Sociedade

BANDIDOS DÃO AULA DE
ECONOMIA A ESTUDANTES

DANIEL LIMA - 10/04/2025

Ouso escrever sem correr risco algum de escrever bobagem que os assaltantes que atormentam a vida e os bolsos dos estudantes da Universidade Federal do Grande ABC (UFABC) em Santo André decifram com mais competência as leis de mercado do que os assaltados. Na teoria a prática é outra.  

Talvez os bandidos desconheçam  verbetes econômicos como produtividade, demanda, e outros tantos, mas é disso que se trata, entre outros pontos.

O que está em disputa clarificada e também subjetiva é o mercado no sentido econômico de dizer e o mercado no sentido criminal de ser. Os bandidos ganham fácil e faz muito tempo. Tanto que a situação descrita mais uma vez pelo Repórter Diário é recorrente. É uma espécie de sanfona social do crime. Quando a Polícia aparece e aperta o cerco, os números se contraem. Bastou dar uma folga, os números saltam.

Os bandidos ganham facilmente porque, entre outros fatores, a UFABC oferece potencial de demanda criminal concentrada de milhares de alunos. Os assaltantes não encontram nada semelhante em forma de oferta econômica convencional.

MUDANDO DE PAUTA

A excelente reportagem da edição de hoje do jornal digital Repórter Diário (veja abaixo) me levou a substituir a pauta anunciada em redes sociais, sobretudo no aplicativo WhatsApp, para dar tratamento específico ao tema. Pretendia escrever sobre como Sorocaba dá uma surra história em Santo André em todos os indicadores econômicos.

Pensando bem, uma coisa tem a ver com a outra. Duvido que se houvesse uma universidade federal em Sorocaba os bandidos teriam tanta ousadia para praticarem assaltos. A demanda por emprego está mais associada ao crescimento econômico continuado de Sorocaba, em contraponto a Santo André desmilinguida.

Está mais que evidenciado, portanto,  que  não se tratam, os assaltantes e os estudantes, de questões meramente policiais. Há condimentos, para não dizer extratos, para não dizer genética pura, envolvendo as duas bandas. A banda do saber e a banda do tomar mediante ameaça.

TEMÁTICA HISTÓRICA

Faço questão de ressaltar, porque se trata de verdade provada, comprovada e, lamentavelmente, triste, minha história profissional relacionada à UFABC, antes mesmo de a UFABC ser criada e batizada. Isso vem de muito longe. E jamais arredei pé e não o farei, porque os resultados estão aí: o Grande ABC por não ter massa crítica e porque também, à época, se deixou levar pela doutrina ideológica, jamais se dedicou a fazer da UFABC  braço de competitividade econômica.

Os assaltantes que atormentam os estudantes, repito, conhecem bem as rudezas da vida que os triunfalistas egoístas desprezam. Esse encontro das águas é compulsório. A inadimplência social sempre chega quando a conta econômica é deficitária.

Temos na região (há campus também em São Bernardo) uma instituição federal voltada ao próprio umbigo do saber intelectual, até mesmo com vigor na construção de avanços que se notabilizam em ranqueamentos internacionais, mas não temos uma universidade federal com sensibilidade regional – exceto quando um revolver aparece de repente.

Tanto é verdade que no ranking mais respeitado do País, da Folha de S. Paulo, a UFABC se destaca como modelo internacional em contraponto à esqualidez de perna de pau na área econômica.

Duvido, por conta disso, que os bandidos que andam a assaltar os estudantes (como mostra em detalhes a reportagem que segue abaixo) não sejam mais qualificados para decifrar as leis de mercado do que os estudantes assaltados e  estudantes em pânico que teorizam sobre questões externas à região.

Pretendia estender essa análise algumas dezenas de parágrafos, mas acho que vou cumprir melhor minha missão de hoje adotando alternativa que uso de vez em quando. 

ANÁLISES E REPORTAGEM

Para o leitor com tempo suficiente para entender o babado da UFABC na região, o que deveria ser matéria obrigatória principalmente à nova turma de prefeitos do Clube dos Prefeitos, reproduzo abaixo duas análises entre mais de duas centenas de preocupação com aquela instituição.

A primeira se refere ao ranking da Folha do ano passado e a segunda data de 2004, quando a UFABC ainda estava em forma de projeto federal. Na sequência, reproduzo a matéria de hoje do Repórter Diário. Tomara que alguma boa alma envie essa matéria para o Clube dos Prefeitos. Eles, os prefeitos regionais,  que também são prefeitos municipais,  não conhecem a história da UFABC. Todos eles, menos Tite Campanella, mal completavam 20 anos de idade. Vamos lá, então?

