Economia

Administração Aidan inventa índice
e Santo André cresce dobro da China

DANIEL LIMA - 24/02/2012

A Administração Aidan Ravin promoveu na semana passada (e a mídia regional, de maneira geral, comprou todas as informações acriticamente) um verdadeiro show de charlatanismo estatístico num Salão Burle Max aparentemente lotado. O material induz os incautos e mesmo os mais espertos a acreditar que a pífia gestão do petebista na área econômica nos três últimos anos (nada muito diferente do PT nos anos posteriores a Celso Daniel) é uma coletânea de sucessos a colocar de quatro os chineses. A economia de Santo André teria crescido 17% no ano passado. Praticamente o dobro do PIB chinês. É claro que é uma brincadeira que precisa ser desmascarada, até porque foi lançada antes do Carnaval e o Carnaval já se foi.


 


E o desmascaramento mais efetivo deve ser direcionado a um economista (Dalmir Ribeiro, titular do DISE, Departamento de Indicadores Sociais e Econômicos) que se presta a tal serviço. O que os jornais divulgaram e o que o portal da Prefeitura de Santo André expõe diariamente sobre o assunto é uma associação de oportunismo e descaramento. Oportunismo porque tenta fazer-se sério um estudo manquitola. Descaramento porque é preciso ter cara de pau para reunir tanta gente e vender gato por lebre.


 


Anunciou a Prefeitura de Santo André, por conta do DISE, a criação de um novo indicador, o INA-PSA (Indicador de Nível de Atividade da Prefeitura de Santo André). Como objeto de propaganda político-eleitoral é intocável. Mas como a Prefeitura de Santo André precisa estar a salvo de manipulações partidárias, porque é mantida pelos contribuintes, trata-se de contravenção informativa.


 


Como alguém pode transformar um indicador qualquer em elemento de medição econômica que leve os leitores a concluir que se trata de um conjunto de resultados que extratificam o nível de atividade do Município? Traduzindo com metáfora: um exame clínico que detecte pressão arterial absolutamente em ordem, nível de ácido úrico sob controle e manutenção incólume do couro cabeludo à calvície não pode assegurar que o proprietário do corpo em questão esteja gozando de perfeita saúde. Ou que estaria muito melhor que os vizinhos, como tratou a Prefeitura de Santo André referindo-se aos demais municípios da Província do Grande ABC.


 


Um novo Pamplona


 


Pois foi exatamente esse tipo de exame clínico sob medida que empreendeu a Administração Aidan Ravin na construção do INA. Dalmir Ribeiro, responsável pelo projeto, é um autêntico sucessor de João Batista Pamplona. Egresso da Capital e com títulos acadêmicos a dar com pau,  Pamplona foi chefe da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC sob a administração Celso Daniel. Entregaram-lhe a missão de dourar a pílula do esvaziamento industrial e econômico da região. Para tanto, lambuzou-se em interpretações caolhas sobre o andar da carruagem regional. Dalmir Ribeiro incorporou o espírito aventureiro dos números maquiavélicos mas, como a cópia repete o original, a ingenuidade prevaleceu.


 


Diz a notícia divulgada pela Prefeitura de Santo André que o INA é formada por três indicadores: o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) divulgado pela Secretaria da Fazenda do Estado; o ISS (Imposto Sobre Serviços) divulgado pela Secretaria do Tesouro Nacional; e o faturamento das exportações, por meio do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.


 


Dalmir Ribeiro explicou aos convidados à grande festa de lançamento desse produto da engenharia da dissimulação estatística que o INA de Santo André apontou crescimento de 17% no ano passado, enquanto a média das sete cidades da região ficou em 4,4% e o Estado de São Paulo assinalou 5,7%. Vejam o que aquele assessor público declarou: "O desempenho excepcional de Santo André em 2011 fez com que a média de crescimento anual no período 2009-1011 fosse a melhor entre os grandes municípios da região. Neste período, que envolve desde o ano mais afetado pela crise financeira internacional, Santo André assinalou crescimento médio de 4,6% ao ano, quase o dobro da taxa média do ABC, de 2,5% ao ano, e acima dos 4,3% ao ano registrado pelo Estado" -- disse Dalmir Ribeiro.


