Vou fazer abordagem rápida sobre um dos muitos pontos que desafiam quem quer identificar, qualificar e eventualmente judicializar as chamadas fake news. Trata-se de curadoria entregue invariavelmente a amadores pretensiosos. Esses amadores desconhecem largamente a plasticidade e a elasticidade de fake news. Alguns até conhecem algumas propriedades, mas as utilizam com finalidade abjeta.
Com trezentos anos de jornalismo garanto que passei a compreender na plenitude das possibilidades o que é fake news e variáveis. E isso muito antes desse ardiloso mecanismo ser massificado. Tomei a decisão de desbravar as vísceras de fake news diante de circunstâncias desafiadoras.
A função de ombudsman que exerci em dois períodos distintos no Diário do Grand ABC me levou a adotar uma rotina diária fascinante. Acho que me tornei um jornalista muito mais completo. Quando digo que sou um jornalista muito mais completo o que quero dizer é que me tornei um jornalista muito mais completo. Que raios são esses? Ora, jornalista muito mais completo, mesmo que incompleto, porque a plenitude não existe, faz muita coisa, inclusive o que jamais imaginaria.
FUNÇÃO ESPECIAL
Desvendar fake news é a função mais extraordinária para quem se cobra permanentemente, sabendo que sei o quanto há de caçadores sem escrúpulos de meus textos, na maioria dos casos pagos por políticos, financiados por políticos. Eles não cansam de apanhar. Nada melhor que o passado como garantia do presente. O que não é a situação de políticos alckmistas nem de jornalistas azevedianos. Quem tem personalidade não precisa de memória validadora.
Como esses canalhas pagos poderiam me descredenciar se não há dia atrás de outro dia que não meta nas listas de transmissão do WhatsApp, e também nos grupos dos quais faço parte, recortes dos 36 anos desta publicação, antes LivreMercado?
Há sempre um idiota na praça a contestar o uso do passado como ferramenta dissuasiva e explicativa quando não argumentativa do presente. Eles parecem querer inaugurar o placar da vida colocando o placar da vida a partir de seus próprios conhecimentos temporais. Recorrer ao passado é recorrer a Deus.
RECORTES DEVASTADORES
Faço, por exemplo, questão de apresentar recortes no aplicativo de Internet de uma publicação em que determinado partido é vilão e noutra em que é observado como mocinho. O mesmo vale para pessoas e instituições diversas. Essa é uma tática que utilizo para calar os abutres radicais. Mas também há um outro modelo explicativo, de oferecer em recortes apenas passivos de determinados alvos porque ativos não existem e não sou eu que fabricaria imundícies.
Não escrevo um trecho qualquer de análise a cada dia sem estar de olho na turma de interesseiros em busca de desclassificação. Trato de questões que passam obrigatoriamente por checagem. Não admito cometer pecados, embora esteja pronto a eventuais complicações.
Tudo isso é fruto complementar e explicativo da função de ombudsman que me autoimponho e que, aliás, é o mote desta publicação. Ombudsman do Grande ABC, que está aí no alto da página, não é uma baboseira de marqueteiro. É compromisso social.
Existe outro ponto de meu cotidiano de jornalista. Há discriminações, preconceitos e tentativas de deslustrar o jornalismo digital desconectado do jornalismo de papel. Tudo não passa de confissão tácita dos meliantes éticos. Eles se arvoram donos da verdade de papel e patrulheiros de pretensas fake news do jornalismo digital.
PAPEL VERSUS DIGITAL
O jornalismo de papel, que conheço muito bem, entrou em parafuso e precisa se recuperar. Uma das vítimas do jornalismo de papel é o jornalismo digital. O problema dessa turma de detratores de papel é que muitos que fazem jornalismo de papel são inexperientes no jornalismo de papel, não conhecem o riscado do jornalismo de papel, adotam políticas de fake news de papel e pretendem subjugar quem, como é o caso deste jornalista, carrega uma bagagem de jornalismo de papel transposto como doutrina ao exercício digital da profissão mais vilipendiada do mundo.
Querem saber uma das provas mais cabais de que o jornalismo digital e anteriormente de jornalismo de papel de CapitalSocial não se assemelha à maioria do jornalismo de papel e também ao jornalismo digital? Poucos gestores públicos e supostas lideranças empresariais e sociais têm coragem de se submeterem ao questionamento deste jornalista, mesmo que não diretamente, tête-à-tête, mas por e-mail.
Perguntas elaboradas previamente, com tempo a respostas, são evitadas. Eles, os entrevistados fujões, sabem que o buraco é mais embaixo. Serão questões respeitosas, mas incisivas. Nada de água com açúcar. Criei a expressão “entrevista encomendada” justamente como resposta a tudo que signifique lambeção mútua entre entrevistador e entrevistado tão comum no jornalismo de papel e no jornalismo digital de hoje.
ENTREVISTA INDESEJADA
No acervo desta publicação, que envolve tanto jornalismo de papel quanto jornalismo digital, constam vários casos de personagens que fugiram da raia porque foram colocados contra a parede. “Entrevista Indesejada” é uma seção editorial que lancei já faz muitos anos. Fiquei a ver navios. Tanto que a desativei. Confesso que a lancei como provocação. Queria confirmar uma tese.
