Economia

UM MAPA INDUSTRIAL
DESOLADOR PÓS-LULA

DANIEL LIMA - 15/04/2025

Fica a critério do leitor montar o mapa industrial do Grande ABC dos últimos 11 anos já oficialmente contabilizados pelo IBGE, entre janeiro de 2011 e dezembro de 2021. Escolhi esse marco temporal, entre tantos que já expus, de propósito e também porque parece mais que providencial. Há muita gente na praça regional que vive procrastinando o futuro mesmo com todos os buracos do passado.

Esse intervalo de tempo mostra a maior ascensão e a maior derrocada do PIB Industrial do Grande ABC ao longo da história. Onze anos de Lulacá a Jair Bolsonaro, com uma Dilma Rousseff no meio do caminho. Tudo isso depois da catástrofe regional do governo demolidor de pequenas indústrias chamado Fernando Henrique Cardoso. CapitalSocial conta com centenas de análises a respeito disso.

Não é difícil montar o mapa industrial do terror do Grande ABC nesses 11 anos. Basta dispor de dados dos sete municípios. Não se trata de qualquer coisa que lembre um quebra-cabeça. Quem sabe matemática tira de letra.

SÓ QUINQUILHARIAS

Imagine o mapa geográfico do Grande ABC. Mapa geográfico, não. Mapa geoeconômico. São sete municípios partidos e repartidos pelos separatistas. Agora, dê uma espiadinha cuidadosa nos valores do PIB Industrial de cada um. Logo abaixo você vai ver todos. Pois é. A soma de Santo André, Diadema e São Caetano é o equivalente próximo do que o Grande ABC perdeu de riqueza industrial no período.

Ou seja: o PIB Industrial. Não esqueça que o setor industrial é a argamassa da economia do Grande ABC. Mais que isso: é o coração e a alma da região.  A incidência transformadora da indústria no tecido social é ramificadíssima. Tirar indústria do Grande ABC é como cortar o oxigênio de um enfermo.

Pois esse enfermo está cada vez mais debilitado. Enquanto isso, descaradamente,  a turma que poderia contribuir para mudar o roteiro festeja quinquilharias de olho no calendário eleitoral. Essa turma mal sabe o que é PIB. Nem quer saber.

Então, o mapa industrial do Grande ABC, eliminados Santo André, Diadema e São Caetano, é o que sobrou entre a saída de Lula da Silva em 2010 e o terceiro ano de mandato de Jair Bolsonaro, em 2021.

Você pode fazer outra operação comparativa. Tire São Bernardo e Diadema do mapa industrial. Sobram os outros cinco territórios. Mais uma sugestão? Tire Santo André, Rio Grande da Serra, Ribeirão Pires e Mauá e mais um pedaço de outro município.

TEMPOS SOMBRIOS

O que pretendo mostrar para o leitor é simples: a situação é crítica tendo como marco regulatório dessa análise a extraordinária (e artificializada no setor automotivo) recuperação industrial durante o governo Lula da Silva, seguida da destruição provocado por Dilma Rousseff. O que veio depois, em forma de Michel Temer e Jair Bolsonaro, apenas estabilizou a situação caótica. O enfermo na UTI começou a reagir com vagarosidade. Pode ter recaída a qualquer novo período.

O que quero mostrar também é o quanto não se deve considerar as análises permanentemente expostas nesta publicação, sobretudo quanto à inutilidade econômica do Clube dos Prefeito, como suposta perseguição a quem quer que seja. É a Economia do Grande ABC a razão de tudo isso. Tanto é verdade que as manchetes dos jornais de papel e digitais cansam de repetir uma realidade cruel: o Clube dos Prefeitos virou Clube dos Pedintes, atrás que está de dinheiro federal e estadual. É confissão tácita de inapetência a mudanças estruturais.

