Economia

Moveleiros, melhor notícia econômica
do Grande ABC nos últimos tempos

DANIEL LIMA - 21/06/2011

Diante do passado comprometedor do final dos anos 1990 e da recuperação apenas parcial na primeira década do novo século, não é muita coisa, mas é alguma coisa a melhor notícia dos últimos meses à economia do Grande ABC. Trata-se da chamada Feira de Móveis a Céu Aberto que a Prefeitura de São Bernardo realizou com 80 lojistas da meca da especialidade no Grande ABC, a Rua Jurubatuba. Nada estrutural que integre compêndio dos melhores momentos da região, algo que entre para a história do desenvolvimento econômico, mas, a bem da verdade, quem sabe, seja um facho de luz a iluminar novos caminhos.


Seria ótimo se outros administradores públicos e agentes econômicos seguissem o exemplo de São Bernardo. Mas que não façam disso e de ações congêneres comissão de frente e de fundo à autoproclamação de revolucionários. Esse movimento é apenas tático. Precisamos de estratégia.


Já escrevi aqui de passagem que a administração de Luiz Marinho poderia ser mais ousada, mais prospectiva, mais resolutiva, mais insinuante, na área econômica.


São Bernardo é a Capital Econômica do Grande ABC, por conta dos tentáculos da indústria automotiva. Mais de 40% do PIB do Grande ABC está naquele território. Por isso o Poder Público poderia fazer mais para adequar o figurino ao futuro. Dorme-se ainda no embalo seletivo e da doença holandesa das montadoras de veículos. Apesar de pesadelos tormentosos, em forma de invasão de autopeças e mesmo de veículos acabados da Ásia, principalmente da China.


Ainda outro dia li entrevista do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema. Ele não deixou pedra sobre pedra de inquietação. Há movimentos tectônicos a desesperar empreendedores de médio e mesmo de grande porte. A moeda excessivamente valorizada e os custos de produção no Brasil, nos quais se agregam fissuras de infraestrutura precária, entre outras variáveis, tornam a competição desigual. Perdemos mercado externo e interno no setor de transformação industrial. Só não entramos em colapso porque batemos recordes de exportação de commodities.


Reconhecemos as dificuldades para debelar incêndios no porão e no topo do edifício ainda valioso do setor industrial. Os contratempos têm raízes profundas e extensas que exigem soluções que superam os braços locais e regionais.


Entretanto, há questões que poderiam ser melhor diagnosticadas e muito mais bem exploradas com o propósito resolutivo. Perdemos competitividade sem reagir. Entrega-se a rapadura do fatalismo quando há empreitadas que poderiam convergir para atenuar as dificuldades locais. Já expusemos mil vezes algumas medidas essenciais. Todas ou quase todas passam pela amarração bem engendrada de uma regionalidade sem excessos de egos. Somos vasos comunicantes perante investidores nacionais e internacionais. A fragmentação nos assola.


O mais lamentável de tudo isso — e a situação antecipa-se ao período de governo do petista Luiz Marinho — é que não tivemos qualquer iniciativa para tornar o Rodoanel Sul aliado regional. As instituições regionais, principalmente o Clube dos Prefeitos e as entidades empresariais, dormiram de touca durante todo o período de planejamento, adiamento, novo planejamento e execução dessa obra viária. O Rodoanel Sul virou complicador econômico, embora o vetor mobilidade viária seja positivo para parcela de moradores.


Sem maior inserção do Rodoanel Sul no sistema viário e de transporte regional que, todos sabem, é uma calamidade que o governo do Estado tenta amenizar com investimentos que ultrapassam R$ 5 bilhões, perdemos o bonde da história. Convém sempre lembrar que são apenas três acessos a municípios da região (dois a São Bernardo e um a Mauá, mesmo assim, este último, fruto de uma gambiarra providencial) contra mais de uma dezena do Rodoanel Oeste, que atende fartamente às ambições das vizinhas Osasco, Barueri e municípios próximos.


A Feira de Móveis a Céu Aberto na Rua Jurubatuba é um marco varejista que pode, quem sabe, render novos filhotes. Aliás, é o que defende e pretende o prefeito Luiz Marinho, em artigo que preparou para o jornal ABCD Maior.


Quem conhece o grau de individualismo da maioria dos comerciantes daqueles quarteirões de produtos quase todos adquiridos de fábricas sediadas muito longe do Grande ABC reconhece o esforço bem sucedido da administração petista. É um autêntico degelo de quem, até então, só enxergava as próprias portas de acesso de uma clientela cada vez menos intensa. O experimento aumentou bastante o fluxo de vendas e, com isso, explicitou o mapa da mina do cooperativismo, ou da competição.


Já era hora de aqueles comerciantes acordarem. São Bernardo há muito perdeu o título de Capital do Móvel para uma imensa gama de polos espalhados por praças paulistas e gaúchas, principalmente, a maioria dos quais produtores do que vendem.


Entretanto, São Bernardo ainda conserva a aura de contar com especialistas que detêm a cultura de bom gosto e de classe.


O prefeito Luiz Marinho e o secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo, Jefferson José da Conceição, já programam, para outubro, uma segunda edição do evento, e listam mais algumas ações em outros centros ou minicentros comerciais.


Não se trata de solução para a retomada do desenvolvimento econômico estrutural em São Bernardo, mas já é alguma coisa. E como temos sofrido um bocado nesse campo, alguma coisa até pode ser entendida como muita coisa.


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