 

UFABC fracassa de novo.

Novos prefeitos reagirão?

 DANIEL LIMA - 24/10/2024

Acabou de sair o Ranking Universitário Folha. O RUF é a perdição da UFABC (Universidade Federal do Grande ABC) porque repete a cada temporada a ineficiência do projeto que desembarcou na região há duas décadas e está longe do necessário. Mais que necessário: indispensável.

Num dos macroindicadores do RUF, o macroindicador que mais interessa ao Grande ABC, porque é o macroindicador do Mercado de Trabalho, a UFABC segue na rabeirinha, na posição 189. Bem distante da média geral, que reúne outros quatro macroindicadores, de 37ª colocada.

O resumo dessa ópera-bufa é que a UFABC jamais serviu aos propósitos de urgência de uma região que a cada nova temporada mais sofre perdas econômicas. E que em eventuais ciclos de recuperação após crises da indústria automotiva e também de trapalhadas do governa federal, jamais ameniza para valer o passado de perdas que passou e se eternizam.

A nova leva de prefeitos do Grande ABC que toma posse em janeiro tem uma missão praticamente impossível: reescrever a história de desperdício de dinheiro público que a UFABC representa quando se tem como referência as reais demandas da região.

E OS PREFEITOS?

Os prefeitos que passaram e que estão passando jamais se mobilizaram em torno de uma perspectiva de transformações vinculadas à atuação da UFABC. É verdade que a missão é digna de Indiana Jones, mas nem mesmo se fez presente um movimento que libertaria a região das amarras acadêmicas e ideológicas que caracterizam universidades públicas em larga escala.

O Grande ABC está à deriva economicamente porque não existem institucionalidades que rompam com as mesmices que se reproduzem a cada ano. A posição da UFABC no macroindicador de Mercado de Trabalho é uma agressão que atinge a sociedade regional.

BARRIGA DE ALUGUEL

O que temos de fato e para valer é o que foi definido em forma de expressão irretocável de um especialista na área de Educação de Terceiro Grau, Valmor Bolan. Numa entrevista à revista LivreMercado, antecessora de CapitalSocial, Bolan chamou a UFABC de “Barriga de Aluguel”.

Veja o que Valmor Bolan afirmou durante um congresso realizado em São Caetano, em 2005, e que tratou especificamente dos planos de desembarque da universidade federal na região:

“Precisamos de uma universidade empreendedora, conectada às necessidades das cadeias produtivas, inclusive patrocinada por empresas, e não do modelo elitista, burocrático e atrasado que marca o Ensino Superior brasileiro. A UFABC não tem de surgir de cientistas que não conhecem a realidade local, mas do seio da sociedade organizada do Grande ABC. Da forma como foi apresentada, a UFABC servirá apenas para atender à burguesia de dentro e de fora da região” — disparou Valmor Bolan.

LivreMercado/CapitalSocial produziu mais de duas centenas de textos sobre a Universidade Federal do Grande ABC desde que o projeto entrou no radar de reforço educacional na região.

COLOCAÇÃO ENGANOSA

A UFABC só está na posição 37 do Ranking Universitário Folha porque os pesos ponderados determinantes da classificação a favorecem. A internacionalização coloca a UFABC na segunda colocação, enquanto o Ensino a desloca ao 17º lugar, Pesquisa ao 16º  e a Inovação ao 49º posto. A nota geral, 73,01, seria outra e comprometedora se a 189ª posição de Mercado de Trabalho ganhasse valoração. O RUF, como a quase totalidade das universidades brasileiras, atribui peso relativo do mercado de trabalho muito aquém das demandas nacionais – apenas 18% do total.

Na edição de segunda-feira a Folha de S. Paulo fez circular na edição impressa um suplemente especial sobre o RUF. A USP (Universidade de São Paulo) manteve a liderança do RUF pela quarta edição consecutiva. Com a melhor nota na classificação geral, a instituição se destaca como a primeira classificada em 33 das 40 carreiras avaliadas, como direito, psicologia, enfermagem e administração, que, juntas somam mais de meio milhão de ingressantes.

USP LIDERA

Em sua décima edição – escreveu a Folha – o levantamento avalia, ao todo, 203 universidades (públicas e particulares) e as 40 carreiras com maior demanda no País. São aplicados cinco indicadores, ensino, pesquisa, mercado de trabalho, inovação e internacionalização.

