Não tem como segurar os números da verdade mesmo num ambiente de triunfalismo praticamente intocável. A Santo André do prefeito Paulinho Serra contabilizou ao fim de sete dos oito anos de dois mandatos a segunda pior média salarial de trabalhadores com carteira assinada no G-22.
Trata-se do grupo dos 20 maiores municípios do Estado de São Paulo. A Capital do Estado não entra na conta. Tampouco Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, que integram o grupamento apenas para efeitos estatísticos da região.
Como o comportamento da Economia não é um carro em alta velocidade dirigido por um maluco, capaz de frenagens e acelerações diabólicas, não se pode atribuir isoladamente a prefeito algum, salvo exceções circunstanciais, a responsabilidade por números muito favoráveis ou muito desfavoráveis. Santo André é o caso, como tantos outros municípios.
O que motiva qualquer avaliação crítica específica à gestão de Paulinho Serra é a sucessão de fantasias numéricas e discursos grandiloquentes que sempre colocavam Santo André na ponta dos cascos da perfeição em Desenvolvimento Econômico durante sua gestão.
FRACASSO CONSTATADO
Como se sabe, tanto na Economia como em outras áreas, a gestão de Paulinho Serra foi um fracasso. Tanto quanto o sucesso na arena de varejismos administrativos, respaldados por um marketing de primeira linha. Antepor breve contextualização é necessário para retirar a avaliação do beco sujo de perseguição ou algo assemelhado.
O caso da fragilidade do emprego formal em Santo André é recorrente ao longo de décadas. A desindustrialização brutalmente acentuada nos anos 1990, especialmente com o governo de Fernando Henrique Cardoso, além do predecessor sindicalismo e da guerra fiscal, não encontrou matriz econômica substituível.
As atividades de serviços, que geram mais empregos, são de baixa remuneração. O então prefeito Celso Daniel já se manifestava preocupado com isso, na segunda metade da última década do século passado. A revista LivreMercado, antecessora de CapitalSocial, já advertira sobre o encontro de águas tormentosas em forma de fuga industrial e invasão de atividades de varejo. Nada de serviços de valor agregado. Não deu outra. O futuro negligenciado sempre chega em forma de presente contundente.
INAÇÃO INSTITUCIONAL
Faltam estatísticas confiáveis para uma reação coordenada. O Grande ABC é incapaz de transformar o Clube dos Prefeitos e a Agência de Desenvolvimento Econômico em instâncias de planejamento, execução e reformas. Com isso, o vácuo de desindustrialização e o predomínio de serviços de baixo nível tecnológico é preenchido de forma insuficiente. Os salários médios sucumbem ante a flacidez industrial que persiste e se concentra no setor petroquímico e também diante de baixas remunerações das demais atividades.
Quando o leitor tomar conhecimento –e isso vem na sequência – de alguns detalhes já mensuráveis do comportamento do emprego formal em Santo André provavelmente vai entender os estragos históricos na Economia da ex-Capital Econômica do Grande ABC, hoje um Viveiro de Assistencialismo.
Para se ter ideia do quadro real do emprego formal em Santo André (os dados consolidados começam a ser contabilizados a partir de janeiro de 2017, quando Paulinho Serra assumiu a Prefeitura), em valores monetários de dezembro de 2023 o buraco anualizado chega próximo a R$ 1 bilhão no somatório dos 12 meses daquela temporada.
VALORES ASTRONÔMICOS
Esse é um valor não exatamente concreto, porque é praticamente impossível apurar os dados mês a mês daquela temporada. Mas é um total próximo a isso. O buraco do mês de dezembro de 2023 em relação a dezembro de 2016 alcançou R$ 74 milhões na massa salarial, em valores corrigidos pela inflação do período.