 


Seletivismo, seletivismo


 


Vasculhei nos jornais da região informações que pudessem alimentar este texto. Sabia que havia maracutaia interpretativa porque disponho de dados muito mais sólidos e históricos que remetem à completa desconfiança de qualquer tratamento festivo à economia de Santo André, tanto durante os três anos de Administração Aidan Ravin (do que trata o INA), quanto dos petistas sob a liderança de João Avamileno (entre 2002 e 2008). Procurei e não encontrei, para dizer a verdade. Até que fui ao portal da Prefeitura. Foi lá, entre parágrafos secundários, que acabei com a farra de informações.


 


Afinal, se são verdadeiros os números que desfilaram no discurso de Dalmir Ribeiro aos convidados, e se são muito mais verdadeiras e sólidas as estatísticas de que detenho e que vão ser ainda mais detalhadas na série que trata do comportamento do G-20 Paulista, qual seria, afinal, a pedra no meio do caminho? Seletividade informativa, caro leitor. Seletivismo estatístico, caro leitor.


 


Leiam os seguintes parágrafos da matéria do portal da Prefeitura para entender o caso:


 


 Prova de que a performance em 2011 desequilibrou o jogo a favor de Santo André está nos dados a seguir: em 2009 o INA de Santo André registrou queda de 11,1%, a segunda mais acentuada da região, e em 2010 o crescimento de 8,7% foi o mais modesto do Grande ABC. "A adoção pela União de medidas de estímulo ao setor industrial logo após a eclosão da crise, como a redução do IPI para automóveis, materiais de construção e linha branca, e a ampliação do crédito, contribuíram para uma melhor performance de municípios onde predominam esses setores. Num segundo momento, o setor de serviços cresceu de forma mais expressiva, o que explica a recuperação do município no ano passado e o fato de ter liderado no período. Além disso, as exportações de Santo André contribuíram com quase 20% do nosso crescimento em 2011, resultado importante porque o setor externo representou mais de um terço do faturamento da indústria da cidade no ano passado", avalia o economista Dalmir Ribeiro.


 


O que se deu então, para terminar esse novo capítulo de usurpação da realidade econômica em Santo André? Que espertamente o INA foi produzido sobre bases privilegiadas, já que a recuperação de Santo André em 2011 foi comparada com período de perdas imensuráveis (no caso, a deduzir do texto do portal, dados de 2008, ainda da Administração João Avamileno e de crise internacional). Enquanto isso, outros municípios locais que sofreram impactos menos intensos  ganharam relativamente menos na sequência de recuperação econômica.


 


Contradições demais


 


A economia de Santo André, analisada amadoristicamente em três indicadores previamente escolhidos porque há finalidade político-eleitoral na proposta, apresentou, como mostramos na primeira matéria da série sobre o G-20 Paulista, os piores resultados na década dos anos 2000, exceto os números de Mauá.


 


Os números de exportação em Santo André, que representam um terço da produção do Município, confirmam informações que já analisamos no passado: a dependência exagerada das grandes empresas que, sozinhas, e não mais que 20 unidades, representam mais de 70% do PIB industrial do Município. Trata-se de concentração de dependência econômica forjada por uma série de razões, entre as quais a quase dizimação das pequenas e médias indústrias. Santo André está vulnerável demais às possíveis mexidas cambiais.


 


O INA forjado pela Prefeitura de Santo André seria o requinte da trambicagem informativo-estatística não fosse uma grande anedota eleitoral ao sugerir que se trata de PIB, indicador que reúne muito mais engenharia econométrica, econômica e social e sobre o qual estamos nos debruçando com o G-20 Paulista. Aguardem.


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