A USP lidera o RUF pela oitava vez – só em 2016 e 2017 não ficou em primeiro, posto ocupado pela URFJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Na edição deste ano, a USP está à frente em quatro indicadores – inclusive em inovação e internacionalização – exceto no de ensino, em que a Unicamp  (Universidade Estadual de Campinas) lidera.

Na segunda posição na classificação geral – ainda segundo o texto da Folha de S. Paulo – a universidade do Interior Paulista teve avanços recentes em suas políticas institucionais, com a adoção de cotas para pessoas com deficiência nos cursos de graduação.

Abaixo, CapitalSocial reproduz Carta Aberta que este jornalista enviou em 2004 ao presidente Lula da Silva sobre a importância ou desimportância de uma universidade pública federal na região. 

 

Universidade Pública: carta

ao presidente Lula da Silva

 DANIEL LIMA - 17/05/2004

Caro presidente Lula da Silva. Permita-me que lhe escreva sem as formalidades de praxe. Sem salamaleques tudo fica mais simples e sincero. Li no Diário do Grande ABC deste último domingo que o senhor vai receber amanhã, terça-feira, os sete prefeitos e os quatro deputados federais do Grande ABC. O assunto é um sonho de poucos que tentam maquiar a realidade falando em nome da maioria.

O time completo que o senhor vai recepcionar amanhã dá exatamente 11 atores, nove dos quais do seu partido, o PT. Cuidado, caro presidente, com o que vão lhe apresentar. Pode ser presente de grego. Ou melhor: mais um fogo amigo.

Não se comprometa com promessas, caro presidente. Não diga a eles que o senhor se comoverá com a criação ou com a adaptação de uma universidade pública federal no Grande ABC. É uma gelada acreditar na porção panglossiana dessa turma eleita pelo povo mas que não entende lá essas coisas de economia regional.

Não se deixe prender pelo partidarismo nem pelo bom-mocismo, caro presidente. Não deixe que se confirme por aqui a versão de que essa reunião é um jogo de cartas marcadas, que tudo estaria preparado para a promessa de ceder à tentação.

Com todo o respeito que tenho por eles, caro presidente, sinto-me na obrigação de abrir seus olhos. Há conotação político-eleitoral nessa proposta. Como se sabe, vivemos um ano de disputas às prefeituras. Ninguém quer perder. Só não posso, caro presidente, deixar de alertá-lo, como seu eleitor duas vezes em outubro de 2002. Sim, depois de relutar e de não lhe dar meu voto nas três disputas anteriores das quais o senhor participou, ajudei a consagrá-lo por duas vezes contra o desastroso governo de Fernando Henrique Cardoso. Sinto-me, portanto, em condições de lhe fazer essas considerações; não bastasse a função jornalística.

Não sei se o senhor conhece minhas credenciais para abusar de sua paciência, mas sou jornalista nem sempre bem visto porque não me dobro a conveniência de qualquer espécie. Tenho 38 anos de profissão, escrevi três livros nos últimos dois anos e, se somar o que escrevo todos os dias, dá para editar um livro de 120 páginas todo mês.

Geralmente minha pauta é o Grande ABC. Esse pessoal que vai visitá-lo, mais precisamente os prefeitos, é muito bom em programas sociais. Bambas mesmo. Temos no Grande ABC um laboratório inigualável de políticas públicas na área social. Há explicações para isso.

Eles são, em grande maioria, gestores inquietos com a exclusão social cada vez mais proeminente em nosso território. Não é para menos. Só no governo de seu antecessor, aquele que cobra R$ 50 mil por conferência sobre o que mal conhece, que é macroeconomia, vimos desaparecer 39% de nosso PIB industrial. Isso mesmo: 39%. Não é erro de digitação. Foi inação coletiva. Por essa e por outras votei no senhor, caro presidente.

SHOW SOCIAL

Se no social damos show de bola, com programas reconhecidos em várias premiações nacionais e internacionais, inclusive no Prêmio Desempenho que realizamos há 11 anos, no econômico somos um desastre. Nosso time de gestores públicos, legisladores, lideranças econômicas, lideranças sindicais e lideranças sociais não enxerga um palmo à frente do nariz quando o temário são negócios, produtividade, competitividade, logística, essas coisas elementares.

