Queira ou não queira, o Fórum da Cidadania vai às urnas em 3 de outubro. O movimento social que deflagrou transformações institucionais por que passa o Grande ABC, como a reativação do Consórcio Intermunicipal de Prefeitos e a Câmara Regional, concorrerá com dois candidatos nas próximas eleições. O médico e empresário Fausto Cestari e o sociólogo Marcos Gonçalves vestem a camisa do PSDB para tentar chegar respectivamente à Assembléia Legislativa e à Câmara Federal. Sobram a ambos virtudes que o eleitor valoriza em quem se dispõe a representá-lo. Mas lhes falta densidade popular. Respeitados entre formadores de opinião e tomadores de decisão, eles têm o desafio de buscar a representatividade popular dos votos.
A expectativa de Marcos Gonçalves e de Fausto Cestari está concentrada no voto qualitativo do Grande ABC. Eles esperam ser lembrados nas urnas por eleitores que saibam valorizar a representação parlamentar no Estado e em Brasília. Marcos Gonçalves já teve experiência da distância que separa prestígio de votos. Há duas legislaturas conseguiu pouco mais de cinco mil votos a deputado federal. Entre aquelas urnas e as próximas, Marcos Gonçalves expandiu imagem além das reduzidas fronteiras em defesa dos portadores de deficiência. Presidente da Avape (Associação para Valorização e Promoção de Excepcionais), modelar entidade formada no início dos anos 1980 na Volkswagen, em São Bernardo, Marcos Gonçalves deixou recentemente o comando do Fórum da Cidadania. Ali, exercitou todo o ímpeto de liderança. Mais que dobrou o número de entidades associadas e imprimiu ritmo todo próprio de quem parece correr contra o tempo.
Fausto Cestari, uma das poucas lideranças industriais da região, tem perfil mais ameno. Usa as palavras com mais comedimento, é menos enfático na forma de se expressar mas costuma alinhavar as deliberações com absoluta discrição. Foi ele quem conseguiu sensibilizar o então secretário estadual Emerson Kapaz para a construção da Câmara Regional do Grande ABC, uma formulação que reúne administração pública, agentes sociais, empresariais e sindicais. Cestari sabe que a classe que representa é muito reduzida, atomizada e desinteressada demais para levá-lo à Assembléia Legislativa. Por isso conta com empreendedores de outros setores, como comércio e serviços, profissionais liberais e lideranças sociais representadas no Fórum da Cidadania capazes de esparramar o conceito de equilíbrio e dedicação que cultivou à frente da entidade também durante uma gestão como coordenador-geral.
Imagem vinculada
Nem Fausto Cestari nem Marcos Gonçalves se identificam explicitamente como candidatos do Fórum da Cidadania. Oficialmente não o são, porque a entidade não se mete em política partidária, tamanha é a diversidade de representação. Entretanto, deixar de vincular a imagem de ambos ao Fórum teria o mesmo efeito hipócrita de apagar Fernando Henrique Cardoso do Plano Real.
Fausto Cestari e Marcos Gonçalves apostam nas qualidades próprias e nas falhas da concorrência que disputará os votos no Grande ABC. "Se nossa representação política fosse competente, não teríamos tido espaços como representantes da sociedade civil" --afirma Cestari. "O eleitor geralmente não sabe em quem votar para deputado, porque a representação política deixa muito a desejar" -- completa Gonçalves. Fausto Cestari espera estar contribuindo para mudar o conceito de político no Brasil: "Nos Estados Unidos, boa parte dos políticos é formada por quem tem retidão e desempenho profissional, por gente que se sente honrada de se colocar na política, enquanto no Brasil é alternativa profissional. Temos de mudar esse conceito" -- define. "Precisamos diminuir o índice de picaretas nas casas Legislativas, por isso não podemos fugir da responsabilidade de atuar politicamente" -- completa Marcos.
Os dois candidatos do Fórum da Cidadania dizem ter consciência de que correm sérios riscos de perder a corrida pelos votos. "Isso faz parte do jogo eleitoral" -- afirmam em dueto. Só garantem que eventual e esperado triunfo não vai modificá-los. A complexa equação de combinar credibilidade e votos é um desafio a que ambos dizem ter se lançado. Querem fazer política e se eleger de maneira diferente da tradicional. Marcos Gonçalves diz que abomina pichação de muros, postes. Tudo que lembre prática convencional da vida de candidatos. Fausto Cestari fala em fidelidade ideológica à social-democracia.
