Sociedade

Entidades empresariais, sindicais
e sociais recebem cartão vermelho

DANIEL LIMA - 20/04/2011

Quer saber como os representantes dos formadores de opinião do Grande ABC avaliam as entidades empresariais, sindicais e sociais? Foi o que fizemos quando produzimos amplo questionário e o enviamos ao Conselho Editorial da revista CapitalSocial. Dos 123 conselheiros, 113 responderam à consulta. E os resultados continuam a ser revelados. As entidades que lidam com o capital, com o trabalho e com o social estão reprovadas. Sumariamente reprovadas. Receberam cartão vermelho por inapetência em atender aos requisitos de responsabilidade social.


Nada que surpreenda. Há muito tempo bato na tecla de que não temos institucionalidade, não temos paixão regional, não temos algo que possa ser chamado de bairrismo saudável, de briga pelo espaço regional sem manchas passadistas.


Por isso acusamos os golpes do Complexo de Gata Borralheira, expressão que criei e disseminei entre outros meios na obra lançada em 2002. Há quase uma década, portanto.


Os resultados colhidos das decisões individuais dos integrantes do Conselho Editorial de CapitalSocial são o melhor indicativo de que há pulsação de regionalidade entre os formadores de opinião do Grande ABC. Gente que quer ver mudanças.


Quem sabe com a consolidação de um movimento de aproximação virtual que as plataformas digitais estimulam, passando-se em seguida a encontros presenciais, não ocorram novidades nos próximos tempos, mesmo que os próximos tempos estejam distantes? É melhor viver da perspectiva de que algum amanhã se tornará presente do que persistir na certeza de que o passado se reproduzirá indefinidamente.


Não se pode duvidar de que pelo menos algumas medidas pontuais possam aparecer no horizonte e, combinadas, ganhem sinergia e ajudem a modificar o quadro atual de anestesiamento do capital social. Está aí a figueira do Parque Celso Daniel, condenada à morte por demagogos de plantão, inclusive da mídia, a ganhar sobrevida por conta de mobilização que teve as redes sociais como origem de indignação, de repulsa ao facilitarismo decisório eivado de condenação inapelável movida por razões políticas?


Vamos ao que mais interessa agora — aos resultados do amplo questionário preenchido pelos conselheiros de CapitalSocial.


Vejam os enunciados e os resultados que se entrecruzam porque tratam do grau de responsabilidade social de entidades municipais da região:


Qual sua avaliação sobre as entidades de classe empresarial no Grande ABC:


  São bastante efetivas e promovem grandes ações regionais: 14%.


  São apenas corporativas, olham para o próprio umbigo: 68%.


  São extremamente improdutivas, inclusive no sentido corporativo: 18%.


Qual sua avaliação sobre as entidades sindicais do Grande ABC:


  São bastante produtivas para o conjunto da sociedade: 8%


  Estão muito aquém do que a sociedade regional necessita: 65%


  Cuidam exclusivamente de seus próprios interesses: 27%.


Como observa as entidades sociais do Grande ABC (exceto empresariais e sindicais):


  São extremamente participativas e integrativas com o conjunto da sociedade regional: 35%


  Não saem dos próprios casulos, sem se incomodar com a sociedade: 45%.


  Estão absolutamente inertes, inclusive intestinamente: 14%.


A conclusão a que se chega é simples, sem reducionismos maniqueístas: as entidades empresariais e sindicais receberam cartão vermelho sem pestanejar, enquanto as entidades sociais foram primeiramente advertidas com o cartão amarelo, para depois serem expulsas do campo da responsabilidade social.


Qualquer interpretação diferente do que transpiram os dados dos conselheiros editoriais de CapitalSocial não passa de diversionismo.


Confesso que estou mais que satisfeito com os resultados destes três quesitos, que integram quase duas dezenas de questões, porque sinto que a sociedade formadora de opinião está amadurecida e, mais que isso, cansada do proselitismo vadio de supostas lideranças que não lideram coisa alguma porque de fato pretendem apenas se locupletarem de organizações mais que tradicionais, tomando-as como plataformas de investidas pessoais e grupais.


É por essas e outras que me sentirei feliz mesmo no dia em que a sociedade representada em suas divisões temáticas botar para correr essas sanguessugas e, com isso, iniciar novo modus operandi de relacionamentos entre os iguais, espalhando-os intensamente aos semelhantes e desiguais.


Ou seja: só teremos capital social de fato no Grande ABC, além o que permeia esta revista digital, no dia em que os muros protecionistas de instituições voltadas aos próprios umbigos desabarem em arremetidas dos integrantes das respectivas corporações.


Quando a sociedade do Grande ABC vai refletir o senso crítico dos formadores de opinião de CapitalSocial espalhados em mais de 2,5 milhões de habitantes?


Os percentuais que medem a pulsação de comprometimento das entidades empresariais, sindicais e sociais do Grande ABC com o conjunto da sociedade são auto-explicativos. Acompanhá-los e compará-los parecem atitudes suficientes à compreensão do grau de provincianismo e de mandonismo que enfrentamos nesse processo de permanente esclerosamento regional, que tem origem nos pecados municipais.


Jamais chegaremos sequer a resvalar em conceitos de regionalidade produtiva se o núcleo de transformações no âmbito municipal não forem estilhaçados.


A pauta jornalística precisa se atualizar também, porque está mais que evidenciado que a maioria dos representantes das entidades locais não fala nem mesmo por seus supostos representados, quanto mais pelo universo da população.


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