Regionalidade

CLUBE DOS PREFEITOS
VAI VIRAR PANELINHA

DANIEL LIMA - 28/11/2024

Só está faltando a capitulação do prefeito eleito Tite Campanella. Capitulação em forma de sedução. Sedução em forma de sensibilização. Capitulação em forma de coerção, se necessário for. O Clube dos Prefeitos que raramente funcionou para valer porque os prefeitos nunca se interessaram para valer, agora está prestes a funcionar. Os prefeitos estão formando uma panelinha de interesses mútuos, múltiplos e cruzados.

Tudo, claro, pela regionalidade. Desde que a regionalidade reforce os poderes dos mandachuvas e mandachuvinhas que jamais se preocuparam  com o desastre econômico da região, abatida ao longo das últimas quatro décadas em processo típico de Titanic.

Tite Campanella está resistindo. Estão entregando a ele um prestígio que não merece,  mas que o envaidece. Estão dizendo a Tite Campanella, no processo de dominação diplomática, que ele tem experiência no ramo de regionalidade e que por essas e outras poderia colaborar bastante para ajudar a construir o novo Consórcio de Prefeitos, o nome oficial do Clube dos Prefeitos.

AUTARQUIISMO FAMILIAR

Não existe anedota mais ofensiva à inteligência regional do que dizer que Tite Campanella seria algum exemplo de regionalidade, razoável exemplo de regional ou mesmo escasso exemplo de regionalidade. Pode  ter conhecimento sobre outras coisas. Isso não se joga na lata do lixo, porque não chegaria a comandar a Prefeitura de São Caetano sem algumas credenciais.

Entretanto, regionalista Tite Campanella jamais foi, não tem ideia do que seja e, mais que isso, filho de Anacleto Campanella, um dos emancipacionistas de São Caetano em meados do século passado, está mais para o municipalismo autárquico do que para qualquer outra configuração institucional.  

É muito difícil, quase estupidez, associar Tite Campanella à regionalidade. Seria  traição póstuma ao pai combativo em tornar São Caetano cidade que é, ou seja, uma cidade, não um bairro de luxo de Santo André.

PEÇAS EM JOGO

Mas, entretanto, porém e todavia, vamos fazer de conta que Tite Campanella seja mesmo um regionalista, mesmo que seu pai em outro plano abomine tamanha traição. Querem Tite Campanella no Clube dos Prefeitos, ou na Panelinha dos Prefeitos, porque se pretende trabalhar com o marketing da integridade da instituição. Da representatividade da instituição.

É provável que Tite Campanella chegue a um acordo e depois requeira perdão à família. É mais que provável que Tite Campanella chegue a um acordo. É quase certo que Tite Campanella confirme o acordo. As peças estão sendo jogadas, no bom sentido de peças jogadas, porque são peças de enxadrismo  para  anunciar o Clube dos Prefeitos unido, depois de São Caetano do prefeito José Auricchio e São Bernardo do prefeito Orlando Morando romperem há quatro anos a unidade inconsolados com a partidarização do organismo.

O que vem aí em forma de integração -- e isso é muito mais amplo que simplesmente o desenho do Clube dos Prefeitos num sentido enganador  --  é que teremos no Grande ABC uma unificação de propósitos de marketing que tomará o exemplo de imunidade, protecionismo, triunfalismo tudo o mais do prefeito Paulinho Serra erva daninha de ataques a quem ousar interromper o ritmo da chuva de unanimidade sempre burra. Pasárgada vem aí.

Dizer que o Clube dos Prefeitos vai virar Panelinha dos Prefeitos é algo do qual o leitor provavelmente jamais tomará conhecimento, além das páginas desta revista digital e de eventuais outras publicações atrevidas. O  aperto em cima da mídia que ocupa plataformas digitais e algumas que resistem no formato de papel será intenso. 

TUDO COMBINADO

O espelho que reflete a falsa grandiosidade da Administração de Paulinho Serra, em breve sob  a batuta de Gilvan Júnior, vai ganhar  amplidão irrespirável a quem preserva a liberdade de expressão com isenção. Poucas marcas jornalísticas vão resistir à discriminação, quando não perseguição, a todos (todos é força de expressão) que ousarem resistir às blitzes nada diplomáticas que se propagarão.

O bate-bola previsto para uniformizar o noticiário em torno dos prefeitos do Grande ABC vai ser multiplicado estonteamente por sete, sempre tendo como referencial a gestão pirotécnica do prefeito Paulinho Serra, a quem é praticamente impossível resistir na avassaladora sincronia de colocar todos os críticos de joelhos.