Vivemos tempos sombrios. O  passivo histórico é desdenhado pelos mandachuvas. E olhem que estamos restringindo essa nova e inédita análise apenas ao pós-Lula, que veio do pós-FHC. Olhar para um passado mais distante seria motivo de entregar a rapadura da resiliência analítica.

ATUALIZANDO A MOEDA 

Agora, vamos aos números. Quando Lula da Silva deixou a presidência da República em 2010, o Grande ABC contabilizava PIB Industrial em valores nominais (sem efeitos inflacionários) de R$ 29.029.753 bilhões. Onze anos depois, em 2021, o PIB Industrial, em valores de dezembro daquele ano, registrava R$ 38.503.722 bilhões. Agora é que a onça da atualização monetária vai beber a água da realidade trágica.

Vamos lá, então? Os R$ 29.029.753 bilhões de PIB Industrial de 2010 correspondiam em valores atualizados pelo IPCA em dezembro de 2021 a R$ 55.591.977 bilhões. Entretanto, porém, todavia e contudo, o PIB Industrial real do Grande ABC naquele 2021 registrou apenas os R$  38.503.722 já mencionados. Diferença em valores monetários? CR$ 18.118.627 bilhões.

O que são esses R$ 18.118.627 bilhões? Some aos R$ 13.216.248 bilhões de São Bernardo, registrados em 2021, os R$ 5.202.147 bilhões de Diadema e temos o equivalente aos dois municípios do mapa industrial da região.

MAIS COMPARAÇÕES

Se pegarem os valores de Diadema e acrescentarem os R$ 3.315.560 bilhões de São Caetano (sempre de 2021), mais os R$ 7.756.772 bilhões de Mauá, mais os R$ 868.340 milhões de Ribeirão Pires, mais os R$ 162.026,000 milhões de Rio Grande da Serra, ainda vão faltar perto de R$ 2 bilhões para se chegar a uma nova configuração geoeconômica do rombo regional.

Outra equação? O Grande ABC industrial perdeu no período de 11 anos uma São Bernardo inteirinha (R$13.216.248 bilhões) em combinação com Diadema.

Para que os leitores não sejam induzidos a acreditar que a derrocada do Grande ABC no período analisado nesta edição é uma obra seletiva para reafirmar pontos de vistas e provas acumuladas ao longo dos tempos, nada melhor que recorrer, mais uma vez, ao   G-22, o Clube dos Maiores Municípios do Estado de São Paulo.

Os resultados são contrastantes quando se colocam os dois blocos em campo, o que chamaria de G-5 (dos maiores municípios do Grande ABC) e G-15 (a turma dos maiores municípios do Estado de São Paulo, exceto a Capital).

G-22 COMPLICADOR 

No G-22, o Clube das Maiores Cidades do Estado de São Paulo, São Bernardo é quem mais perdeu PIB Industrial desde que Lula da Silva deixou a presidência da República. Com Lula da Silva São Bernardo assumiu a liderança em produção industrial. Sem Lula da Silva e com o desastre de Dilma Rousseff, São Bernardo caiu para o terceiro lugar.

Pior que isso: São Bernardo sofreu um baque de quase 50% entre uma coisa e outra, contabilizando-se também os cinco anos posteriores a Dilma Rousseff. No total, são 11 anos de um tobogã industrial que acrescenta mais desindustrialização não só em São Bernardo, mas no Grande ABC como um todo.

Desta vez não vamos fazer considerações macroeconômicas profundas sobre o que foram os dois mandatos de Lula da Silva e as consequências que desabaram sobre o governo de Dilma Rousseff. Afinal, é impossível separar uma coisa da outra quando se sabe que em macroeconomia há fatores condicionantes específicos.

DOENÇA HOLANDESA

Quem gasta demais de forma estruturalmente permanente contando com receitas ascendentes que  se comprovam transitórias rumo ao futuro que sempre chega  acaba por contratar crises fiscais. Foi o que se deu com Dilma pós-Lula. Mas esse não é o foco dessa análise.

