A Administração Aidan Ravin promoveu na semana passada (e a mídia regional, de maneira geral, comprou todas as informações acriticamente) um verdadeiro show de charlatanismo estatístico num Salão Burle Max aparentemente lotado. O material induz os incautos e mesmo os mais espertos a acreditar que a pífia gestão do petebista na área econômica nos três últimos anos (nada muito diferente do PT nos anos posteriores a Celso Daniel) é uma coletânea de sucessos a colocar de quatro os chineses. A economia de Santo André teria crescido 17% no ano passado. Praticamente o dobro do PIB chinês. É claro que é uma brincadeira que precisa ser desmascarada, até porque foi lançada antes do Carnaval e o Carnaval já se foi.
E o desmascaramento mais efetivo deve ser direcionado a um economista (Dalmir Ribeiro, titular do DISE, Departamento de Indicadores Sociais e Econômicos) que se presta a tal serviço. O que os jornais divulgaram e o que o portal da Prefeitura de Santo André expõe diariamente sobre o assunto é uma associação de oportunismo e descaramento. Oportunismo porque tenta fazer-se sério um estudo manquitola. Descaramento porque é preciso ter cara de pau para reunir tanta gente e vender gato por lebre.
Anunciou a Prefeitura de Santo André, por conta do DISE, a criação de um novo indicador, o INA-PSA (Indicador de Nível de Atividade da Prefeitura de Santo André). Como objeto de propaganda político-eleitoral é intocável. Mas como a Prefeitura de Santo André precisa estar a salvo de manipulações partidárias, porque é mantida pelos contribuintes, trata-se de contravenção informativa.
Como alguém pode transformar um indicador qualquer em elemento de medição econômica que leve os leitores a concluir que se trata de um conjunto de resultados que extratificam o nível de atividade do Município? Traduzindo com metáfora: um exame clínico que detecte pressão arterial absolutamente em ordem, nível de ácido úrico sob controle e manutenção incólume do couro cabeludo à calvície não pode assegurar que o proprietário do corpo em questão esteja gozando de perfeita saúde. Ou que estaria muito melhor que os vizinhos, como tratou a Prefeitura de Santo André referindo-se aos demais municípios da Província do Grande ABC.
Um novo Pamplona
Pois foi exatamente esse tipo de exame clínico sob medida que empreendeu a Administração Aidan Ravin na construção do INA. Dalmir Ribeiro, responsável pelo projeto, é um autêntico sucessor de João Batista Pamplona. Egresso da Capital e com títulos acadêmicos a dar com pau, Pamplona foi chefe da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC sob a administração Celso Daniel. Entregaram-lhe a missão de dourar a pílula do esvaziamento industrial e econômico da região. Para tanto, lambuzou-se em interpretações caolhas sobre o andar da carruagem regional. Dalmir Ribeiro incorporou o espírito aventureiro dos números maquiavélicos mas, como a cópia repete o original, a ingenuidade prevaleceu.
Diz a notícia divulgada pela Prefeitura de Santo André que o INA é formada por três indicadores: o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) divulgado pela Secretaria da Fazenda do Estado; o ISS (Imposto Sobre Serviços) divulgado pela Secretaria do Tesouro Nacional; e o faturamento das exportações, por meio do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.
Dalmir Ribeiro explicou aos convidados à grande festa de lançamento desse produto da engenharia da dissimulação estatística que o INA de Santo André apontou crescimento de 17% no ano passado, enquanto a média das sete cidades da região ficou em 4,4% e o Estado de São Paulo assinalou 5,7%. Vejam o que aquele assessor público declarou: "O desempenho excepcional de Santo André em 2011 fez com que a média de crescimento anual no período 2009-1011 fosse a melhor entre os grandes municípios da região. Neste período, que envolve desde o ano mais afetado pela crise financeira internacional, Santo André assinalou crescimento médio de 4,6% ao ano, quase o dobro da taxa média do ABC, de 2,5% ao ano, e acima dos 4,3% ao ano registrado pelo Estado" -- disse Dalmir Ribeiro.
Seletivismo, seletivismo
Vasculhei nos jornais da região informações que pudessem alimentar este texto. Sabia que havia maracutaia interpretativa porque disponho de dados muito mais sólidos e históricos que remetem à completa desconfiança de qualquer tratamento festivo à economia de Santo André, tanto durante os três anos de Administração Aidan Ravin (do que trata o INA), quanto dos petistas sob a liderança de João Avamileno (entre 2002 e 2008). Procurei e não encontrei, para dizer a verdade. Até que fui ao portal da Prefeitura. Foi lá, entre parágrafos secundários, que acabei com a farra de informações.
Afinal, se são verdadeiros os números que desfilaram no discurso de Dalmir Ribeiro aos convidados, e se são muito mais verdadeiras e sólidas as estatísticas de que detenho e que vão ser ainda mais detalhadas na série que trata do comportamento do G-20 Paulista, qual seria, afinal, a pedra no meio do caminho? Seletividade informativa, caro leitor. Seletivismo estatístico, caro leitor.
Leiam os seguintes parágrafos da matéria do portal da Prefeitura para entender o caso:
Prova de que a performance em 2011 desequilibrou o jogo a favor de Santo André está nos dados a seguir: em 2009 o INA de Santo André registrou queda de 11,1%, a segunda mais acentuada da região, e em 2010 o crescimento de 8,7% foi o mais modesto do Grande ABC. "A adoção pela União de medidas de estímulo ao setor industrial logo após a eclosão da crise, como a redução do IPI para automóveis, materiais de construção e linha branca, e a ampliação do crédito, contribuíram para uma melhor performance de municípios onde predominam esses setores. Num segundo momento, o setor de serviços cresceu de forma mais expressiva, o que explica a recuperação do município no ano passado e o fato de ter liderado no período. Além disso, as exportações de Santo André contribuíram com quase 20% do nosso crescimento em 2011, resultado importante porque o setor externo representou mais de um terço do faturamento da indústria da cidade no ano passado", avalia o economista Dalmir Ribeiro.
O que se deu então, para terminar esse novo capítulo de usurpação da realidade econômica
Contradições demais
A economia de Santo André, analisada amadoristicamente em três indicadores previamente escolhidos porque há finalidade político-eleitoral na proposta, apresentou, como mostramos na primeira matéria da série sobre o G-20 Paulista, os piores resultados na década dos anos 2000, exceto os números de Mauá.
Os números de exportação
O INA forjado pela Prefeitura de Santo André seria o requinte da trambicagem informativo-estatística não fosse uma grande anedota eleitoral ao sugerir que se trata de PIB, indicador que reúne muito mais engenharia econométrica, econômica e social e sobre o qual estamos nos debruçando com o G-20 Paulista. Aguardem.
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21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?