As secretarias de Desenvolvimento Econômico que só entraram nos organogramas dos Paços Municipais em 1997, estão longe de um mínimo de estrutura para o jogo da sedução de empreendimentos. A burocracia impera.

Há bons profissionais, mas falta estrutura material e física. Falta coletivismo, integração regional, coisas de que Celso Daniel tanto reclamava.

Querem vender ou já teriam vendido ao senhor, caro presidente, uma prioridade que de fato não existe. A Universidade Pública do Grande ABC é uma falácia nesta altura do campeonato de emergências em que nos encontramos. Não está nem entre as cinco prioridades máximas, nem entre outras cinco adicionais.

Precisamos de desenvolvimento econômico, caro presidente. De investimentos, de empregos, dessas coisas que constroem uma Nação. Temos montanhas de diplomas universitários na fila de empregos das centrais de trabalho e renda. Gente que não sabe o que fazer da vida. Somos 300 mil desempregados e outro tanto no mercado informal. Para cada analfabeto cadastrado nas centrais de desemprego, somam-se 15 universitários.

É claro que essa comitiva vai omitir esses dados e muitas outras informações. Posso lhe mandar os livros que escrevi sobre a situação socioeconômica deixada pelo governo Fernando Henrique Cardoso no Grande ABC. Os energúmenos ideológicos dizem que foi o sindicalismo que abriu as mais recentes crateras na região. Eles confundem as bolas.

SINDICATOS SUMIRAM

Os sindicatos de trabalhadores praticamente desapareceram do mapa de preocupações das empresas nos anos FHC porque enxurradas de carteiras de trabalho viraram peças de museu no setor industrial. Para ser preciso, nos oito anos de Fernando Henrique Cardoso, perdemos 85 mil postos de trabalho só na indústria.

Essa contabilidade funesta não pode ser atribuída a seus companheiros. Mas se o senhor der muita trela aos idólatras da Universidade Pública Federal do Grande ABC vai entrar numa grande roubada. Mais uma neste ano, por sinal. Eles estão pensando em benefícios político-eleitorais, que necessariamente não são interesses do seu governo, caro presidente.

Quer um conselho, caro presidente Lula da Silva? Vou exagerar na dose desse tom intimista que resolvi adotar nesta carta e sugerir que não caia na armadilha de anunciar amanhã que dará uma universidade pública para o Grande ABC, algo que vai ser difícil o senhor cumprir e — pior ainda — não oferecerá as respostas ao desenvolvimentismo de que tanto carecemos. Corta essa, presidente.

Estou sabendo que o encontro de amanhã seria pura encenação eleitoral, da qual todos usufruiriam até outubro, mas não é justo que essa farsa seja compactuada pelo caro presidente. Basta recorrer aos arquivos sobre a gravidade do quadro educacional no País, sobremodo em nível federal, onde as escolas de terceiro grau vivem numa pindaíba que dá dó, sem recursos financeiros, sem investimentos em laboratórios, professores desmotivados, funcionalismo em pé de guerra e alunos desestimulados, para entender porque a flacidez orçamentária denuncia um corpo entregue às traças.

E mesmo que houvesse recursos orçamentários, caro presidente, acredite que universidade pública federal não é nossa prioridade regional. Temos escolas de terceiro grau suficientes para atender à demanda. Aliás, supera a demanda, porque a inadimplência combina com a falta de perspectiva profissional. Ter diploma, qualquer diploma, virou obsessão do governo de seu antecessor. O problema é que a qualidade do ensino se submeteu ao facilitarismo estatístico. Valem mais os números do que a competência.

Não bastasse isso, caro presidente, ainda temos o desconfortável drama de as universidades públicas estaduais ou federais serem tomadas pela classe média que pode frequentar escolas privadas de nível médio mais qualificadas.

DUPLA ENRASCADA

A Universidade Pública do Grande ABC iria nos meter numa dupla enrascada, caro presidente: além de dispensável, se tornada realidade manteria o status quo que todos condenam. Exceto, caro presidente, se for efetivada a tal Universidade para Todos, que abriria vagas gratuitas nas escolas particulares, as confessionais e nas filantrópicas. Nesse caso, teremos mais um motivo para dispensar a Universidade Pública Federal do Grande ABC.

Aposte nessa alternativa, presidente, porque dispensa entre outras despesas novos efetivos de professores, de funcionalismo, de manutenção de prédios e equipamentos. A isso se dá o nome de racionalidade.

