o que resta de prestígio do jornal adquirido em 2004.
O Caso Campos Machado é um escárnio que compromete inclusive a memória do próprio deputado. Mas não se trata de novidade alguma. Aos aliados o Diário do Grande ABC oferece sempre uma versão edulcorada do que fazem, vão fazer ou fizeram. E aos adversários, uma terapia contrária – de perseguição, manipulação e desclassificação programada, com assassinato de reputações sem pudor.
OPORTUNIDADE PERDIDA
Ronan Maria Pinto sabe que este jornalista não lhe ofereceu jamais o tapete vermelho do servilismo e tampouco o tratou com inimigo. Diferentemente, portanto, de muitos que o cercam e o bajulam.
Ronan Maria Pinto sabe o que escrevi e escreverei sempre em contestação à suposta participação criminal do Caso Celso Daniel. Poucos saíram em sua defesa e poucos também, sem lhe retirar parte da cota que diz respeito ao outro lado da gestão de Celso Daniel (o lado obscuro da corrupção no setor de transportes) o defenderam da contaminação maliciosa do Ministério Público Estadual.
Não tivesse cometido a maior besteira de sua vida de analfabeto jornalístico, estaria hoje, sem dúvida, nadando de braçadas como o maior, de fato, veículo de comunicação da região e de geografias assemelhadas. Mas o que fez Ronan Maria Pinto, sempre preocupado com agrados?
Meteu os pés pelas mãos, destruiu um trabalho que ele mesmo contratou, liquidou com uma redação que vinha acumulando recuperação atrás de recuperação e, enfim, chegou ao que chegou. Ronan Maria Pinto sabia de cor e salteado que com Daniel Lima na direção de Redação, ou com a manutenção daquela equipe de grandes profissionais, igualmente defenestrados, não haveria sucateamento do Planejamento Editorial Estratégico que preparei para os cinco primeiros anos, prazo interrompido aos 11 meses de atividades.
APENAS PARA AMIGOS
Infelizmente, o Diário do Grande ABC de Ronan Maria Pinto é feito exclusivamente para os amigos ocasionais ou do peito de Ronan Maria Pinto. Mostrei isso exaustivamente em 20 edições de uma série especial sobre o jornal.
A acintosa equivalência (ou a subliminar vantagem do deputado estadual) de valores de primeira página vividos por Mario Jorge Lobo Zagallo e Campos Machado só não ultrapassou todos os limites de uma política editorial suicida porque ao menos, acredita-se, houve resistência de alguns jornalistas vilipendiados por Ronan Maria Pinto a possível iniciativa de se pretender juntar os dois mortos e transformar o assunto na manchetíssima do dia – ou seja, na manchete das manchetes de primeira página. Algo como: “Perdemos Campos Macho e Zagalo” ou alguma variável, como “Campos Machado e Zagalo morrem”. Menos, mal, menos mal.
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29/10/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (27)