O que pretendo com essa análise é mostrar que São Bernardo da Doença Holandesa Automotiva é um caso muito sério para ser relegado a segundo plano no contexto geoeconômico do Grande ABC.

Depender exclusivamente da gestão federal ou mesmo estadual é muito pouco. Políticas de Desenvolvimento Econômico local são essenciais, como provam muitos municípios. Inclusive do próprio bloco do G-22.

O G-22 é um grupamento de municípios selecionados por CapitalSocial para a realização de estudos diversos. Procuro  contextualizar os municípios do Grande ABC num universo mais amplo. Olhar para o próprio umbigo já se comprovou burrice.

MAIS COMPETITIVOS

De fato e para valer o G-22 é G-20. Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, que representam apenas 2,5% do PIB Geral da região, entram apenas para cumprir a tabela da regionalidade.

Dos cinco grandes municípios do Grande ABC que participam do G-22, apenas Mauá do Polo Petroquímico de Capuava, ou seja, da Doença Holandesa Petroquímica, alcançou resultado acima da inflação do período pós-Lula da Silva. E no conjunto dos 20 grandes municípios paulistas, exceto a Capital, apenas outros quatro se safaram da desindustrialização no período.  Ou seja: 75% dos integrantes do G-22 conheceram processo de desindustrialização durante o período que começa com o encerramento do segundo mandato de Lula da Silva e termina no penúltimo ano do mandato de Jair Bolsonaro.

O buraco no PIB Industrial de São Bernardo nos 11 anos recortados por CapitalSocial é fundamental a avaliações. Afinal, foi o período de maior entusiasmo e maior prostração das atividades econômicas na região em todos os tempos. Antes de Lula da Silva, que se elegeu presidente da República em 2002, Fernando Henrique Cardoso deixou o Grande ABC atordoado, com queda do Valor Adicionado (PIB sem impostos)  de 39%.

POLO PETROQUÍMICO

Como se observa, especialmente entre 1995, quando Fernando Henrique Cardoso assumiu a presidência da República, e 2016, quando Dilma Rousseff sofreu impeachment, passando pelos oito anos de Lula da Silva, o Grande ABC viveu uma trajetória de PIB Industrial sob efeito-tobogã. Os anos subsequentes, entre 2017 e 2021, foram de estabilidade com leve crescimento sobre os escombros de 2016.  Ou seja: o setor mais disseminador de riqueza da região segue uma marcha batida de desalento quando comparado à recuperação no período Lula da Silva.  

São Bernardo caiu da primeira para a terceira aposição no G-22 industrial. Foi ultrapassada por Guarulhos, líder que ocupava a terceira posição em 2010, e por São José dos Campos, que se mantém na segunda posição.

O desempenho de Mauá, uma das cidades sobreviventes no PIB Industrial das maiores cidades paulistas, se deve ao Polo Petroquímico. Tanto que ante inflação oficial de 91,50% no período, alcançou crescimento nominal de 200,70%. Bem acima de Santo André que, de fato, se desindustrializou no período, já que avançou abaixo da inflação com registro de 65,66%, mesmo contando com parte do território gerador de riquezas do Polo Petroquímico.

MASCARAMENTO

 Santo André sofreu sérios desfalques no período, mas o resultado final, mesmo abaixo da inflação, mascara a realidade de desativação ou rebaixamento comprometedor de várias cadeias produtivas. Santo André depende cada vez mais da Doença Holandesa Petroquímica. Menos que Mauá, mas acima do que se deve recomendar à resistência de estabilidade.

Além de Mauá, representante do Grande ABC na lista de salvadores da honra industrial durante os 11 anos pós-Lula da Silva, também constam da lista a recordista Paulínia, Piracicaba, Sorocaba e São José do Rio Preto. No caso de Paulínia, que cresceu nominalmente 962,66%, ou seja muita acima da inflação de 91,50% do período, pesou o Polo Petroquímico, fonte quase única de riqueza.