Praticamente nenhum dos convidados se dignou ao enfrentamento de Entrevista Indesejada. Isso mesmo, enfrentamento. Afinal, se pretendem outra modalidade de relação profissional, que façam acordos com terceiros com perguntas e respostas calibradas à vassalagem.
Essa é, portanto, uma das múltiplas faces do significado amplificado e desenquadrado da literalidade traduzida em forma de fake news. Para quem tem dúvidas, repito: entrevistas encomendadas são um dos modelos mais dissonantes da prática jornalística com responsabilidade social. É uma forma disfarçada de fake news. Propagandismo puro.
Não vou dar conta do recado de apontar todas as modalidades de fake news, mas não custa continuar enveredando por essa trilha de horrores. Uma manchete que suaviza, agrava ou simplesmente dissuade a compreensão do texto jornalístico subsequente é fake news nem sempre identificado pelos leigos ou por quem acha que entende de jornalismo.
MINISTROS LEIGOS
Duvido que qualquer ministro do Supremo Tribunal Federal passaria por um teste para detecção de fake news ao qual os submeteria. Eles não entendem do riscado mesmo. Não vou nem entrar na seara ideológica, ou partidária, ou qualquer outra coisa. Eles não são do ramo e quem não é do ramo faz coisas piores quando decide formar grupos de checadores mal-ajambrados, saídos de vários setores, principalmente da Academia, comprovadamente um mundo à parte de subjetividades sem sustentação prática.
Outro dia estourou o caso do deputado Nicolas Ferreira e a incriminada interpretação de fake news consumida por mais de 300 milhões de internautas. Houve jornalistas que muito antes de entender o que disse o jovem deputado durante aqueles quatro minutos explosivos, construíram editoriais, matérias, análises, condenando o autor.
Como se viu, Nicolas Ferreira saiu consagrado ao preparar uma armadilha informativa sutilmente deslocada da irresponsabilidade denunciada pelos apressadinhos. Todo o mundo conhece esse caso. Até hoje encontramos ignorantes a defender a tese punitiva de fake news. O governo federal correu para mudar a rota, embora, claro, construísse, agora sim, fake news explicativa.
MAIS FLEXIBILIDADE
Também ganha o formato de fake news informações não só manipuladas como também informações sonegadas, prevalecendo apenas um lado da história. O jornalismo de mão única é parente muito próximo do jornalismo de mãos múltiplas. O que isso significa?
Significa que tanto pode manipular a informação contando com apenas um lado da história como também abrir o leque a outros entrevistados previamente reforçadores da mensagem pretendida . Dá-se com isso ares de democracia informativa, de pluralidade explicativa. Tudo não passa de autoritarismo editorial programado como modus-operandi.
Não sei se o leitor está me entendendo. Espero que sim. O que chamei de Meias-Verdade (“como usar a mídia para vender ilusões”) em 2003, quando escrevi um livro com a apresentação e análise crítica de notícias de diversos jornais, principalmente do Diário do Grande ABC, Estadão e Folha de S. Paulo, só não carimbei a obra com a marca de denunciação de fake news.
Entretanto, fake news não era expressão no dicionário de comunicação de forma massiva, embora tenha sido criada em 1890 pelo jornalista americano Charles McCabe. A popularização só se deu nas eleições presidenciais norte-americanas de 2016. Foi ali, de fato, o gatilho de caçador de inconformidades do jornalismo e dos usuários de redes sociais. Sobre esses, aliás, vou deixar para escrever em outra oportunidade.
ARQUIVO INSPIRADOR
Quando escrevi “Meias Verdades” em 2003 contava com um arquivo de papel de mais de duas mil pastas suspensas e cerca de 300 mil notícias selecionadas. Restam poucas pastas agora. Recentemente fiz um rapa-geral. O sistema se tornou obsoleto em vários aspectos, mas não em todos. A Internet, principalmente nos casos da região, não alcança os anos 1990. Nem tudo foi jogado fora.
Tenho algumas pastas antigas e também lanço mão de textos mais recentes, conservando-os durante algum tempo, até botá-los para correr. A demanda é opressiva para quem mantém a mente ligada 17 horas por dia. Estou, atentíssimo ao conhecimento e às fake news.
Por isso, cuidado com o que você consome. E não acredite em ignorantes que pululam nas redes sociais pagos com dinheiro público para apontar como fake news informações factuais do momento mas que, em seguida, se tornam descartáveis ou tecnicamente superadas. Fake news de vagabundos que combatem supostas fake news incriminam maliciosamente o presente que não se efetivou no futuro por conta de variáveis incontroláveis.
Fake news de fato e sem malabarismos semânticos ou ostensivamente patéticos são conteúdos utilizados no presente em formato muitas vezes criminoso na tentativa de negar vergonha documentada no passado e, com isso, influenciar pecaminosamente o futuro.
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10/04/2025 BANDIDOS DÃO AULA DE ECONOMIA A ESTUDANTES