Repito o título sem pestanejar: alguém resolveu colocar freio no entusiasmo ingênuo do Polo. O polo em questão é o Polo Tecnológico em fase de pré-credenciamento pelo governo do Estado para fortalecer a economia do Grande ABC. Sabem quem foi que derramou um balde de água fria de comedimento na fervura do caldeirão de triunfalismo regional preparado por gente que pensa que vai continuar passando por cima da racionalidade? Nada mais, nada menos que Valter Moura, vice-presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico e há duas décadas presidente da Associação Comercial e Industrial de São Bernardo. Um alvo de minhas críticas.
Como não sou injusto, louvo Valter Moura pelas declarações na edição de hoje do Diário do Grande ABC. Ele disse o que este jornalista já registrou em vários artigos arquivados neste endereço eletrônico. A diferença é que quando Valter Moura diz o que disse, sendo ele dirigente da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC, o peso interno é mais relevante. Interno significa o âmago da corporação da qual faz parte.
É uma forma oficial de traçar uma linha de moderação ao deslumbramento costumeiro dos mais iludidos ou dos mais abusados. E também uma prova provada de que este jornalista não é nenhum imbecil juramentado ao defender equilíbrio entre sensatez e confiança quando o assunto é a economia do Grande ABC.
Sei lá se o bom senso e a moderação de Valter Moura são filhotes de racionalidade decorrente do incômodo com as críticas deste jornalista, sintetizadas nos questionamentos de uma “Entrevista Indesejada” à qual o dirigente insiste em não responder.
Pouco me interessa, de fato, as razões que levaram Valter Moura a botar um freio no discurso cor de rosa que destilou ao longo dos anos quando as variáveis temáticas de regionalidade se lhe eram apresentadas por alguém da mídia ou em palestras.
Se Valter Moura está mais ponderado por conta de eventuais novas cutucadas deste jornalista, me sentirei satisfeito. Se não for o caso, também vou comemorar.
O fato que interessa mesmo é que as declarações do dirigente empresarial e da Agência de Desenvolvimento Econômico ao Diário do Grande ABC de hoje, são um bálsamo.
Pena que a intervenção de Valter Moura não tenha sido mais bem aproveitada e mais bem editada. O material deveria ter sido alçado ao título e à abertura da matéria, conciliando a costura com a informação do pedido de protocolo de credenciamento. O que se pode fazer se o jornal insiste em ultrapassada política editorial de engajamento acrítico a um triunfalismo atávico?
Quem sabe o Grande ABC resolva ir à luta pelo naco que há muito lhe compete na disputa por um Polo Tecnológico, mas também por tantas outras metas, descartando-se a idiotice de julgar-se todo-poderoso só porque aqui aportou a indústria automotiva brasileira, nos anos 1950?
Somos, nesse ponto, uma réplica dos ingleses no futebol, escravos da tola ideia de que, só porque inventaram aquele esporte, acham-se legítimos favoritos em todas as Copas do Mundo já disputadas e a disputar — como bem escrevem os autores do imperdível livro “Soccernomics”, uma de minhas leituras de cabeceira nestes últimos dias. Tanto quanto “A bola não entra por acaso”, de um ex-dirigente do Barcelona. Obras-primas da economia do futebol que contribuem à formação de conceitos que ultrapassam os gramados.
Mas, voltando ao que interessa, leiam alguns trechos da matéria do Diário do Grande ABC, trechos nos quais Valter Moura aparece como protagonista e que, lidos logo de manhã, melhoraram meu dia:
Para o vice-presidente da Agência (de Desenvolvimento Econômico) Valter Moura, essa não é uma obra de dois ou três anos, mas de uma década. “Embora todos os envolvidos estejam de acordo com o projeto, é preciso que haja vontade política para implementá-lo. E não pode prevalecer o partidarismo, pois esse período de implantação do Polo ultrapassa a gestão de todos os atuais prefeitos”. (…). Moura acredita que em 2020 o Polo estará implementado. “A competição hoje é muito acirrada e a tecnologia muda a cada seis meses. Não podemos perder o bonde da história. Todas as cidades que querem se destacar têm um parque tecnológico”, disse o dirigente.
Já cansei de escrever e de dizer que sou Grande ABC Futebol Clube e, como tal, a todos que vestirem a camisa deste território, jamais negarei o que dispor de espaço jornalístico.
Por isso não há o que se surpreender com a citação a Valter Moura neste texto. Gostaria sinceramente de torná-lo protagonista persistente de minhas investidas jornalísticas, porque assim me sentiria realizado.
Valter Moura e tantos outros não podem mais protelar medidas que redirecionem a pauta regional. É preciso acabar com esse jogo imbecil de esconde-esconde de nossas deficiências econômicas e sociais, como se a medida resolvesse os problemas.
Já estamos cansados de saber que manchetes manipuladas por interesses localizados, pessoais, grupais e corporativos não encontram ressonância prática. Muito pelo contrário: só atravancam a cristalização de um ambiente de reconstrução do tecido econômico do Grande ABC, cada vez mais dependente da doença holandesa representada pelo setor automotivo.
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17/09/2024 Sorocaba lidera RCI, São Caetano é ultima