Tanto um quanto outro reconhecem que a embalagem do Fórum da Cidadania os credencia. Afastados da entidade por causa das eleições, eles sabem que nem todos os representantes do Fórum concordam com suas candidaturas. A pretensão de enquadrar seus representantes numa sólida argamassa apolítica jamais foi discutida a fundo nas plenárias. Até porque seria perda de tempo, já que o exercício de ações institucionais pressupõe impossibilidade de manter-se insensível à ocupação no quadro político-administrativo.
De qualquer modo, o lançamento de Marcos Gonçalves e Fausto Cestari ao pleito de outubro mexeu com o Fórum da Cidadania. O assunto quase tabu de como tratar estatutariamente o envolvimento de seus representantes com a política partidária terá de ser levado a plenária pelo atual coordenador-geral, o arquiteto Sílvio Tadeu Pina. Como proibir candidatura é algo impraticável, espera-se que se definam pontos que possam tornar menos chocante a arremetida eleitoral de seus membros.
Marcos Gonçalves e Fausto Cestari provocaram cisão no conceito informal de que o Fórum da Cidadania permaneceria simplesmente como instrumento de animação social do Grande ABC. Eles resolveram se candidatar a operações legislativas formais depois de contribuírem fortemente, individual e coletivamente, como agentes sociais de transformação. Outros representantes do Fórum da Cidadania seguirão o mesmo caminho em próximos pleitos e a melhor maneira de resolver a questão é esmiuçá-la sem preconceito. A convivência entre cidadania e política partidária não pode mais ser protelada pelo Fórum, sob pena de revelações sociais como Fausto Cestari e Marcos Gonçalves se sentirem constrangidas em falar em nome da entidade, como se, em vez de beneméritos, fossem oportunistas.
Soluções regionais
Marcos Gonçalves sabe como poucos que varias demandas do Grande ABC emperram porque extrapolam a vontade das forças locais. No Fórum da Cidadania e na Câmara Regional percebeu que dependem muitas vezes de favores políticos do Estado ou de recursos financeiros federais. Ciente disso, acentuou em sua plataforma macrotemas que passam por esferas superiores e que, se aprovados, resolverão um bocado dos microproblemas regionais. É o caso da agilização da reforma tributária, parada no Congresso. "Precisamos racionalizar a estrutura de impostos no País, desonerando as empresas para que diminuam os custos, tenham preços competitivos e aumentem seus mercados. Além disso, é preciso equilíbrio das contas públicas, com a redução da dívida interna de R$ 300 bilhões sobre a atividade econômica" -- sublinha.
A legislação sindical é igualmente uma muralha à competitividade das empresas, segundo Marcos Gonçalves. Seu objetivo é incentivar a flexibilidade da jornada de trabalho com a mesma modelagem aplicada pelas montadoras de veículos, ou seja, um banco de horas que acomodasse a gangorra dos altos e baixos das vendas com mais ou menos horas trabalhadas nesses períodos. Proteção à indústria nacional contra o que considera concorrência desleal também é uma das preocupações do candidato. Marcos Gonçalves entende que setores estratégicos ou vulneráveis devem desfrutar de maiores alíquotas de importação e cita exemplos dos têxteis e calçados.
Em âmbito regional, Marcos afina os objetivos com os de Fausto Cestari e ressalta a importância da comunidade acadêmica para o desenvolvimento local. Cestari reclama da falta de entrosamento do Terceiro Grau em formar mão-de-obra voltada às necessidades da região e participar do planejamento regional, reforçado por Marcos na questão da tecnologia e pesquisa. Marcos Gonçalves defende a implementação do pólo tecnológico no Grande ABC e elege as faculdades como principal fio condutor de capacitação das empresas nessa área.
O candidato também coloca na rede de ações para o fortalecimento do Grande ABC a criação do Banco Regional de Desenvolvimento Social, a instalação de um observatório de situações de emprego para desenvolver programas de empregabilidade e melhores mecanismos de compensação financeira para Municípios situados em áreas de mananciais.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!