Piracicaba cresceu nominalmente 258,56% principalmente por conta de biocombustíveis, e São José do Rio Preto por ter uma indústria de pequeno e médio porte em forma de arranjo produtivo.  Sorocaba conta com surto industrial que parece não ter limites.

AOS NÚMEROS

O que parece evidente é que a fórmula milagrosa que evitou rebaixamento industrial ainda mais rigoroso no G-22 é contar com algumas ilhas de riqueza mais resilientes a generalização quase total de matrizes produtivas.

Os polos automotivos que se deram bem com Lula da Silva entraram pelo cano com Dilma Rousseff. Quando os consumidores e os empreendedores enfrentam inflação elevada, juros estratosféricos e gulodice fiscal do Estado, a receita do fracasso fica completa. 

Vejam o comportamento do PIB Industrial dos 20 municípios do G-22 levando-se em conta os resultado nominais (sem efeitos inflacionários) e os respectivos índices de crescimento (desconsiderando-se a inflação do período). Todos os resultados abaixo da inflação do período, de 91,50% , significam desindustrialização. 

1. Paulínia registrou crescimento nominal de 962,66%, passando de R$ 2.516,96 bilhões para R$ 26.746.711 bilhões.

2. São José do Rio Preto registrou crescimento nominal de 455,17%, passando de R$ 386,44 milhões para R$ 2.145.380 bilhões.

3. Mauá registrou crescimento nominal de 200,70%, passando de R$ 2.579,53 bilhões para R$7.756.772 bilhões.

4. Piracicaba registrou crescimento nominal de 158,56%, passando de R$ 3.857,62 bilhões para R$ 9.974.330 bilhões.

5. Sorocaba registrou crescimento nominal de 128,33%, passando de R$ 4.999.94 bilhões para R$ 11.416.524 bilhões.

6. Mogi das Cruzes registrou crescimento nominal de 94,20%, passando de R$ 2.453,85 bilhões para R$ 4.765.447 bilhões.

7. Ribeirão Preto registrou crescimento nominal de 89,37%, passando de R$ 2.838,07 bilhões para R$5.374.499 bilhões.

8. Jundiaí registrou crescimento nominal de 78,35%, passando de R$ 6.560,76 bilhões para R$ 11.700.444 bilhões.

9. Guarulhos registrou crescimento nominal de 73,34%, passando de R$ 9.830,843 bilhões para R$ 17.040.801 bilhões.

10. Santo André registrou crescimento nominal de 65,66%, passando de R$ 4.697,88 bilhões para R$ 7.782.625 bilhões.

11. Osasco registrou crescimento nominal de 64,36%, passando de R$ 3.020.10 bilhões para R$ 4.973.982 bilhões.

12. São José dos Campos cresceu nominalmente 55.35%, passando de R$ 10.652,61 bilhões para R$ 16.459.171 bilhões.

13. Campinas registrou crescimento nominal de 48,94%, passando de R$ 7.477,49 bilhões para R$ 11.136.727 bilhões.

14. Sumaré registrou crescimento nominal de 47,78%, passando de R$ 3.071.88 bilhões para R$ 4.539,68 bilhões.

15. Diadema registrou crescimento nominal de 16,15%, passando de R$ 4.478.64 bilhões para R$ 5.202.147 bilhões.

16. Barueri registrou crescimento nominal de 32,18%, passando de R$ 4.343,42 bilhões para R$ 5.741.034 bilhões.

17. Taubaté registrou crescimento nominal de 10,83%, passando de R$ 4.167.93 bilhões para R$ 4.619.437 bilhões.

18. São Bernardo registrou crescimento nominal de 1,68%, passando de R$ 12.997,22 bilhões para R$ 13.216.248 bilhões.

19. São Caetano registrou queda nominal de 2,36%, passando de R$ 3.600.56 bilhões para 3.515.560 bilhões.

20. Santos registrou queda nominal de 41,04%, passando de R$ 3.033,28 bilhões para R$ R$ 2.150.156 bilhões.

 



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