O colunismo social é o campo de manobras preferido dos falsários mais debochados do planeta, os falsários que se movem no terreno sempre fértil do assistencialismo oportunista aos desvalidos. Invariavelmente orientados por marqueteiros que acreditam ser a prática o elixir do bom-mocismo eterno, produtores e executores de oferendas sociais transformam eventos em verniz de responsabilidade social. Muitos deles delinquentes no cotidiano dos negócios distribuem migalhas sob holofotes midiáticos dóceis e generosos. A maioria não passa de espertalhões travestidos de bons samaritanos que insistem em acreditar que todos vão lhes conferir santificação.
Sou leitor voraz do colunismo social, embora o deteste como profissional de comunicação. Jamais me vi como atuante na atividade entre outras razões porque boa parte das chamadas notinhas são cartas marcadas, principalmente nos jornais de médio e pequeno porte e nos sites especializados em lustrar egos. Acompanhar o colunismo social é o que chamaria de caminho das pedras. Aquelas páginas mostram interesses geralmente inconfessos, reciprocidades recônditas, contrapartidas disfarçadas. E perseguições sutis mas contraditoriamente escancaradas para quem é do ramo.
Sempre que vejo a formação de grupos de voluntários preocupados com os pobres e necessitados em busca de notoriedade no colunismo social fico com um pé atrás. Invariavelmente são amadores. Apenas reformatam velharias estratégicas de eventos que poderiam ser transpostos a vitrines de shopping center. Quem os conhece sabe o que está por trás. Querem passar a imagem de solidários, quando há mesmo o imbricamento de dois tipos de sentimentos igualmente dolorosos e ambíguos: precisam prestar contas à própria consciência e, principalmente, dar vazão ao egocentrismo.
É claro que não estou generalizando sobre a prática de solidariedade fajuta, mas a grande maioria dos movimentos tem as entranhas da safadeza juramentada. Em alguma instância dos eventos em que grupos filantrópicos formados por gente da sociedade se metem, há pecados a conferir. Em muitos casos a operação se configura abusiva, porque vai a reboque de determinado projeto sério com a finalidade de limpar a barra. Empresas privadas e entidades de classe com fundilhos sujos na praça e que exercitam as mais abusadas práticas comerciais sempre estão prontas a associar suas marcas a empreendimentos sociais vistos como idôneos.
Madres Terezas
Há no arquivo desta revista digital 28 matérias sobre as Madres Terezas. Outras serão acrescentadas porque constam do arquivo impresso da revista LivreMercado, publicação que criei e dirigi por quase duas décadas. Madres Terezas são uma iniciativa deste jornalista. Mais que uma criação, foi um tapa na cara de grupelhos sociais que dominam as páginas do colunismo social. Criei dentro do Prêmio Desempenho um espaço de homenagem às Madres Terezas. Mais tarde, acrescentei os Freis Galvão. São agentes sociais de verdade, gente que vive na periferia, principalmente, e se misturam aos desafortunados. Não são como a maioria dos supostos benfeitores da elite social que usam os pobres como massa de manobra e se esbaldam na diversidade muitas vezes supérflua que a riqueza proporciona.
A primeira versão de Madres Terezas, em outubro de 2000, num Tênis Clube de Santo André completamente lotado, foi uma comoção. Outras Madres e os primeiros Freis acrescentaram-se à lista até 2008, quando da última edição do Prêmio Desempenho. Jamais tive coragem de ir a campo para produzir um texto sequer sobre o quanto cada entidade assistencial mobilizava-se em busca do atendimento. Os repórteres de LivreMercado tratavam disso. A Coop de Antônio José Monte foi a empresa que mais se dedicou a dar continuidade à tarefa de minimizar as dores daquelas organizações. Beneficiou dezenas de instituições com política de intervenção financeira direta, em forma de obras, principalmente. Nada que lembrasse o Bolsa Família, por exemplo. Pequenas obras ficam para sempre e contribuem à qualidade de vida dos atendidos e também na busca por recursos orçamentários.
Revolução impressa
As Madres Terezas têm significado especial para mim, porque expressaram durante todo o tempo a preocupação social da revista LivreMercado. Revolucionamos o conceito de jornalismo econômico, peça-chave da linha editorial daquela publicação. Houve quem não entendesse a razão de uma publicação voltada à economia da região dedicar uma Reportagem de Capa histórica sobre mulheres que atuavam longe dos palcos dos incluídos. Pobres coitados e péssimos observadores da cena regional. A publicação jamais abdicou do inconformismo essencial à manutenção do jornalismo longe do esnobismo que alguns coleguinhas colocam no altar de interesses pessoais. Aquelas Madres Terezas na capa de Livre Mercado e, na sequência, o lançamento de uma divisão especial do Prêmio Desempenho para homenageá-las ante plateias que sempre lotaram os locais escolhidos para sediar a festa, eram uma forma de lembrar a todos sobre a perenidade e o agravamento das vicissitudes de uma metrópole apartada.
Há dois textos em particular nesta revista digital (e que constam dos links logo abaixo, assim como a Reportagem de Capa de Madres Terezas) que extratificam o significado de benemerência que deveria ser atentamente prestigiado pelos incluídos.
Entre os contraventores sociais, o mais elevado grau de periculosidade atinge em cheio os benemerentes fantasiosos, principalmente em forma de empresas e entidades de classe, porque têm massa crítica para ocupar páginas de publicações impressas e virtuais com o propósito de atribuir a benfeitores de araque sensibilidade social proporcionalmente inversa ao que, sorrateiramente, praticam nas relações econômicas. Esses falsários sociais são os piores da praça, porque não passam mesmo de estelionatários da alma.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!