Não fica bem para a direção do Diário do Grande ABC a tentativa de negar o inegável, de sonegar o que é histórico: o autor da proposta de regionalização do carnaval do Grande ABC é este jornalista. A notícia que o jornal dá hoje em primeira página atribui à própria publicação a paternidade da sugestão, quando de fato, caberia dividir a iniciativa com este jornalista.
No fundo, no fundo, isso não tem importância alguma para mim, porque não seria a regionalidade no campo do entretenimento sazonal que me satisfaria como cidadão do Grande ABC.
Mais ainda: meu temor é que à medida que se ensaia, conforme publica o jornal, o carnaval regional sirva de justificativa para novos ataques de triunfalismo de suposta costura integrativa.
A autoria intelectual da proposta de carnaval regional é deste jornalista. Francamente, talvez nem deva utilizar a definição “autoria intelectual”, em se tratando deste e de tantos outros temários que transpiram necessidade de integração regional. Talvez tenha sido apenas o interlocutor de um desejo latente na sociedade. Como também, já que estamos na esfera de diversão, de um campeonato amador regional, reunindo os melhores times de cada Município.
Mas, voltemos ao carnaval regional.
Os leitores terão acesso no link abaixo ao texto que escrevi para a edição de 9 de fevereiro de 2005 na coluna “Contexto”, assinada durante os nove meses em que ali estive como diretor de Redação. Isso mesmo: embora fosse diretor de Redação da publicação, jamais abandonei a profilaxia mental a que me dedico todos os dias, escrevendo, escrevendo, escrevendo. Ninguém naquele período escreveu tanto. Foram, só para “Contexto”, perto de 150 artigos.
Não teria suportado ficar aqueles meses ali naquela cova dos leões não fosse o empenho profissional de me sentir útil à sociedade, e também o companheirismo da maioria dos jornalistas com os quais multipliquei o desafio de dar melhor qualidade e implementar plano ético em todas as editorias. As boas lembranças do ambiente de trabalho amenizam fartamente o desencanto com o sexto andar, topo da hierarquia diretiva da publicação.
O mesmo topo que o presidente do jornal, Ronan Maria Pinto, queria que eu ocupasse fisicamente como símbolo de status. Como fui para o Diário do Grande ABC para trabalhar, apenas para trabalhar, me meti no terceiro andar, que é lugar dos jornalistas. Aliás, quanto menos um chefe de redação frequentar o sexto andar do Diário, mais sinais de compromisso com a sociedade ele terá. Principalmente se também selecionar as ligações telefônicas internas. Ao retomar o tema na edição de hoje, já que parece haver avanço no sentido de dar organicidade extraterritorial aos municípios da região, o Diário do Grande ABC comete as falhas de sempre.
Primeiro porque omite o autor da proposta. Infelizmente para a direção daquele periódico, que não suporta a ideia de existir gente mais qualificada do outro lado da Rua Catequese, tenho história na publicação. Não teriam passado em branco os 15 anos de minha primeira atuação naquele endereço (de repórter esportivo a espécie de chefe de redação, função que dividi à época com Ademir Medici e Valdir dos Santos) e tampouco os nove meses, iniciados em julho de 2004 e abril de 2005.
Segundo porque ao retomar a pauta da regionalização do carnaval do Grande ABC o Diário refere-se a 2004 quando, de fato, tudo ocorreu no ano seguinte. Pouco antes, aliás, deste jornalista ser apeado do cargo como moeda de troca de uma sentença judicial que favoreceu um dos dirigentes daquela publicação.
Embora faça esses reparos ao Diário do Grande ABC, não tenho, acreditem, qualquer tipo de veleidade autoral. Entre outros motivos porque jornalismo sem capacidade de interação com a sociedade, jornalismo sem uma pitada forte de visionarismo, jornalismo incapaz de prospectar novos terrenos, deixa de ser jornalismo.
Talvez até mesmo a autoria a que me atribuo por conta de vivência jornalística regional possa ser contestada por um outro profissional da área. Quem sabe em outros tempos alguém com semelhante viés de regionalidade tenha escrito por aqui, no Diário do Grande ABC ou em qualquer outro veículo, sobre o assunto?
Lamento muito mais que a tentativa do Diário do Grande ABC de fraudar a história do jornalismo regional a demora à tomada de decisões que colaborem com o movimento de regionalidade carnavalesca.
Não vou me estender sobre a importância do carnaval regional porque um dos artigos logo abaixo, publicado originalmente no Diário do Grande ABC de 9 de fevereiro de 2002 e transportado ao livro “Na Cova dos Leões”, à página 151, que editei assim que fui colocado para fora do jornal, é muito mais explicativo.
Entretanto, até para que a história seja completa, tratarei de, na edição de amanhã desta revista digital, republicar o texto que assinei na edição do Diário do Grande ABC de 11 de fevereiro de 2005 a propósito da repercussão do artigo sobre carnaval regional impresso dois dias antes, e também dos primeiros ensaios especulativos sobre como a programação poderia se desenvolver.
Creio que as lideranças carnavalescas do Grande ABC terão material colaborativo que possivelmente as impulsionará aos debates que se fazem necessários.
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