O Grande ABC dos prefeitos da Panelinha dos Prefeitos deverá ganhar essa tessitura. Se houver recusa de qualquer prefeito em participar da confraria, o preço será salgado. Aliás, é por isso que decidiram aderir aos mandachuvas de plantão. 

ARTILHARIA PESADA

A sociedade consumidora de informação mal percebe essas jogadas de bastidores levadas à cabo como políticas de comunicação social. A maioria, para não dizer a quase totalidade, cai na ladainha mais que manjada de liberdade de informação que se propaga com a cara mais deslavada do mundo.

Fuzilados estão todos aqueles (todos aqueles também é força de expressão) que ousarem manifestar-se com senso de responsabilidade social sobre os novos desdobramentos da falsa regionalidade.

O apontamento de equívocos, mesmo propostas de medidas reestruturantes, serão sempre malvistos, quando não acossados nas redes sociais por militantes regiamente pagos pelo Poder Público. Os paços municipais, especialmente o Paço Municipal de Santo André, conta com artilharia pesada. Se multiplicar o modelo, o Grande ABC se tornará irrespirável à democracia da informação.

A arquitetura de um novo modelo de condução da regionalidade, que abdica da participação de supostas forças institucionais, a maioria das quais presas aos paços municipais como puxadinhos de interesses particulares, será propagada como fonte de recuperação do arcabouço legado pelo então prefeito Celso Daniel. Não acreditem nisso.

Quanto mais unanimidades e semelhanças administrativas forem levadas às manchetes como resultados extraordinários, mais se deve desconfiar. É claro que pesquisas  sérias e independentes sempre aparecem, como no caso do Ranking de Competitividade dos Municípios, que desmascarou o  ilusionismo em torno da gestão de Paulinho Serra, mas até que isso apareça a enganação já se cristalizou.

Dessa forma, o que é verdade espaçada no tempo é vista como fake news porque as fake news circulam praticamente todos os dias em forma de verdade. 

JOGOS DE CENA

Guardem bem os nomes dos novos prefeitos do Grande ABC e também dos dois prefeitos reeleitos. Acompanhem atentamente o noticiário municipalista e regionalista que os envolverão. Estejam atentos.

Pelo andar da carruagem, Tite Campanella deverá completar a Panelinha dos Prefeitos. Com isso, o que teremos serão constantes operações de supostas competências irrestritas.  Críticas sistemáticas, denúncias e assemelhados? Se ocorrerem, coloquem na conta de mais que certeiros desarranjos do projeto em andamento.

É disso que se trata a regionalidade do Grande ABC. Só acredite em regionalidade do Grande ABC quando os prefeitos da região decidirem pegar pelo colarinho da organização coletiva os problemas crônicos que seguem a empobrecer aquela que há muito deixou de ser a área mais rica do território nacional.

O Grande ABC cai pelas tabelas econômicas e sociais. Já é a terceira força da Região Metropolitana, ou quarta força em matéria de PIB  se for considerada a Capital do Estado. Ou seja: é a penúltima colocada, porque só ficaria à frente do Grande Leste. O Grande Oeste de Barueri e Osasco e O Grande Norte de Guarulhos já nos ultrapassaram com certa folga.

MEIO DO CAMINHO

É impossível ficar passivo diante do quadro que se aproxima. O diagnóstico ainda superficial destas linhas tem o comedimento de preservação do autor diante dos perigos que o cercariam caso decidisse revelar os meandros da operação em curso.

Entre a cautela e a omissão existe um caminho do meio, da denúncia em forma de análise. A liberdade de expressão, portanto,  está sob ações preventivas individuais, de livre arbítrio com adicional de semânticas indispensáveis.

Definitivamente, o Grande ABC não deve ser avaliado como território livre, próspero e promissor, porque não é livre, não é próspero e muito menos promissor em todos os aspectos. Somos um caldeirão de pressões subliminares. O Clube dos Prefeitos vai virar Panelinha dos Prefeitos. Com Tite Campanella ou sem Tite Campanella.

Afinal, desde vários anos Santo André espalhou a metodologia a Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Agora começa a operação final. O conglomerado de operadores do massacre à liberdade de expressão não está limitado  a personagens locais e regionais. Há cabeças premiadas da política estadual e federal atrás das cortinas de comando.  


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