Quando se multiplica por 12 meses daquela temporada, numa conta simplista, mas encaminhado às veredas de um montante não distante disso, chega-se portanto a quase R$ 1 bilhão em 2023. Já imaginaram o rombo acumulado em sete anos seguidos de rebaixamento da média salarial dos trabalhadores com carteira assinada?
O emprego formal no Grande ABC foi continuadamente tratado como peça publicitária, principalmente pela Administração de Paulinho Serra. A cada nova rodada de informação do Ministério do Trabalho, lá estavam os batedores de carteira de imprecisões e ufanismo para colocar Santo André como o melhor endereço regional. Claro que para isso sempre jogaram no lixo a metodologia mais correta. Mais emprego em relação aos competidores internos sem considerar o tamanho do estoque e também a variabilidade salarial é enganar o público.
COMENDO POEIRA
Mas vamos ao que interessa agora –embora essa pauta esteja programada para ter desdobramentos nos próximos dias. O caso é que a média salarial de trabalhadores de todas as áreas em Santo André (de R$ 3.568,oo) só supera a média salarial de Mogi das Cruzes (R$ 3.445,00).
Santo André perde para todos os demais competidores desse grupo de municípios organizado por CapitalSocial exatamente para que o Grande ABC não seja uma ilha de dados que protegeriam os municípios locais de embates indispensáveis.
Comparar o Grande ABC com o Grande ABC é uma maneira burra de isolamento que distorce a realidade dos fatos. Nada melhor que enfrentamentos com municípios de médio e grande porte no Estado. Quem compara o Grande ABC com o Grande ABC desconhece o dinamismo econômico e as sacudidelas sociais.
Acompanhe na ordem de resultados a média salarial em dezembro de 2023 dos 20 maiores municípios do Estado de São Paulo, menos a Capital, e suplementarmente de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.
1. Paulínia com 58.589 trabalhadores registrados e média salarial de R$ 6.073,00.
2. Barueri com 377.876 trabalhadores registrados e media salarial de R$ 5.486,00.
3. Campinas com 460.134 trabalhadores registrados e média salarial de R$ 5.469,00.
4. Osasco com 215.563 trabalhadores registrados e média salarial de R$ 4.811,00.
5. Sumaré com 73.948 trabalhadores registrados e média salarial de R$ 4.737,00.
6. Jundiaí com 196.257 trabalhadores registrados e média salarial de R$ 4.640,00.
7. São José dos Campos com 215.255 trabalhadores registrados e média salarial de R$ 4.610,00.
8. São Bernardo com 293.340 trabalhadores registrados e média salarial de R$ 4.551,00.
9. Piracicaba com 151.618 trabalhadores registrados e média salarial de R$ 4.380,00.
10. Santos com 201.307 trabalhadores registrado e média salarial de R$ 4.258,00.
11. Diadema com 104.269 trabalhadores registrados e média salarial de R$ 4.213,00.
12. Guarulhos com 410.730 trabalhadores registrados e média salarial de R$ 4.139,00.
13. Sorocaba com 240.956 trabalhadores registrados e média salarial de R$ 4.132,00.
14. São Caetano com 111.730 trabalhadores registrados e média salarial de R$ 3.995,00.
15. Mauá com 85.531 trabalhadores e média salarial de R$ 3.938,00.
16. Taubaté com 92.969 trabalhadores registrados e média salarial de R$ 3.805,00.
17. Ribeirão Preto com 265.803 trabalhadores registrados e média salarial de R$ 3.789,00.
18. São José do Rio Preto com 161.331 trabalhadores com carteira assinada e média salarial de R$ 3.736,00.
19. Santo André com 234.612 trabalhadores registrados e média salarial de R$ 3.568,00.
20. Mogi das Cruzes com 127.238 trabalhadores registrados e média salarial de R$ 3.445,00.
21. Ribeirão Pires com 23.667 trabalhadores registrados e média salarial de R$ 3.425,00.
22. Rio Grande da Serra com 3.557 trabalhadores registrados e média salarial de R$ 3.505,00.
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