Fosse o senhor, caro presidente, reuniria um grupo de assessores para recepcionar a prometida delegação do Grande ABC amanhã em Brasília. Gente que entende do assunto e que lhe dê subsídios sobre tudo o que interessa ser debatido nas escolas públicas de terceiro grau.

Se é difícil atender a esse pedido, caro presidente, então faça o senhor mesmo as indagações a esse pessoal que se diz porta-voz de 2,5 milhões de habitantes de uma região que vive a pior quadra de sua história.

Indague-lhes, caro presidente, sobre o modelo de universidade que pretendem para uma região que, por falta de planejamento estratégico, não sabe nem para aonde vai economicamente.

Só essa pergunta basta, presidente. Exija-lhes, se quiser provocá-los, um projeto que associe o perfil da universidade à recomposição econômica da região. E que esse projeto passe pelo crivo de quem entende suficientemente a realidade do Grande ABC, não por amigos do peito que só querem encorpar o cordão de puxa-sacos.

Não vou estender-me nesta carta, caro presidente, porque tenho a impressão de que já me fiz compreender. Quero o seu bem, caro presidente. Encontrei-o poucas vezes pessoalmente. A última, por sinal, foi terrível: nos corredores do Paço Municipal naquele sábado fatídico em que Celso Daniel estava sequestrado.

Antes disso, como não frequento com assiduidade templos sindicais, públicos e empresariais, cumprimentamo-nos episodicamente. Torci pela sua vitória em outubro de 2002 porque fazia e ainda faço parte da turma da esperança, embora com um grau mais acentuado de indignação. Acho que se Celso Daniel vivo estivesse, ele saberia, também, que agora não é hora de debater universidade pública no Grande ABC. Não podemos iludir o povo, desfraldando uma bandeira inequivocamente arbitrária, incômoda, inoportuna e insensível ao momento que atravessamos.

UM PLANO MARSHALL

Quer colaborar com o Grande ABC, caro presidente? Diga à comitiva que topa financiar um plano estratégico de recuperação regional. Um Plano Marshall, para ser mais explícito. É disso que precisamos, caro presidente. Sugiro-lhe, a respeito do assunto, um livro imperdível de William Easterly, economista do Banco Mundial. Coincidentemente, chama-se “O espetáculo do crescimento”, título que o senhor lançou no ano passado como marca de uma retomada econômica que ainda parece complicada.

Aquela obra é imperdível, caro presidente, porque mostra que o caminho mais curto para o equilíbrio social é o desenvolvimento econômico. A educação é espécie de linha auxiliar. Se quiser, vou presenteá-lo com a obra.

Acho que o ideal mesmo seria que o time que vai recepcionar amanhã tratasse de se atualizar, consumindo ensinamentos de mais de 300 páginas de quem viveu inúmeras experiências práticas nos mais diversos cantos do mundo. O problema todo é que eles teriam de admitir que estão forçando a barra de uma causa insuportavelmente ofensiva a quem conhece o outrora Grande ABC esfuziante.

Estou torcendo mais uma vez pelo senhor, caro presidente, no encontro de amanhã. Não deixe que os mexericos se confirmem e que os jornais anunciem, no dia seguinte, que agora sim encontramos o maná da prosperidade, a chamada universidade pública federal do Grande ABC.

A Grande Osasco cresceu muitas vezes mais que o Grande ABC nos últimos oito anos e não conta com essa salvação da lavoura. O Interior catarinense dá lição de prosperidade sem se preocupar com diplomas. Não faltam exemplos de que em primeiro lugar devemos lutar por novos empreendimentos, por geração de emprego. Há muito voluntarismo nessa bandeira da educação, caro presidente.

Em tempo: o nosso time começou a melhorar. Já dá para imaginar que não seremos rebaixados. 

 

Roubo cresce mais em volta

da UFABC que no resto do ABC,

apesar da atuação da PM 

 REPÓRTER DIÁRIO 

O número de roubos registrados na região entre janeiro e fevereiro deste ano em comparação com o mesmo período de 2024 revela que no entorno da UFABC (Universidade Federal do ABC), em Santo André, houve crescimento dos casos deste tipo de delito aumentou mais do que em outras áreas da região. Na área do 2° Distrito Policial e da 1ª Companhia do 10° Batalhão da Polícia Militar os roubos em geral (exceto roubos de banco, carga e veículos), ou seja, casos em que o cidadão é abordado na rua e tem seus bens subtraídos, aumentou 86,5% segundo os dados oficiais da Secretaria de Segurança Pública do Estado.

