A classe média representada no Conselho Editorial de CapitalSocial é prevalecentemente conservadora. Essa é a conclusão da apuração do questionário respondido por 113 conselheiros. O que é ser conservador, libertário, socialista e autoritário? Colhemos as respostas sem nos referir explicitamente a esses rótulos. A possibilidade de desvios foi contornada. Utilizamos como suporte à obtenção do perfil do Conselho Editorial um dos capítulos do livro “A Terceira Via”, do sociólogo Anthony Giddens, guru do ex-primeiro ministro britânico Tony Blair.
Acompanhe os enunciados formulados aos conselheiros editoriais e os respectivos percentuais:
Defendo a liberdade de mercado, mas também quero o controle estatal forte sobre questões como família, drogas e aborto: 46%.
Defendo o individualismo e o envolvimento discreto do Estado em todas as áreas: 19%.
Quero mais intervenção do Estado na vida econômica porque sou descrente no mercado e vejo o governo com cautela no tocante a questões morais: 11%.
Quero um governo de mão forte em todas as áreas, incluindo tanto a economia quanto a moral: 18%
Não responderam: 6%.
Possivelmente se antecipássemos aos conselheiros que cada enunciado se revestia de um determinado conceito ideológico, correríamos mesmo o risco de obter resultados distorcidos.
Afinal, há preconceito a determinados vocábulos. Conservador, libertário, socialista e autoritário são alternativas que por si sós não dariam a exata dimensão do pensamento individual dos conselheiros. Era preciso, portanto, partir para algo diferente. Os quatro enunciados resolveram a questão. Tanto quanto a omissão deliberada em antecipar o significado ideológico de cada uma das alternativas expostas.
Fui à obra de Anthony Giddens por uma razão muito simples: trata-se de um estudo extraordinariamente envolvente que deveria ser consumido por todos que querem compreender as grandes transformações pelas quais passaram a economia e a política ao longo dos tempos.
Transcrevo alguns parágrafos de “A Terceira Via” que me levaram a reproduzir no âmbito do Conselho Editorial o que chamaria de teste ideológico.
Levantamentos sociais levados a cabo em países específicos confirmam a realidade da mudança de atitude e a inadequação da divisão esquerda/direita como um meio de compreendê-la. John Blundell e Brian Gosschalk, por exemplo, veem as atitudes sociais e políticas no Reino Unido divididas em quatro aglomerados, a que chamam conservador, libertário, socialista e autoritário. A crença na liberdade econômica — o livre mercado — é medida num eixo e a liberdade pessoal em outro. A posição “conservadora” é a neoliberal: um conservador defende a liberdade de mercado, mas quer forte controle estatal sobre questões como família, as drogas e o aborto. Os “libertários” defendem o individualismo e o envolvimento discreto do Estado em todas as frentes. Os “socialistas” são o oposto dos conservadores: querem maior intervenção do Estado na vida econômica, mas são descrentes nos mercados e veem o governo com cautela no tocante a questões morais. Um “autoritário” é alguém que deseja que o governo tenha mão firme em todas as áreas, incluindo tanto a econômica quanto a moral. Os demais adotam uma perspectiva política mais ambígua — escreveu Anthony Giddens.
A pergunta que faço a mim mesmo, depois desses resultados, é a seguinte: até que ponto os percentuais que saltaram dos questionários respondidos pelo Conselho Editorial de CapitalSocial não têm uma forte relação de semelhança com o pensamento médio da população em geral? Seria apenas a classe média tradicional a esculpir esse rosto ideológico conservador que vai muito além dos 46% do primeiro enunciado? Ou não seriam conservadores-socialistas e conservadores-autoritários os leitores que optaram por outros dois enunciados, o terceiro e o quarto, nos quais o Estado aparece com destaque nas formulações ideológicas? Os libertários, aqueles que querem ver o governo menos forte, não passariam mesmo dos 19% expressos no segundo enunciado. Ou estaria este jornalista enganado?
Faço essas colocações com o sentido único de provocação, de retirar os leitores da passividade. E vou mais além: se respondesse ao questionário, a sentença ideológica que mais se aproximaria do que imagino como meus ideais seria “quero mais intervenção do Estado na vida econômica porque sou descrente no mercado e vejo o governo com cautela no tocante a questões morais”.
Sei que leitores provavelmente estarão perplexos, porque, afinal, criei a revista LivreMercado, um título-ideológico revolucionário no jornalismo regional e que supostamente iria em direção contrária ao Estado forte. Um dia desses vou explicar a opção que exponho hoje. Os leitores só não podem esquecer que fiz o adendo de que o enunciado escolhido é o que mais se aproxima de meu pensamento. Isso não quer dizer que o aprovo completamente. Há ponderações que serão devidamente introduzidas, mas antecipo que têm tudo a ver com o título desta revista digital. Ou seja: o Estado forte sobre o qual giraria a economia e a política reuniria o capital social que é o mote da chamada terceira via. Não o Estado que temos, perdulário e malversador.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!