O Fórum da Cidadania morreu. Salve o novo Fórum da Cidadania! Não há exagero algum na saudação. Fechou para balanço a entidade lançada em 1994 a reboque da campanha Vote no Grande ABC e que provocou série de mudanças institucionais na região. A constatação de que o Fórum da Cidadania vivia estado quase terminal, com velório programado, levou algumas das antigas lideranças do movimento a reaparecerem no cenário e se juntarem aos poucos, mas abnegados, frequentadores de assembléias cada vez menos importantes.
O resultado disso é que resolveram recuperar o doente com cirurgia radical. Se o tom for mesmo de recomeço, e não de preservar paradigmas que se esfacelaram como a própria integração do Grande ABC nos últimos três anos, estará decretada a morte do Fórum da Cidadania nos moldes que se conhece e ressurgirá outro Fórum, remoçado e atualizado.
O Fórum da Cidadania virou espécie de fantasma. Ao ingressar no oitavo ano de atividades, não desperta o menor respeito nos assuntos mais candentes e foi abandonado pelas representações institucionais de maior brilho. Depois de muito incomodar os administradores públicos, o organismo entrou em parafuso com idiossincrasias, privilégios, panelinhas, omissões, cooptações e outras heranças compulsórias de quem não soube diagnosticar o momento certo de aparar as arestas.
A cronologia de debacle do Fórum da Cidadania é case de como jogar fora a maior oportunidade que o Grande ABC já teve para equilibrar o jogo de representatividade institucional entre a sociedade e o governo -- entenda-se, os administradores e legisladores públicos. O Fórum caiu na armadilha de embevecer-se com as próprias plumas de pavão. Quem achar que a entidade teria sido vítima de golpistas da cidadania, como se expressou durante a assembléia realizada no final do mês no Sesi de Santo André o coordenador-geral Clodoaldo de Lima Leite, da missa não conhece um terço.
Basta desfilar algumas perguntas aos salvadores de última hora da honra do Fórum para constatar-se que a entidade que fez o Consórcio de Prefeitos ressuscitar em 1994, que fez emergir a Câmara Regional em 1996 e que fez criar a Agência de Desenvolvimento Econômico em 1997 não passa de assombração que vive de personagens mais simples, quase anônimos, de associados que raramente aparecem na mídia. Onde estava o Fórum da Cidadania...
Quando os pequenos negócios passaram a ser torpedeados pela invasão dos grandes conglomerados comerciais?
Quando o Consórcio de Prefeitos voltou a produzir mais planos que ações?
Quando a Câmara Regional foi simplesmente abandonada pelo governo do Estado e seus secretários?
Quando a integração regional foi para o ralo do individualismo?
Quando a Agência de Desenvolvimento Econômico contratou um pesquisador para produzir fantasias estatísticas e interpretações ufanistas?
Quando se confirmou através de dados oficiais de empresas especializadas que o Grande ABC industrial está à venda, tão imenso é o estoque de galpões e terrenos prontos para encontrar improváveis investidores?
Quando a criminalidade manteve ascensão insuperável que teve no assassinato do prefeito Celso Daniel apenas mais um lance, embora o mais vistoso de todos?
Quando as prefeituras resolveram aumentar a carga de impostos municipais, principalmente os relacionados a imóveis, caso do IPTU e ITBI?
Quando as prefeituras adotaram radares para humanizar o trânsito mas se excederam em armadilhas arrecadatórias?
O Fórum da Cidadania que morreu no encontro do Sesi provavelmente dará lugar a um novo Fórum da Cidadania, que deverá ligar-se para valer nas grandes questões regionais.
Se não for assim -- e essas mudanças e ações estruturais não frutificaram na primeira fase da entidade na dimensão desejada -- seria melhor providenciar o enterro em vez de desviar a atenção contra quem não se conforma com tantos descuidos.
Total de 1097 matérias | Página 1
21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!