A PM sustenta que a situação já mudou na área, que é composta por 12 bairros. Os estudantes também dizem que a situação está mais calma, mas temem que, aos poucos, o problema volte ao que era antes.

O problema, segundo os estudantes, é tão antigo quanto a própria universidade. Dizem que a situação melhora depois de casos de repercussão e depois voltam a ocorrer roubos frequentes. “De fato a gente tem visto uma redução dos assaltos, diferente do que vinha acontecendo há um mês”, sustenta a presidente do DCE (Diretório Central dos Estudantes), Maria Fernanda Meneguelli Soella.

Fernanda conta que era uma forma organizada de agir onde os criminosos sabiam quando tinha aula, horários de entrada e saída, ou seja, estavam ligados na rotina. Graças à mobilização e a repercussão tem policiamento na região, então quem fazia isso está vendo o policiamento, mas e quando não tiver mais”, questiona.

“Será que vão manter todo esse aparato?”, pergunta. Fernanda reivindica outras medidas de segurança, como ter um transporte de qualidade, uma infraestrutura de iluminação, mais circulação de pessoas. “Feiras populares, fomentar espaços de cultura, de pequenos comércios, tudo isso influencia, mas são coisas que a gente não está vendo”, diz Maria Fernanda sobre a atuação do poder público de uma forma geral. “Vem um aparato no momento em que a crise é mais forte, mas isso não soluciona o problema. Amenizou diante da presença da Polícia Militar”, completa a estudante.

O capitão Fábio Leite, comandante da 1ª Companhia, explica que a região sob seu comando é grande e muito movimentada exige bastante recursos da PM. “São 12 bairros onde vivem 133 mil pessoas, temos todo um trecho da avenida dos Estados que faz divisa com São Caetano, com Mauá e com São Paulo. Mesmo assim a gente vinha em um contexto de redução dos índices criminais, temos obtido uma redução entre os meses de janeiro e março, sendo que neste último mês aconteceu um caso de repercussão, mas a gente vem atuando firmemente nesta área”, explica.

O caso a que Leite se refere foi um assalto a dois estudantes no dia 27 de março. Os jovens aguardavam um motorista de aplicativo quando três homens em duas motos chegaram e anunciaram o assalto. O primeiro a chegar, para mostrar que estava falando sério chegou atirando para o alto. Os criminosos fugiram levando celulares e outros pertences das vítimas.

A PM e a UFABC debateram a situação após esse crime. “Tivemos inclusive o relato de uma destas vítimas que disse que instantes antes tinha passado uma viatura nossa. Ou seja, esse relato mostra que estamos presentes. Na nossa área realizamos entre janeiro e fevereiro a abordagem de 5,4 mil pessoas, mais de 3 mil veículos, prendemos 23 pessoas em flagrante, mais dois adolescentes apreendidos, armas e simulacros (arma falsa) foram tirados das ruas e 10 pessoas procuradas foram recapturadas. Em março tivemos mais três procurados presos. Então estamos trabalhando fortemente para levar uma percepção maior de segurança”, diz o oficial da PM.

Segundo Leite policiais em horários de folga se inscreveram para trabalhar em horários extras naquela região, a 1ª Companhia recebeu reforço das equipes da Força Tática, da Rocam (Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas), além da Ronda Escolar que, após as 23 horas tem feito presença mais forte no entorno do campus da UFABC em Santo André. “Já é possível verificar a diminuição sim dos boletins de ocorrência nestes primeiros dias de abril principalmente no trecho entre a universidade e o terminal de ônibus. A gente tem feito um trabalho forte analisando todos os boletins de ocorrência para atuar na prevenção e repressão aos criminosos que agiam ali”, completou o capitão.

NÚMEROS 

Conforme os dados disponíveis na Secretaria de Segurança Pública em janeiro e fevereiro, comparados com o mesmo período do ano passado, a área do entorno da universidade teve 119 roubos no ano passado e 222 neste ano, alta de 86,5%. Em Santo André inteira os roubos aumentaram 5,37% e em todo o ABC houve queda de 9,1%.

Só Rio Grande da Serra teve um percentual maior, porém lá os números absolutos são muito pequenos, passando de quatro para oito casos. Fora isso, só a área do 7° Distrito Policial de São Bernardo teve um panorama de alta significativo, de 42,42%, mesmo assim não chegou nem à metade da alta da área do 2° DP de Santo André.



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